Estado de São Paulo, n. 44943, 04/11/2016. Política, p. A6

Movimento ‘Volta, FHC’ gera críticas de tucanos

Em artigo, aliado defende o nome do ex-presidente para um mandato-tampão

Por: Valmar Hupsel Filho e Pedro Venceslau

 

No momento em que cresce o acirramento entre grupos do PSDB tendo como pano de fundo a disputa eleitoral de 2018, a defesa de um aliado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por sua volta ao cargo gerou críticas nas diferentes alas do partido.

Em artigo publicado ontem no jornal Folha de S.Paulo, o ex-deputado Xico Graziano defendeu o nome de FHC para um “mandato-tampão” no caso de cassação da chapa de Dilma Rousseff e de Michel Temer, eleita em 2014, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Chefe do gabinete pessoal do tucano quando ele foi presidente, Graziano também criou uma página no Facebook e um site chamados “FHC Presidente”.

“Pode ser que a Justiça acelere o processo político e casse a chapa Dilma-Temer. Nesse caso, o Congresso elegeria um presidente- tampão. Seria Fernando Henrique, com certeza. Ele prepararia o caminho rumo ao porvir. Michel Temer, porém, poderá seguir até 2018. Aí, a decisão será popular”, afirmou Graziano no artigo.

O movimento recebeu fortes críticas dentro do partido. Parlamentares e dirigentes tucanos avaliaram a atitude de Graziano como inoportuna e extemporânea.

“É um assunto que veio em um mau momento, quando o partido está tentando buscar acordos internos, e ele vem com uma proposta que está fora do centro. Ninguém está discutindo os méritos de Fernando Henrique, mas ele mesmo desmentiu em nota. Acho que morreu aí”, avaliou o secretário-geral do PSDB, Silvio Torres.

Nos bastidores, nomes ligados ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao chancelar José Serra qualificaram a atitude como “maluquice” e viram a atitude como isolada.

A ação que pede a cassação da chapa foi proposta pelo PSDB e a previsão é de que seja julgada no ano que vem.

 

Negativa. Após a publicação do artigo, FHC divulgou nota afirmando que jamais cogitou se candidatar novamente ao cargo.

“A propósito de comentários sobre uma eventual candidatura à Presidência esclareço, do exterior, onde me encontro, que jamais cogitei dessa hipótese nem ninguém me consultou sobre o tema. Minha posição é conhecida: nas circunstâncias, o melhor para o Brasil é que o atual governo leve avante as reformas necessárias e que em 2018 possamos escolher líderes à altura dos desafios do País.

Precisamos superar a crise financeira para criar empregos e para que o povo viva em uma sociedade próspera e decente.” Na avaliação do cientista político Carlos Melo, a iniciativa pareceu estranha, pois, além de o próprio FHC ter negado, a defesa do nome do ex-presidente para um mandato-tampão implica uma espécie de movimento “Fora, Temer”.

“O que me parece é que ele foi mais realista que o rei”, disse.

Na avaliação de Melo, seria uma “descortesia” do ex-presidente apoiar um gesto como este 15 dias depois de ter encontrado Temer em Brasília.

 

Na rede. Aliado lançou site e página no Facebook pró-FHC

 

‘Mau momento’

“É um assunto que veio em um mau momento, quando o partido está tentando buscar acordos internos.”

Silvio Torres

DEPUTADO FEDERAL E SECRETÁRIO-GERAL DO PSDB

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‘Descontentes que saiam do PT’, diz dirigente

Por: Ricardo Galhardo

 

Em reação à entrevista do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro ao Estado, publicada ontem, o dirigente petista Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador nacional da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), disse que os correligionários que estão descontentes deveriam deixar PT.

“Ele (Tarso) acha que é o único limpo no PT, mas não é. Os que não estiverem contentes que saiam do PT, e saiam com tempo, porque a Marta Suplicy (senadora filiada ao PMDB) saiu e se ferrou, a Marina Silva (ex-ministra filiada à Rede) saiu e se ferrou”, disse Rochinha.

Tarso afirmou ao Estado que o PT deve assumir a responsabilidade por eventuais crimes cometidos por petistas em nome do partido. Disse também que é preciso apontar, publicamente, os integrantes da legenda que desviaram dinheiro em proveito próprio. O ex-governador afirmou ainda que, se a ala hegemônica, liderada pela CNB, impedir uma reformulação, militantes vão sair do PT.

“Por que ele não aponta os nomes? Ele foi ministro da Justiça e deve saber. Se ele tem provas de que alguém desviou para si próprio que aponte nomes.

Se tiver provas, eu mesmo peço uma Comissão de Ética e ponho para fora”, disse Rochinha.

Tarso é adversário da CNB desde o mensalão, quando, em 2005, liderou um racha na corrente e criou a Mensagem ao Partido. Na época, ele defendeu a “refundação” do PT. “Tarso tem mania de procurar chifre em cabeça de cavalo. Procura defeitos nos outros, mas não procura os dele”, disse Rochinha.