O Estado de São Paulo, n. 44949, 10/11/2016. Internacional, p. A15

Brasil espera formação de gabinete nos EUA

 
Lu Aiko Otta
Anne Warth

 

Numa postura incomum aos ministros das Relações Exteriores, José Serra disse neste ano que uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas seria um “pesadelo”.

Ontem, o ministro relativizou a fala e disse será importante acompanhar a formação da equipe de governo de Trump.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, o gabinete terá de passar pelo crivo do Senado para escalões mais elevados. O embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, foi incumbido de ajudar a abrir canais de interlocução com a equipe de transição. Amaral tinha “planos de contingência” elaborados para os dois cenários: Trump ou Hillary Clinton.

Há também expectativa em relação às primeiras manifestações do presidente eleito, “sobretudo em política externa, econômica e comercial.” O ministro disse esperar que o protecionismo não aumente.

Recorrendo à máxima do meia Didi, da Seleção Brasileira em 1958 e 1962, Serra afirmou que “treino é treino, jogo é jogo.

Treino é campanha. O jogo começa agora.” E disse esperar que “o jogo seja melhor”. Depois, mais sério, o ministro explicou que cumpre ao governo “olhar os interesses do País” a partir do resultado da eleição.

 

Diplomacia. A intenção do Brasil é reforçar suas relações com os EUA, segundo o ministro e também uma nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores.

Para tanto, o País espera iniciar uma agenda de trabalho a partir de janeiro de 2017. As áreas prioritárias são energia, educação, inovação e tecnologia, combate ao crime organizado, transparência e eficiência regulatória, infraestrutura e promoção de negócios.

A tarefa, analisou Serra, é favorecida pelo fato de o Brasil não ter sido tema de controvérsia ou disputa durante a campanha eleitoral, tendo permanecido como um tópico neutro para os dois candidatos.

Outro ponto positivo notado pelo governo brasileiro foi o primeiro discurso de Trump, na linha da conciliação. “Ele já mostrou uma face de interlocução, a ideia de governar para todos”, disse o ministro.

O presidente Michel Temer também elogiou ontem o discurso da vitória de Trump e disse que a relação entre os dois países “não muda nada”, ao enviar cumprimentos ao republicano.

Temer acrescentou que os dois países têm uma tradição democrática e ressaltou que, em consequência das instituições sólidas dos EUA, Trump fará um governo para toda a sociedade americana.

“Na nossa perspectiva, decisões do eleitorado, da democracia, se respeitam e se cumprem”, afirmou o ministro Serra.

“Temos de refletir sobre o resultado dessa eleição, sobre os efeitos da globalização, a crise da sociedade contemporânea”, afirmou. Ele citou como outro exemplo desse cenário o resultado do referendo a respeito da saída do Reino Unido da União Europeia, que ele classificou como “surpreendente.” O Brasil também afirmou estar disposto a incrementar seu diálogo e cooperação com Washington sobre questões globais, “tendo presente a responsabilidade de ambos os países na construção de uma ordem mundial estável, justa e pacífica”, acrescenta a nota que parabeniza Trump pela vitória.

 

Riscos

Os países da América Latina enfrentam a continuidade de uma situação global “cada vez mais incerta”, o que representa um grande desafio para a região, segundo avaliação da agência Moody’s.