Título: Turquia já admite intervir na Síria
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2011, Mundo, p. 17
Aliado do ditador Bashar Al-Assad, país vizinho também defende uma "zona tampão"
As pressões sobre Bashar Al-Assad aumentam a cada dia. Desta vez, um histórico parceiro do regime afirmou estar disposto a agir em uma eventual intervenção militar na Síria, caso o ditador não interrompa a escalada de violência contra seu povo. A Turquia — que já vinha se manifestando contrária à repressão no país vizinho — também considera criar uma "zona tampão", espécie de área de confinamento para acomodar pessoas que conseguem ultrapassar a fronteira síria. Atualmente, a Turquia abriga 8 mil refugiados sírios.
Ahmet Davutoglu, ministro das Relações Exteriores turco, falou a uma rede de tevê de seu país sobre as possíveis ações para intimidar Al-Assad. "Nós esperamos que uma intervenção militar jamais seja necessária. No entanto, o regime sírio tem que encontrar um jeito de ficar em paz com o seu povo para que essa opção seja eliminada", ameaçou Davutoglu. "Se a opressão continuar, a Turquia está preparada para qualquer cenário", garantiu.
A possibilidade de contar com o apoio turco animou organizações de dissidentes. "A "zona tampão" seria muito útil para os sírios que estão sofrendo. Em uma área protegida, a Turquia poderia oferecer comida e assistência médica, e as pessoas estariam a salvo", sugeriu Mousab Azzawi, ativista do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, em entrevista ao Correio. Desde o início da semana, outros países do Oriente Médio orientam seus cidadãos a abandonarem a Síria. Barein, Catar e Arábia Saudita seguiram o exemplo. "Por questões de segurança, a Arábia Saudita pede que seus cidadãos deixem a Síria e não viajem pelo país", recomendaram as autoridades, por meio de um comunicado.
Com o aumento da pressão externa, a expectativa é de que o Conselho de Segurança da ONU tome alguma medida para cessar a violência no país. "Eles precisam fazer algo, porque foi igual com o (Muamar) Kadafi (ex-ditador líbio) e com os membros de sua família. O que está acontecendo na Síria não é tão diferente em relação ao que houve na Líbia, e as Nações Unidas precisam levar isso em conta", argumenta Azzawi. Na segunda-feira, uma comissão independente — liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro — apresentou um relatório que denuncia crimes contra a humanidade cometidos pelas forças de Al-Assad. As atrocidades incluem tortura e violência sexual contra crianças e adolescentes.
Ceticismo Mesmo com as atrocidades apontadas pela comissão, a maioria dos analistas não acredita que a ONU possa aprovar uma intervenção em território sírio. "Atualmente, a China e a Rússia (países-membros do Conselho de Segurança) estão bloqueando qualquer resolução que estreite as sanções contra a Síria. Eu duvido que eles aceitariam uma proposta de intervenção", observa Zeev Maoz, cientista político da Universidade da Califórnia em Davis. Ontem, o chanceler russo, Sergey Lavrov, classificou como "injustos" os pedidos de embargo da venda de armas para as tropas de Al-Assad.
Peter Wien, especialista em história do Oriente Médio pela Universidade de Maryland, tem uma visão mais pessimista. Para ele, as sanções econômicas podem até reduzir a repressão e fazer o ditador sírio procurar um acordo com os opositores. "É improvável, porém, que isso satisfaça os rebeldes, depois do que já ocorreu. O pior cenário seria, portanto, uma prolongada guerra civil", afirmou.
Marrocos tem novo premiê O rei Mohamed VI, do Marrocos, nomeou ontem como novo primeiro-ministro do país Abdelilah Benkirane, líder do Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD) de tendência islamita, que saiu vitorioso das urnas nas eleições legislativas realizadas na sexta-feira passada. É a primeira vez que os islamitas moderados do PJD estarão à frente do governo. Antes do anúncio oficial, Benkirane foi recebido pelo monarca em Midelt, no centro do país. Benkirane agora liderará as negociações para formar uma coalizão para o gabinete, ressaltou o palácio por meio de um comunicado. O PJD, que jurou fidelidade à monarquia, ganhou 107 das 395 cadeiras do Parlamento.