Correio braziliense, n. 19527, 11/11/2016. Mundo, p.12
Encontro cordial
SUCESSÃO NOS EUA » Ao fim de uma campanha marcada por ataques duros e pessoais, Barack Obama recebe na Casa Branca o sucessor, que foi classificado repetidamente como "desqualificado" para o cargo. Depois de uma hora e meia, Donald Trump agradece pela "honra".
Durou mais de uma hora o primeiro encontro entre Barack Obama e o adversário político ácido a quem passará o cargo em janeiro de 2017. Donald Trump chegou à Casa Branca pouco depois das 11h (13h em Brasília) sem cobertura de imprensa, no início da tarde de ontem, para a primeira reunião destinada a tratar da transição de poder. O presidente, do Partido Democrata, passou todo o período da acirrada campanha sucessória, em especial na reta final, repetindo que considerava o candidato da oposição republicana “excepcionalmente desqualificado” para comandar a Casa Branca. O agora presidente eleito, por outro lado, cobrou provas de que Obama é americano nato e prometeu desmontar as políticas sociais implantadas por ele.
À saída do primeiro encontro para tratar da transição, porém, Trump classificou como “uma honra” a oportunidade de reunir-se com o adversário talvez mais formidável que enfrentou na corrida pela Presidência. Quanto ao presidente, disse estar “estimulado” pelo resultado da longa conversa, que qualificou como “abrangente” e “excelente”.
“Quero enfatizar, senhor presidente eleito, que a partir de agora vamos fazer tudo o que pudermos para ajudá-lo a ter sucesso. Porque, se o senhor tiver sucesso, o país terá”, disse Obama, lado a lado com o adversário, ao fim de quase uma hora de reunião na mansão presidencial. Distante do tom belicoso que adotou como candidato, quando chegou a qualificar Obama como um governante “fraco” e “incapaz”, Trump tratou de mostrar reverência. “Discutimos muitas situações distintas. Algumas maravilhosas, outras difíceis”, afirmou. “Eu aguardo pelas próximas oportunidades de me entender com o presidente. Penso inclusive em pedir conselhos.”
Diante das câmeras e dos microfones, os dois adversários trataram de exibir o comportamento institucional que caracteriza uma democracia bicentenária e admirada mundo afora pela constância. Obama fez questão de lembrar que a primeira-dama, Michelle, recebia paralelamente a mulher de Trump, Melania, em um encontro preservado da cobertura de imprensa (leia mais abaixo) — tudo em nome da normalidade democrática. “Queríamos ter a certeza de que eles se sentiriam bem-vindos”, disse o presidente à imprensa.
Antes de os dois protagonistas fazerem suas declarações, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, única testemunha do encontro entre os dois, enfrentou uma bateria de questionamentos dos repórteres que aguardavam ansiosos uma comunicação sobre o teor das conversas. Uma das primeiras perguntas dizia respeito às restrições reiteradas do presidente sobre a capacidade de Trump para assumir o cargo, incluindo a posse dos códigos para disparo do arsenal nuclear.
“Os dois não se reuniram no Salão Oval para requentar as diferenças”, afirmou Earnest. “Passamos para a próxima fase”, completou, em referência às tarefas relativas à transição de governo. O porta-voz reafirmou que o presidente “colocou os seus pontos de vista autênticos” durante a campanha e esclareceu que os dois adversários “não resolveram todas as diferenças” durante o encontro.
Celebridade
Funcionários da Casa Branca ocuparam quase completamente os degraus da entrada sul da mansão presidencial para acompanhar a chegada do sucessor, aguardada com ansiedade pelo pessoal do serviço permanente. Ao fim de uma campanha marcada por duras trocas de ataques, inclusive no terreno pessoal, a expectativa de quem convive com o dia a dia do centro do poder era pela maneira como o presidente e o sucessor se entenderiam no primeiro contato pessoal da transição.
Obama tinha a equipe de transição preparada desde meados do ano, e nos últimos dias dedicou parte do tempo a acertar os últimos detalhes para o processo. Mas, embora tenha elogiado a cordialidade que marcou o processo com o antecessor, o republicano George W. Bush, rompeu com o precedente da foto conjunta dos dois casais.
Frases
"A partir de agora vamos fazer tudo que pudermos para ajudá-lo a ter sucesso. Porque, se o senhor tiver sucesso, o país terá”
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.
"Eu aguardo pelas próximas oportunidades de me entender com o presidente. Penso inclusive em pedir conselhos”
Donald Trump, presidente eleito.