Título: Juízes cruzam os braços
Autor: Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2011, Economia, p. 12

Paralisação por aumento de salário deve alcançar 5 mil magistrados federais e trabalhistas

Mais de 5 mil juízes devem suspender as atividades hoje em todo o país. A paralisação de um dia atingirá a Justiça Federal e a Trabalhista em todas as unidades da Federação. Os magistrados reivindicam reajuste salarial de 15% e melhorias na segurança, além de uma política previdenciária, remuneratória e de saúde. Ao longo do dia, haverá atos e debates em diversas cidades com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para as reivindicações.

Em Brasília, eles ocorrerão na sede da Justiça Federal e no Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) afirma que a maioria dos 3,6 mil juízes trabalhistas irá aderir à paralisação. Já a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) espera a adesão de mais de 90% dos 1,7 mil associados.

De acordo com a Anamatra, 20 mil audiências serão suspensas e terão de ser remarcadas. O presidente da entidade, Renato Sant"Anna, garante que os casos urgentes serão atendidos. "Se queremos um Judiciário independente e fortalecido, temos que lutar. E isso passa pela garantia do poder de compra dos subsídios de um juiz, hoje defasado em quase 25%", afirma.

Os juízes federais já haviam paralisado as atividades em 27 de abril, sem ter nenhuma reivindicação atendida. "Nosso objetivo é fazer com que o presidente do Supremo (Cezar Peluso) converse com os presidentes da Câmara e do Senado e com a presidente da República. Está faltando diálogo entre as cúpulas dos três poderes", destaca o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy.

Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou uma emenda à proposta orçamentária de 2012 que prevê R$ 2 bilhões para o aumento das remunerações dos juízes e servidores do Judiciário. O texto seguirá ainda para a Comissão Mista de Orçamento, antes de ser apreciado pelo plenário.

Desde 18 de outubro, os juízes federais fazem operação padrão com os processos envolvendo a União, que não foi intimada uma só vez nesse período. Somente ontem os magistrados encaminharam as intimações à Advocacia-Geral da União (AGU). Na semana passada, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen, ameaçou cortar o ponto dos juízes trabalhistas. O presidente da seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, criticou a greve. "As reivindicações são justas, mas o Judiciário tem um acentuado e antigo deficit de prestação jurisdicional, com sérios prejuízos à cidadania."