Correio braziliense, n. 19527, 11/11/2016. Brasil, p.6

 

Efeito Trump leva dólar para R$ 3,361

Antonio Temóteo

 

 

CONJUNTURA » Para tentar conter a alta de 4,73%, a maior desde 22 de outubro de 2008, o BC anuncia a retomada de swaps cambiais. Mercado reflete também a possibilidade de cassação da chapa Dilma-Temer, após denúncia de doação de R$ 1 milhão ao atual presidente. 

Diante da escalada no preço do dólar, o Banco Central (BC) anunciou que voltará a realizar as operações de swap cambial tradicional, que equivalem à venda futura da moeda norte-americana. No pregão de ontem, a divisa teve valorização de 4,73%, cotada a R$ 3,361, maior alta desde 22 outubro de 2008. Serão ofertados até US$ 6,5 bilhões em swaps até 1º de dezembro. Hoje a autoridade monetária leiloará 15 mil contratos, que correspondem a US$ 750 milhões.

A histeria do mercado em relação a que medidas Donald Trump adotará depois que assumir a Casa Branca também influenciou a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), que fechou em queda de 3,25%, aos 61.200 pontos. O presidente eleito dos Estados Unidos promete reduzir impostos e aumentar os gastos públicos para tornar o país competitivo. A política fiscal expansionista implicará pressões inflacionárias, e a promessa de frear a globalização tende a prejudicar o mercado global.

Com a expectativa de alta de preços nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) terá de subir juros para combater a inflação. O mercado apostava em uma alta de juros em dezembro e duas ao longo de 2017; e, com a eleição de Trump, estima três altas no próximo ano, diante da pressão inflacionária.

Diante dessas perspectivas, os investidores tiram dinheiro do Brasil e voltam a aplicar em ativos da maior economia do mundo. Os recursos que deixam o país pressionam o preço da moeda norte-americana, que se valoriza em relação ao real. Além da influência do cenário internacional, o mercado teme a volta da crise política ao Brasil.

A defesa da ex-presidente da República Dilma Rousseff apresentou ao Superior do Tribunal Eleitoral (TSE) documentos que apontam que Michel Temer recebeu R$ 1 milhão de doação para a companha de 2014. Há o temor de que o ministro do Superior do Tribunal Eleitoral (TSE) Herman Benjamin recomende a cassação da chapa Dilma-Temer. Segundo o diretor para a América Latina da Eurasia, João Augusto de Castro Neves, as chances de a chapa ser cassada são pequenas, com apenas 10% de probabilidade. “Mesmo que o relator tome essa decisão, há várias etapas até que isso se concretize, em um processo bastante longo”, afirmou.

Diante da forte elevação no preço do dólar, o presidente BC, Ilan Goldfajn, foi obrigado a fugir do estilo tradicional de poucas palavras. Ele afirmou, após palestra na Universidade do Chile, que a autoridade monetária continua monitorando os mercados. “Alguma flutuação é normal. Caso seja necessário, o BC atuará para manter as condições adequadas nos mercados”, disse.

Ele destacou que a autoridade monetária ajuda o mercado quando suspende os leilões de swap cambial para não adicionar ainda mais pressão de alta no preço do dólar. “A ideia sempre foi reduzir o estoque de swaps apenas quando as condições permitirem. O estoque de swaps está hoje no patamar de US$ 24 bilhões, um patamar confortável, que nos permite reduzir apenas quando as condições existirem e a gente desejar”, destacou. 

Retração

Diante da fuga de recursos do mercado brasileiro, as ações ordinárias do Banco do Brasil despencaram 6,41%. As preferenciais do Bradesco encerraram o pregão com desvalorização de 8,92%, os papéis do Itaú Unibanco caíram 4,98%, as do Santander registraram baixa de 4,56%.

Outras quedas do dia ficaram com as ações da Petrobras. As ações ordinárias desabaram 4,99% e as preferenciais, 6,91%. A desvalorização é reflexo da diminuição do preço do petróleo no mercado internacional. Os contratos de petróleo tipo WTI com vencimento em dezembro fecharam em baixa de 1,35% a US$ 44,66 o barril.

Apesar do forte movimento de queda, algumas empresas se beneficiaram com as possíveis mudanças na política econômica dos Estados Unidos. Os papéis preferenciais da Suzano Papel e Celulose subiram 13,57% e as ações ordinários da Fibria tiveram alta de 11,12%. Essas companhias têm receita em dólar e são beneficiadas pela alta na cotação da moeda. As das empresas ligadas ao setor de commodities, cujos preços estão em alta no mercado internacional, também foram favorecidas com as propostas de Trump.

As ações ordinárias da Vale tiveram alta de 7,48% e as preferenciais subiram 8,21%. Os papéis preferenciais da Gerdau tiveram ganho de 3,82%, os ordinários da CSN subiram 3,78% e as ações da Gerdau Metalúrgica subiram 5,42%. Esse movimento é um reflexo da valorização do minério de ferro, que terá aumento de demanda caso o Trump coloque em prática o plano de renovar a infraestrutura dos Estados Unidos.