Título: PMDB prepara ofensiva contra o ímpeto lulista
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2011, Política, p. 9

Partido quer impedir articulação do ex-presidente, que gostaria de ver Chalita fora da disputa pela prefeitura paulistana para beneficiar Haddad

Brasília e São Paulo — A pressão do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para beneficiar a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, gerou um ato público do PMDB em defesa de Gabriel Chalita, nome do partido para a disputa pela prefeitura de São Paulo. Na quinta, o Correio mostrou que, após convencer Marta Suplicy a abandonar as prévias (ontem, os deputados federais Carlos Zarattini e Jilmar Tatto também abandonaram a disputa interna), Lula quer, agora, que o candidato do PMDB também desista para apoiar Haddad.

"A base aliada terá dois candidatos em São Paulo — Chalita e Haddad — e uma possível aliança em um eventual segundo turno só será discutida posteriormente", rebateu ontem o vice-presidente da República, Michel Temer. Mas Lula não desiste e telefonou ontem mesmo para Temer, marcando um encontro em sua casa, em São Bernardo do Campo (SP).

Desde que o PMDB filiou Chalita e anunciou que ele será o candidato do partido à prefeitura, os petistas tentam convencer a sigla aliada a abandonar a ideia. Um integrante do PT paulista chegou a dizer que Lula poderia "lembrar" a Temer que o partido está na chapa presidencial de Dilma Rousseff no momento e que poderia ser um erro "atrapalhar os planos do partido da presidente na principal cidade do país". A própria Dilma poderá participar dessa operação.

As especulações quanto à abordagem ao PMDB variam. A principal alternativa seria oferecer ao partido a vaga de vice na chapa de Haddad, com duas opções de nomes: o próprio Chalita ou algum nome com forte identidade paulistana, como Paulo Skaf. Caso isso ocorra, petistas menos ortodoxos defendem que a cadeira de Haddad no Ministério da Educação poderia ser oferecida a Chalita, que foi, por cinco anos, secretário de Educação em São Paulo.

Até o momento, ninguém do PMDB recebeu qualquer sinalização concreta de Lula para uma conversa, dizem aliados de Chalita. No evento de ontem em São Paulo, Temer lembrou que foi ele próprio quem avisou a Lula que o partido teria nome próprio à prefeitura, explicando que isso seria importante para os planos de fortalecer o partido na cidade. "Não sei se ele vai querer conversar conosco mais adiante. É lógico que, na cabeça do Lula, quanto menos adversários para disputar com Haddad, melhor", declarou um integrante da campanha de Chalita.

Polarização Um militante petista pondera, contudo, que a estratégia da cúpula do partido — tendo Lula como mentor — pode não ser o melhor caminho. No plano nacional, a polarização entre PT e PSDB consolidou-se nas últimas eleições, mas as disputas estaduais — e ainda mais as municipais — têm características próprias. Segundo esse integrante do PT, o partido provou desse veneno nas eleições municipais de 2008, quando teve como candidata a atual senadora Marta Suplicy. "Kassab (o atual prefeito Gilberto Kassab) e Geraldo Alckmin (atual governador de São Paulo) disputaram a prefeitura. No segundo turno, eles se uniram contra a Marta." Para ele, seria melhor deixar Chalita se fortalecer na disputa e buscar o acordo no segundo turno.