O desmatamento na Amazônia disparou no último ano, chegando a 7.989 km2, o equivalente a mais de cinco vezes a área do Município de São Paulo. Trata-se do mais alto valor desde 2008, ano em que o combate ao problema se tornou mais efetivo e as taxas anuais de perda da floresta tiveram intensificação na queda.
É a primeira vez desde 2010 que a destruição do bioma supera os 7 mil km2.
Os dados do Prodes, sistema de monitoramento por satélite que fornece o balanço anual do desmatamento na região, foram divulgados ontem no fim da tarde pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O valor observado entre agosto do ano passado e julho deste ano é 29% maior do que o do período anterior, que tinha registrado perda de 6.207 km2.
Ambientalistas que trabalham na região já vinham alertando e o governo federal também trabalhava havia alguns meses com a expectativa de que a perda da floresta iria subir além da média que tinha se estabelecido nos últimos anos, de menos de 6 mil km2. Porém, o número surpreendeu. Depois de 2008, que registrou a taxa de 12.911 km2, o desmatamento teve queda de 43% no ano seguinte e continuou caindo até chegar, em 2012, ao menor nível desde o início dos registros: 4.571 km2.
Pela manhã, em evento em Brasília para apresentar medidas contra o desmate, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, tinha antecipado o aumento entre os últimos meses de governo Dilma Rousseff e o início da gestão Michel Temer, mas sem citar números.
Causas. “Isso se deu por várias razões, mas estamos retomando o controle do desmatamento e temos certeza de que essa tendência será revertida”, afirmou ele. “Embora seja uma herança, não vamos pelo caminho fácil de dizer que a responsabilidade é da gestão anterior.
Temos de nos ater aos pontos fundamentais e dizer que os Estados também têm responsabilidade”, disse.
O coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, Márcio Astrini, citou entre as causas do aumento do desmatamento ações tomadas pelo governo federal entre 2012 e 2015, como a anistia de multas por desmate ilegal, o abandono de áreas protegidas – unidades de conservação e terras indígenas – e o anúncio do plano de zerar o desmatamento ilegal só em 2030. “A gente vê a floresta sendo morta a prazo”, disse.
Sarney Filho anunciou que vai tornar públicos os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento que tem como objetivo conter o desmatamento em áreas privadas. Disse também que dará concessões para a exploração da Floresta Nacional do Caxiuanã, nos municípios paraenses de Portel e Melgaço – uma área de 176 mil hectares.
“A gente esperava algo acima de 7 mil km2, mas não próximo de 8 mil. Esse número assusta”, disse Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
“Esse aumento coloca em risco a imagem do Brasil lá fora de ser capaz de controlar o desmatamento.” A queda de cerca de 82% do desmatamento observada entre 2004 e 2014 vinha sendo usada pelo Brasil no exterior como um exemplo de sucesso, de como um país em desenvolvimento consegue conter as emissões de gases de efeito estufa. Historicamente, o desmatamento, que libera CO2 quando as árvores são queimadas e o solo é revolvido, foi a maior contribuição nacional ao aquecimento global.
O País se comprometeu, pelo Acordo de Paris – esforço global para conter o problema – a reduzir ainda mais as emissões nos próximos anos, tendo como estratégia justamente uma maior redução do desmatamento. “Só que esse aumento agora indica que o País terá dificuldade de avançar no cumprimento de seus compromisso internacionais”, afirmou Moutinho.
AVANÇO DA MOTOSSERRA
● Destruição da floresta amazônica cresceu 29% entre agosto de 2015 e julho de 2016, em relação ao período anterior