Numa postura incomum aos ministros das Relações Exteriores, José Serra disse neste ano que uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas seria um “pesadelo”.
Ontem, o ministro relativizou a fala e disse será importante acompanhar a formação da equipe de governo de Trump.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, o gabinete terá de passar pelo crivo do Senado para escalões mais elevados. O embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, foi incumbido de ajudar a abrir canais de interlocução com a equipe de transição. Amaral tinha “planos de contingência” elaborados para os dois cenários: Trump ou Hillary Clinton.
Há também expectativa em relação às primeiras manifestações do presidente eleito, “sobretudo em política externa, econômica e comercial.” O ministro disse esperar que o protecionismo não aumente.
Recorrendo à máxima do meia Didi, da Seleção Brasileira em 1958 e 1962, Serra afirmou que “treino é treino, jogo é jogo.
Treino é campanha. O jogo começa agora.” E disse esperar que “o jogo seja melhor”. Depois, mais sério, o ministro explicou que cumpre ao governo “olhar os interesses do País” a partir do resultado da eleição.
Diplomacia. A intenção do Brasil é reforçar suas relações com os EUA, segundo o ministro e também uma nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores.
Para tanto, o País espera iniciar uma agenda de trabalho a partir de janeiro de 2017. As áreas prioritárias são energia, educação, inovação e tecnologia, combate ao crime organizado, transparência e eficiência regulatória, infraestrutura e promoção de negócios.
A tarefa, analisou Serra, é favorecida pelo fato de o Brasil não ter sido tema de controvérsia ou disputa durante a campanha eleitoral, tendo permanecido como um tópico neutro para os dois candidatos.
Outro ponto positivo notado pelo governo brasileiro foi o primeiro discurso de Trump, na linha da conciliação. “Ele já mostrou uma face de interlocução, a ideia de governar para todos”, disse o ministro.
O presidente Michel Temer também elogiou ontem o discurso da vitória de Trump e disse que a relação entre os dois países “não muda nada”, ao enviar cumprimentos ao republicano.
Temer acrescentou que os dois países têm uma tradição democrática e ressaltou que, em consequência das instituições sólidas dos EUA, Trump fará um governo para toda a sociedade americana.
“Na nossa perspectiva, decisões do eleitorado, da democracia, se respeitam e se cumprem”, afirmou o ministro Serra.
“Temos de refletir sobre o resultado dessa eleição, sobre os efeitos da globalização, a crise da sociedade contemporânea”, afirmou. Ele citou como outro exemplo desse cenário o resultado do referendo a respeito da saída do Reino Unido da União Europeia, que ele classificou como “surpreendente.” O Brasil também afirmou estar disposto a incrementar seu diálogo e cooperação com Washington sobre questões globais, “tendo presente a responsabilidade de ambos os países na construção de uma ordem mundial estável, justa e pacífica”, acrescenta a nota que parabeniza Trump pela vitória.
Riscos
Os países da América Latina enfrentam a continuidade de uma situação global “cada vez mais incerta”, o que representa um grande desafio para a região, segundo avaliação da agência Moody’s.