Estatal criada para administrar pré-sal terá mudança de perfil

Ramona Ordoñez e Danilo Fariello

11/11/2016

 

 

 

PPSA corre risco de iniciar semana sem comando. Diretoria será substituída

 

-RIO E BRASÍLIA- Criada em 2013 e encarregada da gestão dos contratos de partilha da produção para exploração e produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos, a Pré-Sal Petróleo SA (PPSA) passará a ter um perfil diferente, na linha do que defende a equipe do presidente Michel Temer.

Segundo Paulo Pedrosa, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, essa mudança refletirá uma transformação natural na política de atuação da PPSA. Ele adiantou, porém, que a estatal manterá sua relevância na comercialização de óleo e gás da União oriundo do regime de partilha.

— Na venda do gás, por exemplo, a diretriz antes talvez fosse “vamos maximizar o valor da venda do gás” e a diretriz hoje é “vamos usar o gás para desenvolver o mercado”, porque se esse setor se torna competitivo e eu trago novos investidores, todo mundo ganha — disse Pedrosa ao GLOBO.

 

‘É PRERROGATIVA DO GOVERNO’

A estatal, porém, corre o risco de amanhecer na próxima segunda-feira sem sua diretoria executiva. Vence hoje o mandato da atual diretoria, composta pelo diretor-presidente Oswaldo Pedrosa e os diretores Antonio Claudio Pereira da Silva, Edson Nakagawa e Renato Darros de Matos.

Até o momento, o governo não informou quem serão os novos executivos. Segundo fontes, os novos nomes teriam experiência no setor e uma visão alinhada à do governo. A atual diretoria já foi informada de que não seria reconduzida aos cargos.

— É uma prerrogativa do governo mudar os executivos. Eu já estava preparado devido à mudança de governo. É natural, mas saímos satisfeitos porque nosso trabalho nesse período foi reconhecido pelo setor de petróleo — disse Pedrosa.

Segundo o executivo, como resultado do trabalho conduzido na PPSA desde 2013, a União receberá cerca de US$ 230 milhões de receita em 2017. O valor é a parcela estimada que caberá à União referente à produção esperada no chamado Teste de Longa Duração (TLD) no Campo de Libra e nas áreas unitizadas (acordo entre as empresas feito quando as reservas de petróleo extrapolam de um campo para outro). A comercialização desse petróleo caberá à PPSA.

A visão do atual governo é bastante distinta da que levou à nomeação da atual diretoria da PPSA. O setor de petróleo atravessa uma fase de mudanças que devem atingir principalmente o pré-sal. Uma delas é a possível aprovação do projeto de lei que retira da Petrobras a obrigatoriedade de atuar como operadora de todos os blocos. Segundo especialistas do setor, a mudança vai aliviar o caixa da Petrobras, que tenta reduzir seu endividamento, e estimular a participação de outros agentes do mercado.

Além disso, outro tema em discussão é a chamada revisão do conteúdo local. A política, que define uma proporção de investimentos nacionais aplicados em um determinado bem ou serviço, é alvo de críticas de empresários do setor diante da dificuldade para entrega de encomendas e dos preços cobrados.

 

“É um evento não recorrente, e a Petrobras não espera que, nos próximos trimestres, ocorram eventos nessa magnitude”

Ivan Monteiro

Diretor financeiro

 

 

O globo, n. 30412, 11/11/2016. Economia, p. 20.