O Estado de São Paulo, n. 44956, 17/11/2016. Política, p. A5

Grupo invade a Câmara e expulsa parlamentares

Cerca de 50 pessoas passam por detector de metais, quebram porta da Casa, tomam plenário e defendem Moro e Lava Jato; ao menos três ficam feridos

Por: Daiene Cardoso / Igor Gadelha / Leonencio Nossa

 

Um grupo de cerca de 50 pessoas invadiu ontem o plenário da Câmara dos Deputados. Parte dos manifestantes defendeu intervenção militar, o combate à corrupção, o juiz Sérgio Moro e a Lava Jato.

A invasão começou no meio da tarde, quando homens e mulheres, entre jovens e idosos, passaram correndo pelo detector de metais da entrada principal do prédio e, no segundo pavimento, quebraram a porta de vidro que dá acesso ao plenário.

O deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que presidia a sessão, foi alvo de gritos como “sai fora”. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) tentou conter os manifestantes: “Ninguém toca no Maranhão”, dizia.

Parlamentares ajudaram, então, a retirar Maranhão do local.

Nesse momento, várias pessoas subiram na mesa para pedir intervenção do Exército na Casa. “General, aqui”, “general, aqui”, diziam.

A Polícia Legislativa chegou com armas de choque para retirar os manifestantes, que reagiram com socos. Alguns foram arrastados para fora do plenário.

A polícia, então, retirou funcionários e jornalistas do plenário.

Um agente de polícia, um secretário parlamentar e um invasor ficaram feridos.

Em seu gabinete, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a receber a informação da Polícia Legislativa de que havia manifestante com arma de fogo, o que não foi confirmado pela reportagem.

 

‘General’. O primeiro secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), comandou a negociação de saída dos manifestantes do plenário. Parte do grupo, que se intitulou de direita, só aceitava se retirar com a presença do presidente Michel Temer e de um general. “Mas eles disseram que não era qualquer general”, afirmou a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que também tentou negociar com o grupo. “Eles não têm um líder, uma bandeira certa. Quando um falava, outro mandava calar a boca.” Todos foram encaminhados para a Polícia Legislativa. Na saída, foram chamados de “patriotas” por simpatizantes e “fascistas” por funcionários da Câmara.

 

Depredação. Porta que dá acesso a plenário é quebrada

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Ocupação foi combinada por aplicativo

Por: Daiene Cardoso / Igor Gadelha / Leonencio Nossa

 

Quando os invasores entram no plenário da Câmara dos Deputados, parlamentares da oposição ao Palácio do Planalto chegaram a correr para intermediar o conflito com a Polícia Legislativa. Os parlamentares pensavam que eram manifestantes contrários ao pacote de corte de gastos do governo.

Mas logo saíram ao perceber o discurso de defesa de uma intervenção militar.

Manifestantes se identificaram à reportagem como um “grupo de direita”, que defende a volta da ditadura militar. Alguns subiram no espaço da Mesa Diretora da Câmara e cantaram o Hino Nacional. Um dos participantes, Jefferson Vieira Alves, disse ser empresário da construção civil e afirmou que o movimento foi organizado pelo celular, por meio do aplicativo WhatsApp, e reunia pessoas de diversas partes do País. “Estamos aqui hoje para fechar o Congresso Nacional”, disse Alves.

Os invasores foram encaminhados à Polícia Legislativa e seriam levados à noite para a Superintendência da Polícia Federal.

Eles seriam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, por tentar impedir o livre exercício de um poder da União. Dois deles serão indiciados por lesão corporal e dano qualificado. A polícia não divulgou nomes.

No dia anterior, o grupo protestou no gramado do Congresso.

O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) afirmou que a Câmara estava “unida” contra os manifestantes. “Uma coisa é um grupo de índios, um outro movimento social invadir para fazer alguma reivindicação. Outra é um bando de criminosos, bandoleiros, disposto a acabar com a democracia.” / D.C., I.G. e L.N.

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‘Inaceitável’, afirma Temer sobre ato

Por: Vera Rosa

 

O presidente Michel Temer condenou ontem a invasão do plenário da Câmara por manifestantes.

Segundo ele, ações como esta são “inaceitáveis”. "Episódios como o de hoje são inaceitáveis e serão combatidos à luz da lei, em defesa da garantia de integridade de cada uma das instituições de Estado", afirmou em pronunciamento lido pelo porta-voz da Presidência, Alexande Parola.

A invasão deixou o governo em alerta e apreensivo com os desdobramentos do episódio. Desde o feriado, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foi informado de que manifestantes de grupos favoráveis à intervenção militar prometiam fazer arruaça em Brasília.

Por precaução, a pista de ligação entre os palácios do Jaburu, residência atual de Temer, e do Alvorada foi fechada por algumas horas. / VERA ROSA