Estado de São Paulo, n. 44942, 03/11/2016.  Política, p. A8

Cunha chama Temer e Lula como suas testemunhas de defesa

Deputado cassado, réu na Operação Lava Jato, inclui presidente e ex-presidente em uma lista de 22 nomes

Por: Ricardo Brandt / Julia Affonso / Fausto Macedo/ Mateus Coutinho

 

O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chamou o presidente da República Michel Temer (PMDB) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como suas testemunhas de defesa em ação penal a que responde na Operação Lava Jato. Temer e Lula fazem parte de um rol de 22 nomes.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados foi preso preventivamente em 19 de outubro, em Brasília, por ordem do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato na 1ª instância.

O rol de testemunhas consta da resposta de Cunha à denúncia do Ministério Público Federal.

Segundo a acusação, o peemedebista teria cobrado e recebido, entre 2010 e 2011, no exercício de sua função como parlamentar e em razão dela, vantagem indevida, relacionada à aquisição, pela Petrobrás de um campo de petróleo em Benin.

O ex-presidente da Câmara é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas pela manutenção de contas secretas na Suíça que teriam recebido propina do esquema de corrupção e desvios instalado na Petrobrás.

A ação já havia sido aberta pelo Supremo Tribunal Federal em junho. Mas o processo foi remetido à primeira instância, em Curitiba, depois que o peemedebista teve o mandato cassado, em 12 de setembro, e perdeu o foro privilegiado. O peemedebista é réu em três ações penais relativas a investigações decorrentes da Lava Jato.

Cunha também chamou como testemunhas o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, os ex-ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo/governo Michel Temer) e Mauro Lopes (Aviação Civil/governo Dilma), o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), o pecuarista José Carlos Bumlai, entre outros.

 

Documentos. Na resposta à denúncia, a defesa do peemedebista faz ao juiz Moro “requerimento de diligência”. Os advogados de Cunha pedem que “se oficie a Shell a fim de que a empresa forneça cópia do procedimento de contratação dos poços de petróleo no Benin”.

Para a defesa do deputado cassado, os documentos “são imprescindíveis para que se verifique a expectativa de lucro à época da celebração do negócio, bem como o nome das pessoas que atuaram pela empresa em questão no âmbito do referido contrato, protestando-se, desde logo, pela oitiva das testemunhas em questão, tão logo sejam elas conhecidas do Juízo”.

“Por meio dessa diligência, pretende-se provar que o contrato investigado nos presentes autos foi celebrado em conformidade com as regras do mercado e não, ao contrário do que diz o Ministério Público Federal, em razão de propina paga ao defendente”, afirmam os advogados Fernanda Tórtima, Ademar Borges, João Marcos Braga e Péricles Ribeiro.

O Palácio do Planalto informou ontem que não iria se manifestar. Os advogados de Lula disseram que não tiveram acesso à petição e, por isso, não poderiam se posicionar. / RICARDO BRANDT, J.A., F.M. e M.C.

 

A LISTA DO PEEMEDEBISTA

Michel Temer

Luiz Inácio Lula da Silva

Henrique Eduardo Alves

Mauro Lopes

Delcídio Amaral

João Paulo Cunha

Nestor Cerveró

Hamylton Pinheiro Padilha Jr.

José Carlos Bumlai

Leonardo Quintão

José Saraiva Felipe

Felipe Bernardi Diniz

Antônio Eustáquio Andrade Ferreira

João Lúcio Magalhães  Bifano

Nelson Tadeu Filippelli

Benício Schettini Frazão

Pedro Augusto Cortes  Xavier Bastos

Sócrates José Fernandes Marques da Silva

Mary Kiyonaga

Elisa Mailhos

Luis Maria Pineyrua

José Tadeu de Chiara

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Palocci atuou por estaleiro da Odebrecht, diz MPF

Ex-ministro teria agido de forma ‘ilícita’ para que a empresa participasse de obras de plataformas da Petrobrás em 2011

Por: Ricardo Brandt/ Julia Affonso / Mateus Coutinho / Fausto Macedo

 

O ex-ministro Antonio Palocci, é acusado pelo Ministério Público Federal de atuar de forma “ilícita” para beneficiar o Grupo Odebrecht na contratação pela Petrobrás de estaleiros nacionais.

Esses estaleiros atuam na construção de plataformas e navios-sonda para exploração de petróleo dos campos do présal – negócio de mais de US$ 21 bilhões, que envolveu a criação da empresa Sete Brasil.

A informação consta em denúncia contra o petista que deve ser analisada nesta semana pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na 1.ª instância, em Curitiba.

Em depoimento prestado à Lava Jato em outubro, o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) afirmou que Palocci participou, mesmo fora do governo, da formação da Sete Brasil, em 2011. A empresa, responsável pela contratação de estaleiros para fornecimentos de 28 plataformas e sondas para a Petrobrás, é uma sociedade da Petrobrás com os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão federais Petros e Previ e o fundo de pensão da Vale do Rio Doce.

“O modelo de cobrança de propina que já existia na Petrobrás foi levado também à Sete Brasil”, afirmou Delcídio, que virou delator da Lava Jato após ser preso em novembro de 2015 por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró. “Palocci participou de toda estruturação econômica da Sete Brasil”, afirmou. Delcídio disse ainda que Palocci atuou na “engenharia financeira” da Sete Brasil e na “consolidação dos grupos empresariais” que foram contratados.

Preso desde 26 de setembro, o ex-ministro foi acusado formalmente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, apontado como “ponte” entre a Odebrecht e o governo federal.

 

‘Interferência’. Segundo a denúncia, em 2011, quando soube que o estaleiro controlado pelo seu consórcio havia sido derrotado em processo licitatório, Marcelo Odebrecht, presidente afastado do grupo, enviou um e-mail ao assessor de Palocci pedindo um encontro com o ex-ministro. “Aquele assunto do Petróleo não está indo bem”, escreveu Odebrecht. Para os procuradores, “era nítido no email: instar Antonio Palocci para que interferisse nas decisões a serem adotadas pela alta administração do governo federal, a fim de resolver questões de interesse da Odebrecht relativas a contratos com a Petrobrás”.

A Sete Brasil diz que “colabora com as investigações”. O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, afirma que as acusações contidas na denúncia “são uma peça de ficção”. / R.B., J.A., M.C. e F.M.

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Dinheiro de Cerveró deve ir para Petrobrás
Para relator da Lava Jato, Teori Zavascki, os R$ 17 milhões desviados pelo ex-diretor devem ser devolvidos à estatal

Por: Julia Lindner / Rafael Moraes Moura

 

O ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou que todo o dinheiro que o ex-diretor da área internacional da Petrobrás Nestor Cerveró devolver aos cofres públicos será integralmente repassado à empresa. A quantia é de cerca de R$ 17 milhões.

Inicialmente, o acordo de delação premiada de Cerveró, firmado com a Procuradoria-Geral da República, previa que 80% do dinheiro fosse destinado à Petrobrás e 20%, à União.

Teori disse, porém, que, considerando os prejuízos causados à empresa em virtude do esquema de corrupção investigado pela Lava Jato, não há “justificativa legal” para limitar a 80% o valor da reparação à Petrobrás.

Na decisão tomada na quinta- feira passada, o ministro argumenta que, pelo fato de a Petrobrás ser uma empresa de economia mista, ou seja, que tem tanto capital privado quanto público, eventuais prejuízos sofridos por ela “afetariam apenas indiretamente a União, na condição de acionista majoritária da Sociedade de Economia Mista”.

“Como a Petrobrás é o sujeito passivo dos crimes em tese perpetrados por Nestor Cuñat Cerveró e pela suposta organização criminosa que integrava, o produto do crime repatriado deve ser direcionado à sociedade de economia mista lesada.”

 

Montante. Cerveró – que cumpre pena em prisão domiciliar e foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro – deverá devolver à Petrobrás R$ 11.425.000, mais 1 milhão de libras esterlinas mantidos em contas no Reino Unido e US$ 495.794 depositados em uma conta nas Bahamas. O montante totaliza cerca de R$ 16 milhões, conforme valores convertidos pela taxa de câmbio do Banco Central.

Até a conclusão desta edição, a Petrobrás não havia se manifestado sobre a decisão do ministro do Supremo.

Em junho, Teori tomou decisão semelhante em relação ao acordo firmado com o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. O ministro determinou que os R$ 79 milhões que foram repatriados fossem destinados à Petrobrás.

Na ocasião, Teori também não atendeu a pedido do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, que defendia a divisão do montante entre a empresa e a União. O ministro considerou que a estatal estava “na condição de vítima”.