O Estado de São Paulo, n. 44964, 25/11/2016. Política, p.A6

 

Redes e ONG atacam iniciativa

Mateus Coutinho, Julia Affonso e Jamil Chade

 

 

Reagiram Transparência critica e tema é trending topic. 

Enquanto a Câmara dos Deputados discutia incluir a polêmica proposta que pode anistiar o caixa 2 no projeto de dez medidas de combate à corrupção, a hashtag #anistiacaixa2- nao chegou a ser o assunto mais falado no Twitter no Brasil na manhã de ontem.

Milhares de pessoas compartilharam na rede social críticas a deputados, sobretudo ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Anteontem, a comissão especial que analisou as medidas aprovou uma proposta que não incluía a anistia à prática do caixa 2 nas campanhas eleitorais e a previsão de punir magistrados e integrantes do Ministério Público Federal por crime de responsabilidade.

Logo após a aprovação do texto, contudo, começaram as articulações dos deputados para a votação do projeto no plenário.

Toda a movimentação parlamentar fez a advogada e professora de Direito Penal da USP Janaina Paschoal postar nas redes sociais mensagens de indignação com a possibilidade de a Câmara aprovar uma proposta de perdão a crimes de políticos.

“A cláusula de anistia é um acinte ao que o povo buscou nas ruas”, escreveu uma das autoras do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em seu Twitter. Para ela, “aprovar a anistia é quebra de decoro” dos parlamentares e, mesmo que a proposta venha a ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal no futuro, os deputados que vierem a se beneficiar da anistia não poderão ser punidos. “Se acusados tiverem sua punibilidade extinta com base na anistia, posterior decisão do STF não retroage”, afirmou a professora.

A repercussão do assunto na Câmara alcançou também a principal ONG de combate à corrupção, a Transparência Internacional, que condenou o que chama de “tentativa de anistia a políticos corruptos no Brasil”.

A entidade publicou um comunicado de imprensa em sua sede, em Berlim. “Não é uma surpresa que o povo brasileiro não confie em seus políticos”, criticou o presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, para quem “o povo ficará indignado quando ver que políticos corruptos não serão punidos”. “O fato de que isso está sendo realizado em meio a uma forte lei anticorrupção é um absurdo”, disse. “Pedimos que o Congresso aprove o pacote anticorrupção sem a anistia e condenamos esse subterfúgio.”