Em apenas uma joalheria, Cabral e Adriana compraram 460 joias

Chico Otavio e Daniel Biasetto

02/12/2016

 

 

Casal gastou R$ 5,7 milhões, sempre em dinheiro vivo, de 2000 a 2016

 

A força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio já tem em mãos todas as notas fiscais das compras de 460 peças feitas para o casal Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, pagas em dinheiro vivo, na joalheria Antonio Bernardo, entre 2000 e 2016. O volume de gastos é maior do que os investigadores estimavam no início da Operação Calicute e totaliza cerca de R$ 5,7 milhões, gastos em anéis, colares, alianças, pulseiras, pingentes, cordões e pares de brinco como o de turmalina paraíba, com diamantes de R$ 612 mil, de apenas uma grife.

Todas as compras tiveram notas fiscais emitidas recentemente, após a prisão de Cabral. A ocultação das vendas na contabilidade oficial da joalheria e a quantidade de peças compradas reforçam a suspeita da força-tarefa de que essa tenha sido uma forma de lavar dinheiro do esquema chefiado pelo ex-governador.

No documento entregue ao Ministério Público Federal e obtido pelo GLOBO, a empresa descreve cada item, com valores e data da aquisição de joias de ouro, diamantes e topázios. E afirma que as compras eram feitas de forma inusual: por meio de cheques emitidos para garantir a compra, que depois eram devolvidos e trocados por dinheiro em espécie. O método, para a força-tarefa, também tinha o objetivo de driblar a fiscalização da Receita Federal.

A joalheria apresentou apenas três cheques que foram depositados pela ex-primeira-dama. Os demais, dados como pagamento por Carlos Emanuel de Miranda, acusado de ser o operador de Cabral, foram devolvidos e trocados por dinheiro vivo.

Segundo a Antonio Bernardo, o casal comprou diretamente da grife 318 joias. A joalheria informou que emitiu as notas fiscais após a prisão do exgovernador para regularizar “a situação da empresa junto às autoridades fazendárias”.

Carlinhos Miranda, como é conhecido, e sua mulher Maria Angélica, prima de Cabral, adquiriram 120 peças. Miranda divide a cela com o ex-governador em Bangu 8. Também foram citados como compradores pela joalheria o ex-assessor da Assembleia Legislativa do Rio Luiz Carlos Bezerra (dez joias), apontado como operador, e Paulo Fernando Magalhães Pinto (12 joias), acusado pelo Ministério Público de ser laranja de Cabral.

No início da semana, O GLOBO mostrou que as joias compradas por Cabral também eram retiradas pelo casal Pedro Ramos de Mi-

 

 

O globo, n. 30433, 02/12/2016. País, p. 08.