Título: O político que só conhece a oposição
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 06/11/2011, Política, p. 4

Ao contrário do avô que ocupou cargos nos governos federal e baiano por mais de 40 anos, o deputado federal do DEM nunca conseguiu chegar ao Poder Executivo. Mas não desiste

Os adversários o chamam de "grampinho" ou "acêemezinho". Outros de "encolhedor de partido". Os amigos preferem simplesmente "Neto". E sem nenhum demérito quanto às qualidades pessoais ou capacidade política. Aos 32 anos, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) tem uma carreira inversa àquela que seu avô Antonio Carlos Magalhães cultivou até julho de 2007, quando, aos 79 anos, morreu vítima de falência múltipla de órgãos. O ex-senador ACM, babalorixá da política baiana e do antigo PFL, raramente foi oposição. Seu herdeiro político, ACM Neto vive essa condição desde a primeira vez em que foi candidato, em 2002, quando conquistou um mandato de deputado federal. No mais, ele e o avô têm muito em comum, especialmente, no quesito que, os mais ponderados chamam de "personalidade forte" e os mais radicais de "prepotência".

Ele próprio reconhece que doçura não é o seu forte: "Tenho um estilo forte mesmo. Sempre fui assim. Não sou água com açúcar. Prefiro ser transparente do que falso", afirma. De 2002 para cá, a condição política de oposicionista não mudou, e, apesar da penca de notícias sobre sua migração para o PMDB, onde cabe tanto o governo quanto a oposição, ele garante que não deixará o DEM: "Esquece. Só serei governo no dia em que as urnas me levarem. Buscar pela adesão, esquece", diz Neto, com ares de quem não pretende aderir ao governo de Dilma Rousseff, no Brasil, nem ao de Jaques Wagner (PT), na Bahia.

Nesse período de oposição, entretanto, Neto viu encolher tanto a sua votação quanto o seu partido. Da primeira eleição, com 400.275 votos — muitos adquiridos com a ajuda do avô —, subiu para 436.966 votos em 2006, a última campanha com a presença do patriarca. Na seguinte, os votos de Neto despencaram para 328.450. Mas, ainda assim, manteve o título de deputado mais votado pelos baianos — marca que o grupo do governador Jaques Wagner não conseguiu tirar da família Magalhães.

O susto A redução dos votos assustou o DEM não só da Bahia quanto de todo o Brasil, onde o partido conquistou dois governadores — o de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e a do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini. Dos dois, apenas Rosalba continua no DEM. Colombo seguiu para o PSD. Nos bastidores, antigos integrantes do DEM citam o PSD como consequência da ambição de ACM Neto em voltar à liderança democrata na Câmara dos Deputados.

Há quem avalie, por exemplo, que, se Neto tivesse cedido a vaga ao grupo de Jorge Bornhausen e de Gilberto Kassab, o prefeito de São Paulo, a história seria outra. Mas, o baiano derrotou os Bornhausen e o DEM se manteve oposicionista, a ponto de emparedar o ex-ministro do Esporte Orlando Silva na sua tentativa de permanecer no cargo. Na condição de líder do partido que faz uma oposição mais intransigente ao governo Dilma, ACM Neto percebeu que não dá para continuar dando o que muitos chamam de "murro em ponta de faca" nem manter o apelido "malvadeza", que marcou o avô.

Este ano, ele já perdeu pontos na Câmara, quando, no plenário, foi deselegante com a vice-presidente, Rose de Freitas (PMDB-ES). Bem ao estilo Antonio Carlos, bateu o pé e disse que só falaria quando Marco Maia estivesse no comando. Foi um constrangimento. Do ponto de vista eleitoral, ele também apresenta mudança. Na Bahia, há dois meses passou a trabalhar uma aproximação com o PMDB do ex-deputado Geddel Vieira Lima. A aliança seria impensável se o ex-senador ACM estivesse vivo, mas não será a primeira vez. Em 2008, um ano depois da morte de ACM, Neto concorreu a prefeito e, no segundo turno apoiou João Henrique, do PMDB, num acordo que teve o dedo de Geddel — amigo de Luís Eduardo Magalhães, o filho de ACM que morreu em 1998, aos 43 anos, vítima de infarto.

A lembrança Agora, Geddel se aproximou de Neto e vice-versa em busca de um objetivo comum: tentar evitar que o PT de Jaques Wagner consiga, na Bahia, tanto tempo de poder quanto obteve o velho ACM. Neto acostumou-se a ver o poder administrativo e de mando exercido pelo seu avô. Afinal, estreou com o assessor da Secretaria de Educação da Bahia, quando ACM era senador. Dois anos antes, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso disputou a reeleição, foi "o neto de ACM" quem discursou pela juventude na convenção em que o PFL recepcionou o tucano. Naquele dia, eleitores se emocionaram ao perceber gestos e entonações tão parecidos com os do tio Luís Eduardo, morto meses antes.

Ali, Neto ganhou a herança política, coisa que seus primos mais novos, filhos de Luís Eduardo, rechaçavam. Foi sua estreia no mundo dos discursos para grandes plateias políticas. O desafio maior, entretanto, o "neto de ACM" ainda não venceu, que é a conquista de um mandato majoritário na Bahia. Daí a candidatura a prefeito com o possível apoio de Geddel, um acordo que o próprio Neto classifica de "pragmático". Afinal, se tem uma coisa que os ACMs não estão acostumados é ficar tanto tempo na oposição, em que Neto aprendeu uma lição. Se um dia for poder, muitos do que agora deram as costas vão voltar: "No campo político, poucos olham para o passado e guardam alguma gratidão pelo que o senador (o avô) fez. As pessoas comuns, do povo, são muito mais gratas do que os políticos", diz ele.