Tratamento intensivo

Míriam Leitão

08/11/2016

 

 

O paciente continua na UTI, mas foi transferido de um hospital público para o Albert Einstein. Assim o economista-chefe da Verde Asset, Daniel Leichsenring, que gere o Verde, um dos principais fundos de investimento do país, resume sua visão sobre o atual momento da economia. O ajuste está surpreendendo, mas a recuperação decepciona. A crise dos estados vai se tornar cada vez mais um problema da União.

A Verde Asset Management é referência entre investidores por ter alta rentabilidade em suas carteiras a partir de análises de longo prazo. Em pouco mais de uma hora de entrevista na sede da gestora, em São Paulo, Leichsenring expôs o tamanho do desafio que o país terá que enfrentar nos próximos anos: um extenso período de baixo crescimento do PIB, com aumento muito forte da dívida pública.

— Governos, famílias e empresas estão cortando gasto ao mesmo tempo. Os países que passaram por crises fiscais, como os da Europa e os EUA, também sofreram com uma recuperação lenta. Aqui, ainda temos juros elevados. Lá, as taxas reais foram negativas — afirmou.

A aprovação do teto de gastos na Câmara e o resultado das votações municipais surpreenderam. Já a crise fiscal dos estados e municípios ainda está longe da solução. Eles estão sem caixa, não podem emitir dívidas para financiar despesas, mas são responsáveis pela prestação de serviços essenciais à população, como saúde e segurança. Leichsenring avalia que isso vai aumentar a insatisfação do eleitor, o que pode dificultar o apoio ao ajuste em nível federal:

— O Rio é um prenúncio do que pode vir por aí. Meu receio é que a corda continue apertando, mesmo que a economia estabilize e volte a crescer.

A indústria tem elevada capacidade ociosa e isso desestimula investimentos. O governo corta gastos, e as famílias enfrentam a redução da renda. Um dos poucos impulsos para o PIB pode vir de uma queda mais forte da inflação e dos juros. Mas para isso é preciso manter o tratamento intensivo do ajuste fiscal.

 

Rumo à meta

Se o impulso para a recuperação depende da queda dos juros, o Boletim Focus, ontem, trouxe uma boa notícia. As projeções do mercado para o IPCA de 2017 caíram abaixo de 5% e estão se aproximando do centro da meta de 4,5%. No auge da desconfiança do mercado com o governo Dilma, as estimativas chegaram a 6%, em fevereiro. Essa melhora aumenta as chances de cortes mais fortes da Selic pelo Banco Central.

 

Obras e empregos na Dutra

O governo está próximo de autorizar a ampliação da concessão da CCR Nova Dutra, que vence em 2021. Analistas do UBS ficaram com essa impressão após um evento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ascendino Mendes, presidente da concessionária, conta que tem os recursos e as licenças para iniciar as obras de uma nova pista na subida na Serra das Araras, avaliada em R$ 1,7 bilhão e que pode gerar 5 mil empregos. Com as outras melhorias previstas, o investimento estimado para a rodovia pode chegar a R$ 3,5 bilhões.

EMBALO. As bolsas do mundo subiram com as notícias positivas para Hillary Clinton. O petróleo também reagiu bem, e a Petrobras saltou 7,6%.

EMBARQUE. O país exportou 400,5 mil veículos no ano até outubro, alta de 19,7%. O montante equivale a 23% da produção; há um ano, a relação estava em 15,8%.

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O globo, n. 30409, 08/11/2016. Economia, p. 18.