O Estado de São Paulo, n. 44968, 29/11/2016. Metrópole, p. A14

Meta de clima exigirá taxar o carbono

 
Giovana Girardi

 

A crise econômica, aliada a políticas brasileiras existentes e turbinadas com ações de baixo carbono, deixa o País em um caminho relativamente fácil para cumprir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa até 2025.

Mas, para 2030, o País precisará contar com algum plano de colocar um preço sobre o carbono emitido – ou ficará com emissões bem superiores às metas apresentadas para o Acordo de Paris.

Os dados fazem parte do estudo “Opções de Mitigação”, encomendado pelo Ministério da Ciência e lançado no fim da Conferência do Clima em Marrakesh, há dez dias. O trabalho, que contou com mais de 90 pesquisadores de diversas instituições, traçou diversos cenários de ações que o Brasil pode adotar para reduzir emissões, considerando a situação econômica atual e as futuras.

De acordo com Régis Rathmann, que coordenou o trabalho no ministério, a mensagem principal é de que se o País seguir somente as políticas de mitigação já existentes – o chamado “cenário de referência” –, como Código Florestal, Plano Nacional de Mudanças Climáticas, Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), em 2050 a taxa de emissões estará 50% maior.

Para 2025, ano em que o Brasil se comprometeu a emitir 1,3 gigatonelada de CO2 (valor 37% menor do que emitido em 2005), as análises mostram que a crise econômica, que diminui a atividade industrial, já nos coloca nesse caminho.

Mas é preciso também cumprir todas as leis e ir um pouco além (o chamado cenário de baixo carbono), como aumentar áreas de restauração florestal, ter metas mais ambiciosas de redução de desmatamento não só na Amazônia, mas também no Cerrado e na Caatinga, e investir em eficiência energética.

Raoni Rajão, pesquisador da Universidade Federal de Minas, aponta que, só no cenário de referência, a agricultura terá um aumento de 23% de emissões até 2030. Com esforços extras de intensificação de pecuária, por exemplo, o aumento ficará em 7%.

“Parece um pequeno esforço, mas muitas dessas medidas, que ao longo de sua vida útil trazem um ganho econômico, ainda enfrentam barreiras que precisam ser rompidas. Não há créditos para que o empreendedor adquira a tecnologia de baixo carbono”, diz Rathmann.

 

2030. Já a partir de 2030 (meta de emissão de 1,2 gigatoneldas de CO2), a situação fica ainda mais complexa, quando a expectativa é de que haja crescimento econômico e aumento da demanda por energia. “No cenário de referência, quem começa a mostrar a cara é o carvão”, diz Roberto Schaeffer, da Coppe/ UFRJ, referindo-se ao fato de que a energia de termoelétricas é mais barata. A saída é colocar um preço, uma taxa sobre o carbono. “O carvão é barato porque ninguém ‘precifica’ o impacto ambiental que ele tem, mas as alternativas renováveis só vão valer a pena quando isso for considerado.” Pelos cálculos, um preço de US$ 10 a tonelada de CO2 emitido poderia dobrar a redução de emissões.