O Estado de São Paulo, n. 44950, 11/11/2016. Economia, p. B3

Petrobrás eleva produção e reduz dívida

 
Fernanda Nunes
Mariana Durão
Vinicius Neder

 

Mesmo com o surpreendente prejuízo de R$ 16,458 bilhões no terceiro trimestre, a Petrobrás apresentou indicadores operacionais, como a geração de caixa, a produção e a redução da dívida, mais positivos.

A geração de caixa foi de R$ 21,603 bilhões, perto da média das estimativas dos analistas ouvidos pela Agência Estado, de R$ 21,492 bilhões.

A produção de petróleo e gás ficou em 2,87 milhões de barris de óleo equivalente por dia, na média do terceiro trimestre, alta de 2,3% em relação ao segundo trimestre e de 2,5% ante o terceiro trimestre de 2015. “Esse foi o melhor trimestre da companhia”, ressaltou a diretora de Exploração e Produção da Petrobrás, Solange Guedes.

O destaque é a produção na camada pré-sal. Sete das oito plataformas do pré-sal da Bacia de Santos estão produzindo na sua máxima capacidade, informou a Petrobrás. Na área, o custo de extração chega a ser inferior a US$ 8 por barril.

 

Campos. Solange informou ainda que o declínio da produção de petróleo na Bacia de Campos está em 6%. No entanto, segundo a executiva, o cenário para a região pode melhorar, com a formação de parcerias que agreguem tecnologia aos projetos.

A estatal também avançou no processo de redução da dívida, embora ela continue muito elevada.

No encerramento do terceiro trimestre, a dívida bruta da petroleira ficou em R$ 398,165 bilhões, 19,2% menor que os R$ 493,023 bilhões do fim do ano passado. A dívida líquida no fim de setembro ficou em R$ 325,563 bilhões, 19% inferior aos R$ 402,3 bilhões apurados em igual período de 2015.

Assim, a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa da empresa caiu de 5,03 vezes no segundo trimestre para 4,07 vezes. Desde 2010, quando a Petrobrás fez uma megacapitalização para tornar viável a exploração do pré-sal, a relação entre dívida líquida e geração de caixa da empresa seguia trajetória ascendente, influenciada principalmente pela tendência de apreciação do dólar em relação ao o real.

Desde o primeiro trimestre deste ano, a tendência deu sinais de arrefecimento, dado o impacto positivo da apreciação do real ante o dólar sobre a dívida contraída pela estatal na moeda norte-americana. A meta da estatal é reduzir esse indicador a 2,5 vezes até 2018.

“Continuamos consistentemente reduzindo o endividamento”, disse o diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, ressaltando que os recursos levantados com o programa de venda de ativos da estatal serão utilizados para antecipar o pagamento da dívida da petroleira.

O executivo confirmou a meta de vender US$ 15,1 bilhões no período de 2015 e 2016. / COLABORARAM MÁRCIO RODRIGUES E FERNANDA GUIMARÃES

 

 

“Não esperamos nos próximos trimestres mais eventos extraordinários.”

Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobrás

 

PRESTE ATENÇÃO

1.Produção. Apesar do prejuízo, a produção de petróleo e gás subiu no terceiro trimestre 2,5% ante o mesmo período de 2015. Sete das oito plataformas do présal da Bacia de Santos estão produzindo na máxima capacidade.

2.Dívida. A Petrobrás avançou no processo de redução da dívida. No encerramento do terceiro trimestre, a dívida bruta da petroleira ficou 19,2% menor do que no fim de 2015.

3.Dívida/Ebtida. Relação entre dívida e geração de caixa caiu de 5,03 vezes no segundo trimestre para 4,07 vezes. Desde 2010, essa relação vinha subindo.

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BNDES estuda alternativas para reduzir exposição à estatal

 

Vinicius Neder


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não tomará nenhuma decisão que desvalorize sua participação na Petrobrás na hora de cumprir a meta de reduzir em 20% o excesso de sua exposição à estatal até junho de 2018, como estabelecido em resolução de junho de 2015 do Conselho Monetário Nacional (CMN), informou ontem a diretora de Mercado de Capitais da instituição, Eliane Lustosa.

“Posso garantir que não vamos tomar nenhuma decisão em detrimento do ativo”, afirmou Eliane ao Estado. “Há várias formas de diminuir essa exposição.

Estamos discutindo de maneira bastante tranquila a melhor alternativa”, disse. A resolução do CMN de junho de 2015 substitui outra de 2012, que dava uma exceção ao BNDES na hora de calcular o limite de exposição a um único cliente para empresas dos “setores petrolífero, elétrico e de mineração”.

Exceções do tipo vêm sendo renovadas em resoluções do CMN há cerca de 15 anos.

Pelas regras do Banco Central (BC), que valem para todo o sistema bancário, a exposição a um único cliente não pode ultrapassar 25% do patrimônio de referência (PR), incluindo crédito e participação acionária.

No caso do BNDES, esse valor gira em torno de R$ 25 bilhões.

Em março deste ano, a exposição do banco à petroleira estava entre R$ 50 bilhões e R$ 55 bilhões, o dobro do permitido, como apurou o Estado na ocasião.

A resolução de junho passado reconheceu o desenquadramento do BNDES por causa da Petrobrás, mas estabeleceu um cronograma de redução do excesso de exposição até 2024. O banco terá de reduzir o excesso em 20% até 30 de junho de 2018.

O CMN também impediu a instituição de fomento de emprestar ou comprar ações das empresas nas quais tem excesso de exposição, como a Petrobrás.

Para Eliane, o prazo estabelecido na resolução é flexível o suficiente, mas negociações junto ao CMN para estender o prazo não estariam descartadas, caso seja necessário. “O governo é racional.

Ninguém vai rasgar dinheiro.

Vamos encontrar a forma prudente de avançar em relação a essa questão sem nenhuma decisão atabalhoada”, completou a diretora do BNDES.

 

Governança. No cargo desde junho, Eliane vem implantando uma nova política de governança corporativa na BNDESPar, empresa de participações do BNDES. De lá para cá, o banco indicou 15 membros para conselhos de administração de empresas nas quais tem assento.

Agora, os conselheiros indicados pelo banco serão independentes e não poderão ser funcionários do BNDES. “Definimos critérios objetivos para indicar conselheiros independentes para representar o banco”, disse Eliane.

Foram indicados conselheiros para empresas como Vale, JBS, Eletrobrás e Fibria. Segundo Eliane, o banco vai discutir a indicação de um conselheiro para a Petrobrás, mas isso não é urgente e não necessariamente haverá indicação, porque a estatal tem um “conselho dos sonhos”.

No caso da Vale, além de indicar Eduardo Bartolomeo para o conselho, o banco participa das negociações em torno de um novo acordo de acionistas e quer levar processos decisórios da companhia para o conselho de administração.

 

Nova política

“Há várias formas de diminuir a exposição (em relação à Petrobrás). Estamos discutindo alternativas.

 

“Definimos critérios para indicar conselheiros como representantes do banco.”

Eliane Lustosa

DIRETORA DO BNDES