O Estado de São Paulo, n. 44947, 08/11/2016. Política, p. A4

Maia sugere que poderá tentar reeleição na Câmara

Congresso. Presidente da Casa diz que vai ‘participar de alguma forma’ da disputa em fevereiro de 2017; com sinal de apoio do PSDB, ele comunicou sua disposição ao Planalto

Por: Igor Gadelha

 

Após receber indicações de apoio do Palácio do Planalto e do PSDB para disputar mais um mandato no comando da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sugeriu ontem que poderá tentar a reeleição na votação para a definição da nova Mesa Diretora, em fevereiro de 2017.

Ele disse que estuda a “melhor forma possível” de participar da eleição parlamentar. Embora não tenha dado detalhes, foi a primeira vez que Maia falou sobre o tema abertamente.

Até então, o deputado do DEM desconversava ou evitava responder a perguntas relacionadas à disputa interna na Casa. “Vou participar de alguma forma. Vamos ver qual vai ser a melhor forma possível”, disse Maia em rápida entrevista.

A declaração ocorre em meio às articulações de bastidores do atual presidente da Casa para tentar viabilizar sua reeleição. Ele pretende apresentar entre o fim deste mês e o início de dezembro uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para saber se um presidente eleito para “mandato-tampão”, como ele, pode tentar se reeleger.

Pelo entendimento vigente, um presidente da Casa só pode disputar reeleição quando há uma eleição de deputado no meio de duas disputas para Mesa Diretora da Câmara. Interlocutores de Maia argumentam, porém, que seu caso é diferente, pois ele foi eleito em julho para um mandato de sete meses, após o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciar ao comando da Casa.

Nessa articulação, Maia conta com apoio do PSDB, que já admite publicamente apoiar a reeleição dele. Como mostrou o Estado no sábado, o apoio é defendido por aliados dos três principais caciques do partido: o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional da sigla; o ministro das Relações Exteriores, José Serra; e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Alckmin, durante evento na capital paulista, defendeu a recondução de Maia como “uma solução natural” para a Câmara.

Segundo aliados do governador, como não tem condições de emplacar um aliado, é melhor para Alckmin ter Maia na presidência da Casa do que um candidato do partido ligado a Aécio ou Serra.

Os três tucanos disputam internamente pela indicação do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2018.

 

Oposições. Maia já comunicou a Aécio o interesse pela reeleição ao comando da Câmara. Na conversa, argumentou que tem como reunir mais apoio em torno de seu nome do que um candidato tucano.

Pelos cálculos de Maia, além dos cerca de 100 votos da antiga oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB), ele conseguiria reunir outros 100 da atual oposição (PT, PCdoB e PDT), que o apoiou na primeira disputa.

O presidente da Câmara também ponderou na conversa que um tucano pode não ter votos de partidos nanicos, que estão irritados com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria de Aécio que estabelece o fim das coligações em eleições proporcionais.

Pelas contas de aliados de Maia, o atual presidente da Casa pode conseguir até 80 votos entre os partidos pequenos.

 

Planalto. Apesar do discurso oficial de que não vai interferir na disputa na Câmara, o presidente Michel Temer atuará nos bastidores para eleger ali um nome de sua confiança. Nesse momento de incertezas no cenário político, ter um aliado no comando da Casa significa impedir qualquer eventual processo de impeachment de prosperar.

A articulação, até agora, é para reconduzir Maia, que já comunicou a Temer seu interesse em tentar se reeleger.

O presidente da República também avalia que é melhor segurar um pouco a campanha pela sucessão na Câmara e no Senado.O receio é de que uma disputa agora atrapalhe a votação, no Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos públicos por 20 anos. A eleição que vai renovar o comando das duas Casas está marcada para 2 de fevereiro./ COLABOROU VERA ROSA

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Temer anuncia que vai aumentar verba da Cultura

Por: Carla Araújo

 

O presidente Michel Temer anunciou ontem, em evento no Planalto, que vai elevar o orçamento do Ministério da Cultura, pasta que tem, desde o início de sua gestão, apresentado resistência de servidores ainda ligados à gestão da presidente cassada Dilma Rousseff. “Todos estamos determinados a construir uma política cultural muito sólida”, disse. “Para tanto, aumentamos em mais de 40% o orçamento destinado ao Ministério da Cultura em 2017.” Segundo o ministro da Cultura, Marcelo Calero, em entrevista recente ao Estado, o orçamento da pasta é da ordem de R$ 430 milhões. Temer atribuiu a elevação, mesmo em um momento de corte de gastos, ao bom trabalho de Calero. / CARLA ARAÚJO

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PT tenta ‘concertación’ para evitar debandada

Palavra em espanhol foi usada por Lula em ato com bancada da sigla na Câmara; até 30 deputados poderiam sair em bloco

Por: Ricardo Galhardo / Daniel Weterman

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs ontem, à bancada do PT na Câmara dos Deputados, um amplo acordo entre todas as forças políticas do partido para evitar uma debandada de parlamentares da sigla. Segundo participantes do encontro, que reuniu 48 dos 54 deputados petistas, Lula usou uma palavra em espanhol “concertación” (concertação) para se referir à proposta.

“A ideia é fazer uma concertação.

Lula está liderando e deu o tom. Com isso ele breca o movimento de debandada que é uma especulação permanente”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), na saída da reunião.

Com o acordo, Lula espera contemplar a parte da bancada que integra o Muda PT, grupo que reúne as cinco principais correntes de esquerda do partido.

O grupo reúne cerca de 30 deputados e é alvo de boatos sobre uma possível saída em bloco do partido, caso não haja uma profunda reformulação no PT.

Segundo cálculo de parlamentares, caso Lula obtenha êxito na articulação, a debandada deve se restringir a cinco deputados que têm sinalizado que devem deixar o partido por cálculo político, por não verem chances de manter seus mandatos no PT.

 

Presidência. A concertação proposta por Lula prevê a escolha de um nome de consenso para substituir Rui Falcão na presidência do PT, a indicação dos melhores quadros de cada corrente – de preferência ex-ministros, ex-governadores e ex-prefeitos – para formar a nova direção, a criação de mecanismos de transparência na gestão do partido e a realização do 6.º Congresso Nacional da sigla, com plenos poderes para eleger dirigentes e fazer uma reformulação profunda do PT até março do ano que vem – anteriormente a ideia era fazer o Congresso entre maio e junho.

A proposta de que a nova direção deve ser eleita por delegados no 6.º Congresso, e não por meio de um Processo de Eleições Diretas (PED), teve apoio quase unânime da bancada e também de Lula.

A forma de escolha da nova cúpula partidária é o principal ponto de divergência entre o Muda PT e a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) e ameaça rachar o partido. Ao apoiar a tese do Muda PT, Lula tenta esvaziar o discurso para uma possível saída em bloco do grupo.

Falcão negou a existência de um movimento de debandada.

“Não vi nenhum deputado que tenha manifestado a intenção de sair do PT”, disse o presidente nacional da legenda.

 

Dilma

O presidente do PT, Rui Falcão, disse que a presidente da República cassada Dilma Rousseff vai ser indicada para presidir o conselho da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido.