O Estado de São Paulo, n. 44957, 18/11/2016. Metrópole, p.A16

 

Maggi critica meta do clima para agricultura

Giovana Girardi

 

 

Ministro diz que o setor não pode pagar pelos compromissos do Acordo de Paris.

Em meio à Conferência do Clima da ONU, que busca mostrar os caminhos para o combate às mudanças climáticas, e participando de um evento para discutir como a agricultura pode participar disso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse ontem que o setor não vai cumprir suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa a não ser que alguém, que não o próprio setor agrícola, pague por isso.

Chamando os compromissos assumidos pelo País no Acordo de Paris de “intenção”, Maggi causou furor entre ambientalistas que acompanham a conferência.

O que no início parecia uma presença bem-vinda, por sinalizar que a agricultura está no mesmo barco que o ambiente nos esforços brasileiros de lutar contra o aquecimento global, gerou constrangimento.

Na terça-feira Maggi havia dito que a agricultura do País era a mais sustentável do mundo, minimizando o impacto que o setor tem sobre as emissões de efeito estufa. Disse ainda que mortes de ativistas ambientais no campo são apenas um “problema de relacionamento”.

Os comentários levaram o Observatório do Clima a elaborar uma carta rebatendo a fala ponto por ponto. No evento de ontem, a ONG Engaja Mundo deu de presente ao ministro um colar com o que eles chamaram de “pérolas mággicas”, em referência às falas do ministro.

No debate, promovido pela Coalizão Clima, Florestas e Agricultura, estavam presentes representantes do Banco Mundial, da Convenção do Clima da ONU, e da Climate Policy Initiave – que financia ações de combate às mudanças climáticas –, que foram elogiosos sobre os avanços que o Brasil teve nos últimos anos ao reduzir suas taxas de desmatamento. Eles disseram que o mundo olha para o País buscando exemplo de atuação nas áreas de agricultura e floresta. Também esteve na mesa, no início do evento, o ministro Sarney Filho (Ambiente), chefe da delegação do Brasil.

Maggi aproveitou o reconhecimento para dizer que o custo disso para o setor é alto. Em outros eventos em Marrakesh ele já havia comparado a Reserva Legal, prevista na lei florestal do País – e que estabelece que uma porção das propriedades rurais brasileiras tem de ser preservada –, com um hotel que não pode ser todo ocupado. Segundo ele, é como um hotel que tem cem quartos, mas só pode comercializar 20, referindo-se aos 80% de proteção prevista em fazendas na Amazônia.

Na terça-feira, ele disse apoiar que o setor contribua com o combate às mudanças climáticas, mas se queixou dos custos.

“Nós não temos condições financeiras de levar adiante a intenção que o Brasil colocou. A intenção que o Brasil assumiu perante o mundo não pode ser obrigação do produtor brasileiro”, disse. 

Mortes no campo. Anteontem, Maggi causou mal-estar na plateia com uma declaração feita depois que o ministro ouviu estatísticas de que o Brasil é o País onde mais se mata ambientalistas.

“Nós temos conflitos, sim, no Brasil, não podemos negar.

Mas eles não são dessa forma.

Existem muitas brigas. Mas quando você vai no cerne da questão, vê que há um problema de relacionamento de pessoas que não pode ser computado nesta questão”, afirmou.

Na carta, o Observatório do Clima lembrou que apenas em 2015 foram 50 mortes, um terço do total mundial – em sua maioria na Amazônia brasileira. Ao ler isso, Maggi ironizou. “Fico feliz em saber que de ontem para hoje morreram menos 150 ambientalistas, porque ontem ouvi que eram 200 por ano e agora diz aqui que foram 50.”

Objeção

“(Reduzir emissões) não é obrigação da agricultura. Não queiram pendurar essa conta no setor agrícola sozinho.”

Blairo Maggi

MINISTRO DA AGRICULTURA.