O Estado de São Paulo, n. 44948, 09/11/2016. Internacional, p. A15

Brasil tentará se reaproximar dos EUA

Relação entre os dois países sofreu abalo em 2013, quando o site WikiLeaks revelou espionagem americana à Presidência brasileira

Por: Lu Aiko Otta

 

O presidente Michel Temer foi informado ao longo do dia de ontem sobre o andamento das eleições nos Estados Unidos por seu assessor internacional, o embaixador Fred Arruda.

Também chegaram relatos do Ministério das Relações Exteriores e do embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral.

Embora cercada de tensão, a votação nos EUA não mobilizou nenhum esquema especial de acompanhamento por parte do governo brasileiro.

“Nós não estamos entre as prioridades deles”, admitiu um auxiliar do presidente. E, na mão inversa, qualquer resultado da disputa entre democratas e republicanos tem um saldo semelhante para os interesses do Brasil. Findo o processo eleitoral, fica à frente do Brasil uma “pedreira”, que é fortalecer suas relações com os EUA.

Na frente comercial, que é uma prioridade do governo, a tarefa não seria fácil com o ganhador, Donald Trump, nem com Hillary Clinton. Ambos deram declarações que demonstram, em maior ou menor grau, pouca disposição na abertura ao comércio.

Trump foi mais enfático na contrariedade, como a Aliança Trans-Pacífica, correm o risco de não se concretizar.

Mas a relação pode explorar outras áreas. O Brasil gostaria, por exemplo, de contar com a colaboração dos EUA para ajudar a contornar a crise na Venezuela.

No momento, os países da região aguardam a evolução do diálogo intermediado pelo Vaticano no país vizinho para saber qual será o resultado das tentativas de acordos.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, não quis comentar o andamento das eleições americanas.

No mês de maio, logo após ser escolhido para o posto, Serra concedeu uma entrevista ao Estado na qual foi questionado sobre a hipótese da vitória de Trump e respondeu: “Prefiro não acreditar nisso”.

A visão que circula no governo sobre a vitória do magnata, porém, não é tão radical. A avaliação é que as instituições americanas tratarão de colocar limites à ação do republicano.

Essa foi a leitura feita por Sérgio Amaral em agosto, quando ele foi sabatinado no Senado Federal antes de ocupar o posto de embaixador. Na ocasião, ele qualificou as posições fortemente protecionistas de Trump como “neopopulismo”. Mas colocou em dúvida até que ponto elas serão mantidas após as eleições.

As relações diplomáticas entre Brasil e EUA ficaram abaladas em 2013, quando o Wiki- Leaks revelou que a NSA (Agência de Segurança Nacional) grampeou 29 telefones de integrantes do governo brasileiro. A então presidente, Dilma Rousseff, cancelou uma visita que faria àquele país.

O governo Temer dá prioridade a suas relações com Washington.

Não por acaso, Serra colocou na capital americana um diplomata que é um de seus principais conselheiros.