Procuradores ameaçam abandonar a Lava-Jato

Silvia Amorim e Dimitrius Dantas

01/12/2016

 

 

Força-tarefa acusa Câmara de tentar instalar ‘ditadura da corrupção’ no país e fala em suspender investigações

 

-SÃO PAULO- Os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato ameaçaram ontem renunciar ao trabalho na operação caso o pacote anticorrupção, aprovado pela Câmara, seja também aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente Michel Temer. Em tom de indignação e revolta, os procuradores convocaram em Curitiba uma entrevista coletiva menos de 12 horas após a votação em Brasília para criticar a versão aprovada.

— Fica claro que a continuidade de qualquer investigação sobre poderosos, parlamentares e políticos cria riscos pessoais para os procuradores. Nesse sentido, nossa proposta é de renunciar coletivamente caso essa proposta seja sancionada pelo presidente — disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

Aos jornalistas, o coordenador da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, leu uma nota em nome de toda a equipe de investigadores. O texto diz que a ação da Câmara foi “um ataque” e “o golpe mais forte desferido contra a Lava-Jato em toda a sua História”.

A força-tarefa é constituída por procuradores de vários estados, e, segundo Carlos Fernando, caso a versão desfigurada das dez medidas de combate à corrupção seja levada adiante, os procuradores irão renunciar e retornar às suas atividades habituais em outras procuradorias.

— Nós vamos simplesmente retornar para nossas atividades habituais, porque muito mais valerá a pena fazer um parecer previdenciário do que se arriscar investigando poderosos — afirmou o procurador.

Os procuradores acusaram a Câmara de aproveitar a comoção nacional pelo acidente aéreo com o time da Chapecoense para “subverter” o projeto de iniciativa popular e instalar uma “ditadura da corrupção” no país.

“Aproveitando-se de um momento de luto e consternação nacional, na calada da madrugada, as propostas foram subvertidas”, diz a nota.

Para a Lava-Jato, a mensagem que os deputados deram à sociedade foi “persigam os juízes e promotores e soltem os colarinhos brancos”.

 

 

O globo, n. 30432, 01/12/2016. País, p. 05.