Título: Um grupo cada vez mais acuado
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 06/11/2011, Mundo, p. 20

Com a morte de seu grande líder ideológico, o futuro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) é incerto. A guerrilha com ideias marxistas e comunistas, fundada há quase 50 anos, teve seu auge nas décadas de 1970 e 1980 com o envolvimento no narcotráfico e o sequestro de políticos, militares e estrangeiros em troca de dinheiro. Porém, nos últimos anos, o grupo armado sofreu duros golpes e pode agora enfrentar sua pior crise. O governo colombiano faz pressão para um diálogo e o fim da violência e deixa os guerrilheiros cada vez mais encurralados. Sem uma organização clara e com a moral em baixa, os revolucionários precisam decidir qual caminho seguir.

Em três anos, as Farc perderem seus maiores líderes. Em maio de 2008, o fundador e comandante do grupo, Manuel Marulanda Vélez, conhecido por Tirofijo, morreu no acampamento por causa de uma suposta doença cardíaca. Meses depois, foi a vez do porta-voz do grupo, Raúl Reyes, morto em uma operação militar na fronteira com o Equador. Em 2010, o chefe militar e chefe do narcotráfico do grupo, Mono Jojoy, caiu em uma emboscada do Exército colombiano. Todos faziam parte da cúpula da organização. Cano era um dos últimos líderes resistentes no movimento. Ele precisou não apenas estruturar as operações do grupo, inclusive as finanças que chegavam dos sequestros e das drogas, como se esquivar das ações de inteligência do governo, que, atualmente, conseguem se aproximar cada vez mais dos esconderijos dos militantes nas montanhas da selva colombiana.

Substitutos Como será a coordenação do movimento e qual será o futuro líder das Farc ainda é um mistério. A parte de ação de operações e controle da organização está cada vez mais desarticulada. O efetivo também diminuiu muito. Há 10 anos, a guerrilha contava com 16 mil homens e agora o número não deve chegar a 6 mil, segundo o Ministério da Defesa colombiano. Por enquanto, os nomes mais cotados para substituir Cano são Luciano Marín, cujo nome de batalha é Iván Márquez, e Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko. Os dois estão fora da Colômbia e tudo indica que estão reclusos em acampamentos na Venezuela.

Para o ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), que chegou a negociar com Cano durante seu governo, as Farc devem começar a pensar na possibilidade de uma desmilitarização e talvez investir em um movimento mais político. "Não podemos dizer que é o fim (das Farc)porque é um grupo tão grande, que devem existir redutos que insistam na via armada. Mas as possibilidades de manobra agora são mínimas. Este é um ponto de inflexão para as Farc. O que resta de liderança tem que pensar muito seriamente em ir a uma negociação e, desta maneira, os colombianos podem conquistar a paz", disse à imprensa ontem. (TS)