O Estado de São Paulo, n. 44940, 01/11/2016. Política, p.A8

 

Palocci teve 27 encontros com Odebrecht, aponta força-tarefa

Ricardo Brandt, Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo

 

 

Segundo denúncia do MPF, análise da agenda do ex-ministro mostra reuniões próximas a decisões do governo. 

Os investigadores da Operação Lava Jato apontam ao menos 27 reuniões do ex-ministro Antonio Palocci com o empresário Marcelo Odebrecht, presidente afastado da construtora que leva o seu nome. A informação consta da denúncia apresentada na semana passada pela Procuradoria da República contra Palocci, Odebrecht e mais 13 investigados. A partir da análise da agenda pessoal do empreiteiro, a força-tarefa da Lava Jato diz que os encontros ocorreram em datas próximas aos períodos em que eram solicitadas interferências de Palocci em decisões do governo.

O ex-ministro é acusado de captar pelo menos R$ 128 milhões da Odebrecht e destinar parte desse valor ao PT, seu partido.

Ele foi denunciado formalmente por corrupção e lavagem de dinheiro.

Para o Ministério Público Federal, a constatação sobre os encontros sucessivos entre Palocci e Odebrecht reforça o vínculo entre o ex-ministro e o empresário.

“Relevante ainda referir que tais reuniões ocorreram, em sua maioria, ou no escritório de Antonio Palocci ou nas residências dele ou de Marcelo Odebrecht, deixando evidente o intuito de que os encontros ocorressem em ambiente privado”, assinalam os procuradores que subscrevem a denúncia.

A investigação mostra ainda que outros executivos ligados à Odebrecht participavam das reuniões de Palocci e o empreiteiro.

Os procuradores anotam que o próprio Palocci admitiu não ter firmado, “em tempo algum, contrato de consultoria com a Odebrecht ou com sua empresa, a Projeto Consultoria”.

Defesa. O advogado José Roberto Batochio, que defende Palocci, reagiu com indignação à denúncia do Ministério Público Federal. “O único elemento considerado pela denúncia é um papelucho tratado como ‘planilha’ sob a rubrica de ‘Italiano’. Os acusadores já apontaram esse ‘Italiano’ como sendo Fernando Migliaccio, depois Guido Mantega, depois um engenheiro italiano e, agora, na quarta tentativa, querem atribuir este apelido a Palocci”, afirmou Batochio. Procurada, a Odebrecht disse que não se manifestaria.