O Estado de São Paulo, n. 44948, 09/11/2016. Economia, p. B3

Após invasão, servidores públicos organizam novas manifestações

Funcionários marcaram protesto para hoje de manhã na frente da Alerj; Assembleia diz que palácio foi depredado

Por: Fernanda Nunes / Vinícius Neder

 

Servidores públicos estaduais invadiram a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no início da tarde de ontem, em protesto organizado por funcionários da área de segurança contra o pacote de ajuste fiscal anunciado pelo governo fluminense. Durante cerca de duas horas e meia, manifestantes tomaram o plenário, ocuparam a mesa da presidência e as galerias do segundo andar. O gabinete da vice-presidência foi depredado.

A subdiretoria-geral de segurança da Alerj informou que diversas portas do Palácio Tiradentes, sede da casa, foram danificadas.

No plenário, o vidro da mesa da presidência foi quebrado, três armários foram arrombados e forros de cadeiras foram arrancados.

O protesto começou no fim da manhã e fechou a Rua Primeiro de Março, uma das principais vias do centro do Rio, causando engarrafamentos. A invasão ocorreu por volta de 14h20, após momentos de tensão.

A segurança da Alerj pediu reforço do Batalhão de Choque da Polícia Militar para conter os milhares de manifestantes que forçavam a entrada, mas os policiais não reagiram quando os eles invadiram o palácio. Não houve registro de confronto.

Muitos manifestantes eram policiais e havia diálogo entre eles, em algumas situações marcado por abraços.

Discurso. No plenário da Alerj, manifestantes tomaram os microfones para discursar. Muitos sentaram nas cadeiras dos deputados e ficaram em pé nas mesas. Extintores de gás carbônico foram acionados, lançando fumaça na sala. No momento da invasão, havia poucos deputados na casa. O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB) não estava.

Por volta das 17 horas, os manifestantes deixaram o palácio de mãos dadas, cantando o Hino Nacional e aos gritos de “Fora Pezão”.

Novo protesto está marcado para hoje, às 10 horas, em frente à Alerj, organizado pelo Movimento Único dos Servidores Públicos do Estado do Rio (Muspe- RJ). Segundo Ramon Carrera, integrante do movimento e diretor do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário (Sind Justiça-RJ), haverá outro protesto no dia 16. “Foi uma demonstração do que podemos fazer.

Temos força”, disse o inspetor penitenciário Antônio de Jesus.

O presidente da Coligação da Polícia Civil, Fabio Neira, afirmou que a área de segurança pública não tem mais como aceitar qualquer ônus que o Estado proponha. Segundo o diretor do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio, Odonclei Boechat, não há previsão de os policiais iniciarem uma greve.

“Está descartado. O que queremos é evitar a votação do pacote na Alerj, é nosso movimento nesse momento”, disse.

Subtenente do Corpo de Bombeiros, Luiz Souza da Silva afirmou que o pacote do governo “veio como um tiro no peito”.

Há 28 anos na corporação, Silva aguarda a finalização de seu processo de pedido de aposentadoria e contou que, desde que o Estado começou a adiar o pagamento, vem tentando ajustar o orçamento familiar. Uma das saídas foi tirar os filhos do colégio particular e matriculá-los na rede pública. / F.N. e V.N.

 

Proteção

Os deputados Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), Wanderson Nogueira (PSOL), Geraldo Pudim (PMDB) e Zaqueu Teixeira (PDT) se refugiram no departamento médico da Alerj durante a invasão. E só saíram com ajuda de seguranças.

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Pezão diz que invasão é ‘caso de polícia’

Por: Rafael Moraes Moura / Julia Lindner

 

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse ontem que a invasão da Assembleia Legislativa do Estado é um “caso de polícia”.

Pezão afirmou que vai pedir ao secretário de segurança, Roberto Sá, e às polícias Militar e Civil que prendam os invasores e adotem as “medidas mais duras possíveis” contra os manifestantes que ocuparam o edifício.

Ele reforçou que não há um “plano B” para reequilibrar as contas do Estado.

“Isso é caso de polícia, invadir um parlamento nem na ditadura.

Acuar os deputados é lamentável”, disse Pezão, que se reuniu com 15 governadores e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, para tratar da destinação aos cofres estaduais de receitas obtidas com a repatriação.

“Eu pedi ao secretário de Segurança, ao chefe da Polícia Militar e da Polícia Civil que prendam, façam as medidas mais duras possíveis contra essas pessoas que invadiram o Parlamento”, comentou Pezão.

Para o governador do Rio, as medidas propostas pelo governo são “necessárias” para ajudar o Estado a sair da crise. “Estamos cortando na carne, não tem plano B. Estamos mostrando que, se não votarmos e não aprovarmos essas medidas, nós só teremos condições de pagar no ano que vem sete folhas (de pagamento de servidores)”, disse.

Questionado se acreditava na aprovação das medidas, Pezão respondeu: “Acredito que sim. Nós ouvimos os melhores especialistas do País.