Daniela Amorim
A crise no mercado de trabalho já resultou em quase 5,5 milhões de desempregados a mais no País, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população desempregada alcançou patamar recorde de 12,042 milhões de pessoas no trimestre encerrado em outubro, 20 mil a mais do que em setembro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
A taxa de desemprego manteve- se no pico de 11,8% ao ano.
Mas, contrariando a tendência sazonal de geração de vagas no fim do ano, foram cortados 604 mil postos de trabalho entre julho e outubro.
“Essa perda de quase 600 mil postos de trabalho quase no final do ano é o quadro mais alarmante da Pnad Contínua. O desenho sazonal apontava para outra direção”, avaliou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
“Em função da desconfiguração da sazonalidade, apostar em redução na taxa de desocupação no último trimestre fica mais complicado”, reconheceu Azeredo.
Em outubro, a taxa de desemprego só não aumentou porque houve migração de quem perdeu o emprego para a inatividade, sob indícios de desalento. O fenômeno ocorre quando as pessoas deixam de procurar emprego por acreditarem que não conseguirão uma vaga.
“A desocupação estável dá uma primeira leitura favorável, mas a ocupação cai e a população fora da força de trabalho aumenta.
As pessoas perderam emprego e não estão procurando trabalho. São pessoas que podem estar desestimuladas a procurar trabalho”, ponderou Azeredo, lembrando que o desalento é um fenômeno característico de períodos de crise.
Na avaliação do economistachefe e estrategista da Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Eduardo Nogueira Gomes, a taxa de desemprego deve atingir o ápice apenas no final do segundo trimestre de 2017, para só então começar a cair.
“Infelizmente não estamos em um ponto de inflexão”, comentou Gomes.
Se a piora no emprego notada até aqui veio do setor privado, a deterioração no mercado de trabalho nos próximos meses deve ser puxada por ajustes no setor público, prevê o economista e sócio da MacroSector Fabio Silveira.
Ele espera elevação na taxa de desemprego até ao menos 12,5% em 2017, impulsionada pela demissão de funcionários nas diferentes instâncias governamentais para adequar o quadro de trabalhadores à queda na receita.
Inatividade. “A crise do setor privado já gerou desemprego e ainda destruiu a receita pública. Agora isso vai gerar desemprego no setor público em escala que vai desde a União até os municípios”, disse Silveira, lembrando que muitos prefeitos recém-eleitos já anunciaram enxugamento da máquina pública municipal com cortes de cargos.
Desde que o emprego ainda mostrava vigor, no trimestre encerrado em outubro de 2013, até o trimestre encerrado em outubro de 2016, a fila do desemprego aumentou em 5,472 milhões de pessoas, calculou o pesquisador do IBGE. / COLABORARAM ÁLVARO CAMPOS E GUSTAVO PORTO
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A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) apurou que quem permaneceu empregado, viu o salário encolher. A renda média do trabalhador ocupado caiu 1,3% no período de um ano, mas cresceu 0,9% no trimestre encerrado em outubro ante o trimestre anterior, encerrado em julho: passou de R$ 2.006 para R$ 2.025. No entanto, o movimento não é favorável. Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, a renda média aumentou por causa do corte de vagas com salários mais baixos.
“Não temos aumento de dissídio algum, não temos aumento de salário mínimo. A conclusão que se chega é que as pessoas que perderam emprego com carteira assinada foram as de menores rendimentos, consequentemente, isso faz a média da renda subir”, disse Azeredo.
Houve redução de 303 mil postos de trabalho com carteira assinada no setor privado entre julho e outubro.
Média mais alta. A taxa média de desocupação este ano e em 2017 deve ficar bem acima da marca de 8,5% de 2015. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que as expectativas preliminares de 23 instituições para o nível de desemprego médio em 2016 estão entre 11,20% e 12,50%, com mediana de 11,30%. Para 2017, as estimativas vão de 11,10% a 13,70%, o que gerou mediana de 12,50%.
Diante da demora da atividade econômica em iniciar um processo de retomada, o mercado de trabalho tende a tardar para começar uma fase de melhora, dada a defasagem do setor em acompanhar os movimentos gerais da economia.
Com isso, os analistas acreditam que o desemprego seguirá em aceleração pelo menos na primeira parte de 2017.
Conforme os economistas, nem mesmo os períodos considerados propícios a contratações devem ajudar a limitar avanço do desemprego. Isso porque muitas empresas, sem caixa e com estoques elevados, estão contratando menos ou até mesmo deixando de empregar trabalhadores para atender épocas de maior demanda como o fim do ano. / D.A, COLABOROU MARIA REGINA SILVA
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No primeiro dia de reunião da diretoria do Banco Central para decidir o novo patamar dos juros básicos no Brasil, em 14% ao ano, um projeto de lei que altera as atribuições da instituição foi aprovado ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. De autoria do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o projeto estabelece que o BC deverá, além de controlar a inflação, estimular o crescimento e a geração de empregos.
A proposta é controversa e foi criticada por economistas ouvidos pelo Estado.
Lindbergh diz que instituições de outros países, como o Federal Reserve (o BC dos Estados Unidos) e o Banco Central da Austrália, têm como missão manter empregos, ao mesmo tempo em que precisam “assegurar o poder de compra da moeda” – em outras palavras, controlar a inflação. No Brasil, o mandato do Banco Central está voltado apenas para esse controle de preços e para a “manutenção de um sistema financeiro sólido e eficiente”.
A aprovação na CAE é o primeiro passo de uma longa jornada do projeto, que precisa passar pelo plenário do Senado e, se aprovado, pela Câmara. Por fim, o texto ainda precisaria da sanção presidencial.
O BC não comenta a proposta.
No entanto, o presidente da instituição, o economista Ilan Goldfajn, defende que o BC é “solução e não causa da recessão”.
A leitura é de que o controle da inflação, por meio da Selic, vai contribuir para a retomada da confiança de empresas e famílias e, consequentemente, para a retomada do crescimento.
Lindbergh pretende se reunir com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para solicitar que a matéria seja apreciada ainda em 2016.
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o economista Alexandre Schwartsman acredita que o projeto de lei não vai prosperar no Congresso. “De maneira geral, é uma má ideia.
O mandato do Fed é pleno emprego e inflação baixa. Mas ele não dá nem numérico para o que é pleno emprego, nem numérico para o que é a inflação. E de qualquer forma, tem sido reinterpretado essencialmente como um mandato de metas de inflação”, afirmou.