Correio braziliense, n. 19518, 02/11/2016. Brasil, p.6

 

Movimento perde força

 

 

EDUCAÇÃO » A determinação de reintegração de posse das escolas, obtida pelo MEC na Justiça e que passou a ser cumprida desde ontem, diminuiu a participação de estudantes no movimento que se arrasta há mais de um mês. 

No Distrito Federal, cinco escolas estão ocupadas e 3.178 estudantes terão o Enem postergado. Uma estudante do segundo ano, que preferiu não se identificar, do Centro de Ensino Médio Ave Branca (CEMAB), desocupado ontem, é contra o ato, que julga ser “um movimento contraditório”. Segundo a jovem, os colegas protestam contra um projeto que pode prejudicar a educação, mas ocupam a instituição, que é impedida de ter aulas. “Acho válidas as manifestações, desde que não prejudiquem ninguém. Assim como foram em 2013, na Esplanada dos Ministérios. Eu só quero estudar e nem isso eu posso”, desabafou.

Na Universidade de Brasília (UnB), a ocupação chegou à reitoria, à Faculdade de Comunicação Social e ao prédio das Artes Cênicas. Alguns docentes da UnB estão solidários ao movimento estudantil, no entanto, afirmaram que farão o possível para manter o calendário acadêmico, apesar da ocupação chegar, inclusive, às salas de aulas. “Eu não considero legítimo o ato, porque a greve deve partir dos professores e não dos alunos, que são patrocinados pela sociedade para estudar”, afirmou um dos estudantes da FAC, de 22 anos, que preferiu não se identificar por medo de retaliação por parte de colegas de curso.

Felipe Ribeiro, 22 anos, aluno do décimo semestre de Engenharia Ambiental, também não é a favor do ato, porque “o grupo que decidiu pela manifestação pensa de maneira autoritária e radical”. “Eles clamam por democracia, mas não a praticam dentro da universidade. Na assembleia de ontem, eles não tinham o quórum mínimo para votação e decidiram pela ocupação”, justificou. Quanto à PEC 241(que limita os gastos públicos), Ribeiro conta que é a favor das ideias dela, por causa da necessidade de haver um limite de despesas do governo.

Já para a estudante de Letras, Maria Juliana Ravália, é fundamental que os alunos não fiquem de braços cruzados diante de medidas que julgam “não serem benéficas para a sociedade, sobretudo aos universitários e secundaristas”. “As pessoas precisam entender que nós não somos contra a sociedade. Nós também temos voz. A UnB já foi centro de resistência contra a ditadura, temos esse histórico de preocupação, ocupação, militância. Não é agora que vamos ficar quietos e calados diante desses absurdos”, desabafou.

Eduardo Meireles, aluno do 5º semestre de Comunicação, também participa das ocupações na reitoria: “É preciso lutar contra a PEC 241 e contra a escola sem partido. Sobretudo, é fundamental o apoio às manifestações secundaristas, que são contra a reforma no ensino médio”.