O Estado de São Paulo, n. 44940, 01/11/2016. Política, p.A4

 

Por 2018, Ciro tenta atrair governadores petistas

Igor Gadelha

 

 

Planalto. Ex-ministro negocia com Camilo Santana (CE) para que ele migre de sigla e integre seu projeto presidencial; grupo espera adesão de Rui Costa (BA) e Wellington Dias (PI).

Diante da derrocada do PT nas eleições municipais deste ano e da incerteza quanto à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, o grupo político do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) já negocia com governadores petistas a migração deles para outros partidos que integram seu projeto presidencial.

A negociação está mais avançada no Ceará, Estado de Ciro e em cuja capital, Fortaleza, ele conseguiu eleger anteontem o seu candidato, Roberto Cláudio (PDT). No primeiro turno, a candidata do PT, a ex-prefeita Luizianne Lins (PT), teve 15% dos votos e nem sequer chegou ao segundo turno.

No Estado, o governador Camilo Santana (PT) busca integrar o projeto de Ciro via PSB.

Ele já conversou com o presidente do partido, Carlos Siqueira, e aguarda uma definição do cenário eleitoral para tomar a decisão. Uma das possibilidades em debate é de que ele possa disputar o Senado pela sigla em 2018. Isso abriria espaço para o ex-governador Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro, concorrer novamente ao governo.

A relação de Santana com o PSB é antiga. Ele e seu pai, o exdeputado federal Eudoro Santana, já foram filiados ao partido.

Santana foi candidato a prefeito de Barbalha (CE) pelo PSB em 2000, quando ficou em 4.º lugar. Além disso, tanto Cid como Ciro já integraram o partido, mas trocaram de legenda em 2014 para apoiar a reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff. Na ocasião, Eduardo Campos foi o candidato do PSB.

Questionado, Santana desconversou sobre a possibilidade de deixar o PT. “Na vida, não podemos descartar nenhuma decisão”, disse. 

Outros nomes. A ideia de interlocutores de Ciro é que, a partir do Ceará, outros governadores do Nordeste também integrem o seu projeto de chegar ao Planalto. No dia 20 do mês passado, o próprio Santana se reuniu com outros dois governadores petistas que, segundo fontes, também têm apontado dificuldades eleitorais em 2018 caso continuem no PT: Rui Costa (Bahia) e Wellington Dias (Piauí). Oficialmente, o encontro foi para discutir a conjuntura política. A saída do PT teria sido um dos assuntos do encontro, que ocorreu em Salvador.

O Nordeste é a região onde o PT, após a chegada de Lula à Presidência, conseguiu mais votos em todas as eleições presidenciais desde 2006. Neste ano, porém, não elegeu nenhum prefeito nas nove capitais da região. 

Crise. A principal preocupação dos governadores petistas é de não conseguir se reeleger em 2018, diante da crise que o partido vive e do sentimento antipetista, evidenciado nas urnas com o pior desempenho da legenda em eleições municipais nos últimos 20 anos.

Atualmente, o PT comanda cinco governos estaduais: Piauí, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Acre. Apenas no Acre, o governador Tião Viana não poderá tentar a reeleição. No caso da Bahia, líderes do PDT afirmam que o governador vai conversar com o presidente do partido, Carlos Lupi, sobre uma possível migração para a legenda. Aliados de Costa dizem, porém, achar difícil a mudança. “Não vi nenhum vestígio remoto disso ainda. Acho improvável.

O Rui é um dos fundadores do PT, é do grupo do (ex-ministro) Jaques Wagner”, afirmou o líder do PT na Câmara, Afonso Florence. Por meio de sua assessoria, Costa negou a intenção de deixar o partido.

Da mesma forma, aliados de Wellington Dias afirmam que o governador do Piauí também não tem dados sinais de que vá mudar de partido. “Pelo contrário, ele tem dado sinais de defesa do PT, do ex-presidente Lula”, disse o deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi ministro da Saúde durante o governo Dilma.

Na Câmara dos Deputados, o partido se prepara para uma possível debandada de parlamentares para outras siglas. Estima- se que até 40 dos 58 parlamentares do partido avaliam a saída da legenda. Segundo apurou o Estado, o PDT tenta atrair a maior parte deste grupo que estaria insatisfeito. 

Decisão. Governador do Ceará, Camilo Santana, pode integrar projeto de Ciro Gomes no PDT 

PT nos Estados

5 governadores têm o PT atualmente: Camilo Santana, no Ceará, Rui Costa, na Bahia, Wellington Dias, no Piauí, Fernando Pimentel, em Minas, e Tião Viana, no Acre. Destes, só Viana não poderá se reelege 

PARA LEMBRAR

Candidatura foi vetada em 2010

Em outubro de 2009, Ciro Gomes (CE), então deputado federal pelo PSB, anunciou a transferência de seu domicílio eleitoral para São Paulo. Ciro tinha a intenção de disputar o Planalto no ano seguinte, mas o então presidente Lula defendia a candidatura dele ao governo paulista, para fazer frente ao PSDB. Aliado do governo petista à época, Ciro dizia que duas candidaturas governistas à Presidência da República dariam maior força contra os candidatos de oposição; já Lula era a favor de uma polarização entre PT e PSDB. Em abril de 2010, o então presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, oficializou a retirada de candidatura de Ciro à Presidência. Sem candidatura própria, a preferência do partido foi apoiar a petista Dilma Rousseff. “A leitura da conjuntura política influenciou na decisão de vetar a candidatura de Ciro”, afirmou Campos na ocasião.