Correio braziliense, n. 19526, 10/11/2016. Mundo, p.12

 

Começa a transição

 

 

SUCESSÃO NOS EUA » Barack Obama recebe hoje, na Casa Branca, o sucessor eleito, Donald Trump, para a primeira reunião sobre a transferência de poder. Ao fim de uma campanha agressiva e de uma votação surpreendente, republicanos e democratas acenam à conciliação.

Foi em meio à madrugada de celebração, em Nova York, que Donald Trump atendeu o esperado telefonema do homem de quem receberá as chaves da Casa Branca, em janeiro. Em um diálogo descrito como “muito agradável” pela chefe de campanha do presidente eleito, Kellyanne Conway, Barack Obama cumprimentou o vitorioso e convidou-o para uma reunião na manhã de hoje, na mansão presidencial, para que as equipes de ambos comecem os trabalhos da transição. Mais tarde, minutos depois de Hillary Clinton discursar reconhecendo a derrota, foi a vez de o presidente falar à imprensa sobre a histórica e surpreendente eleição — com direito a elogios para o tom conciliatório do pronunciamento feito pelo vencedor durante a festa no hotel Hilton Midtown.

“Assegurar uma transição de poder harmoniosa é uma das prioridades que o presidente identificou no início do ano, e encontrar o presidente eleito é a próxima etapa”, diz o comunicado da Casa Branca sobre o telefonema. Nos jardins da mansão, no primeiro pronunciamento público sobre o desfecho da disputa, Obama procurou reforçar os apelos do vencedor e da derrotada à reconciliação de um país que, pela quinta eleição presidencial seguida, mostrou-se nas urnas dividido praticamente ao meio. “

“Antes de tudo, somos americanos. Antes de tudo, somos patriotas. Todos queremos o melhor para este país”, afirmou. “Foi o que ouvi no discurso de Trump. Foi o que ouvi quando falei pessoalmente com ele. E me senti animado com isso.” Além de desejar êxito ao sucessor, o presidente elogiou a candidatura histórica de sua ex-secretária de Estado, primeira mulher a disputar a Casa Branca por um dos dois grandes partidos. 

Empoderado

Foi ainda no embalo de uma vitória saboreada como resposta a caciques políticos (democratas e republicanos), analistas da grande mídia e institutos de opinião — a “elite corrupta de Washington”, contra a qual disparou durante um ano e meio de campanha — que o magnata retomou a linha direta com os americanos pelas redes sociais. “Que noite bela e importante!”, tuitou às 6h30 em sua conta, que agora o apresenta como “presidente eleito dos Estados Unidos”. “Os homens e as mulheres esquecidos nunca mais serão esquecidos. Estaremos todos juntos como nunca antes.”

A breve mensagem se alinha com o tom pacificador com o qual abriu o discurso de vitória, no hotel Hilton Midtown, já depois das 3h30, depois de ter ouvido da adversária a aceitação do resultado. “Acabei de receber um telefonema da secretária (Hillary) Clinton. Ela nos cumprimentou, a nós, pela nossa vitória, e eu a felicitei pela campanha muito, muito dura”, começou o bilionário republicano. Trump elogiou a rival democrata por ter “lutado duramente” e, a despeito de tê-la chamado de “desonesta” e “criminosa” durante a campanha, mencionou a “dívida” dos americanos para com ela “pelos serviços prestados ao país”.

O candidato ácido da campanha reapareceu, no discurso, em uma menção passageira “àqueles que optaram por não me apoiar no passado, que não eram muitos”, embora com a indicação de que buscará “a orientação deles”. O presidente eleito não repetiu os ataques constantes a Obama, mas apontou como tarefas iniciais, no âmbito doméstico, “reconstruir a nossa nação e renovar o sonho americano”.  Na frente externa, tratou de dissipar receios e prometeu “buscar terreno comum, não hostilidade”, com “todas as pessoas e todas as nações”.

Protestos

Pequenos protestos contra a vitória de Trump foram registrados em algumas cidades, principalmente em redutos democratas. Em Nova York, manifestantes exibiam cartazes dizendo “não é meu presidente”. O mesmo lema foi gritado em Los Angeles por cerca de 500 estudantes. Ao norte da Califórnia, no vizinho estado de Oregon, os descontentes bloquearam o trânsito e obstruíram uma ferrovia. Não houve registro de violência. 

O preço do sucesso

As bancas de souvenirs reagiram imediatamente ao resultado da eleição de terça-feira. Ontem, o boneco do presidente eleito, Donald Trump, era vendido a US$ 19,99, enquanto o da candidata derrotada, Hillary Clinton, era oferecido por US$ 12. 

O preço do sucesso

As bancas de souvenirs reagiram imediatamente ao resultado da eleição de terça-feira. Ontem, o boneco do presidente eleito, Donald Trump, era vendido a US$ 19,99, enquanto o da candidata derrotada, Hillary Clinton, era oferecido por US$ 12 

Trechos/Donald Trump

Hillary trabalhou muito e durante um longo período de tempo, e nós temos para com ela uma grande dívida de gratidão pelo serviço que prestou ao nosso país.

Agora, é hora de a América curar as feridas da divisão, de se unir. Para todos os republicanos e democratas e independentes, em toda a nação, digo que é hora de nos reunirmos como um povo unido.

O que fizemos não foi uma campanha, mas um movimento incrível e grande, composto por milhões de trabalhadores e mulheres que amam seu país e querem um futuro melhor e mais brilhante.

A América já não se contentará com nada menos do que o melhor. Devemos recuperar o destino do nosso país e sonhar grande, de forma corajosa e ousada.

Embora sempre ponhamos os interesses dos EUA em primeiro lugar, vamos lidar justamente com todos. Todas as pessoas e todas as nações. Buscaremos terreno comum, não hostilidade. Uma parceria, não um conflito. 

Os resultados

Como se definiu a vitória de Trump *

Votação popular

» Hillary Clinton

59.755.498 (47,7%) 

» Donald Trump

59.542.028 (47,5%) 

Colégio Eleitoral

» Donald Trump - 279 delegados

» Hillary Clinton – 228 delegados

*apuração ainda por concluir nos estados de Michigan, Arizona e New Hampshire 

Gabinete em esboço

Veja alguns nomes mencionados 

Reince Priebus

Presidente do Comitê Nacional Republicano, é apontado como possível chefe de Gabinete 

Rudolph Giuliani

O procurador que impôs em Nova York a “tolerância zero” com o crime e depois marcou época como prefeito, é cotado para ser o procurador-geral, à frente do Departamento de Justiça 

Chris Christie

Ex-governador de Nova Jersey e um dos aliados mais fortes do presidente eleito entre os caciques do partido, também

é mencionado para a Justiça.

Newt Gingrich

Presidente da Câmara dos Deputados durante o governo do democrata Bill Clinton e expoente da “revolução conservadora” iniciada por Ronald Reagan, pode ser o secretário de Estado 

Stephen Hadley

Veterano do gabinete de George W. Bush, é citado para a Defesa ou para assessor de Segurança Nacional 

David Clarke

O xerife de Milwaukee poderá chefiar a Segurança Doméstica 

Michael Flynn

General reformado, é candidato a secretário de Defesa 

Steve Munichin

Integrou a equipe econômica da campanha e é cotado para o Tesouro Gabinete em esboço.