Título: Nem fica no Rio mais uma semana
Autor: Filizola, Paula; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2011, Brasil, p. 12

Preso no Complexo Penitenciário de Bangu (RJ) desde quinta-feira, o traficante Antônio Bonfim Lopes, conhecido como Nem, prestou dois dias de depoimento à Polícia Federal (PF). Após um apelo do governador Sérgio Cabral para que a Justiça autorizasse rapidamente a transferência dele e de outros criminosos presos nos últimos dias para presídios federais fora do Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça ofereceu vagas ao estado. Mas isso só deve ser resolvido no fim da semana que vem, já que Nem tem mandados de prisão em diversas Varas de Execução Penal do Rio. "Temos quatro presídios de segurança máxima e vagas para receber aqueles que forem presos nessas operações", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Segundo investigadores, durante os depoimentos dados por Nem à PF, ele estava assustado e falou pouco. Revelou que parte do seu faturamento ia para policiais civis e militares. O traficante comandava um esquema que movimentava cerca de R$ 100 milhões por ano. O governador Sérgio Cabral ressaltou ontem que a polícia precisa investigar o envolvimento de agentes da lei com a quadrilha que controla a venda de drogas na comunidade. "Se for comprovado isso, os responsáveis têm que ser presos imediatamente", destacou. Na última quarta-feira, policiais civis e ex-PMs foram presos escoltando traficantes ligados a Nem. Horas depois, o então chefe do tráfico da Rocinha também foi detido.

De volta ao Rio, depois de uma reunião em Berlim para apresentar os projetos na área de segurança para a Copa e as Olimpíadas, o secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame, confirmou que a ocupação definitiva da Rocinha, para a instalação da 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), terá início amanhã de madrugada. A fim de garantir o sucesso da operação, o ministro da Justiça disse que o governo federal dará todo o apoio necessário. "Somos uma só força e um só corpo nesse momento. (...) Aquilo que for necessário de efetivo nós disponibilizaremos."

Enquanto as autoridades discutem os últimos detalhes da ocupação policial, moradores da Rocinha seguem apreensivos. De acordo com a PM, os principais acessos à favela são vigiados e cerca de 80 agentes do Batalhão de Choque realizam patrulhamento na região. Segundo o médico Bruno*, que trabalha no Centro Municipal de Saúde na Rocinha, os traficantes que ainda estão na comunidade têm imposto toque de recolher aos moradores. "A movimentação é intensa. As pessoas estão se preparando para ficar dentro de casa nos próximos dias. A população ainda está com muito medo." Apesar dos recentes acontecimentos, Beth* contou que tem ido trabalhar normalmente. "Eles estão montando barricadas, revistando carros, ônibus, moradores, mas dá para sair de casa", disse a empregada doméstica, que afirmou estar receosa quanto à instalação da UPP. "A gente confia desconfiando, né? Fico preocupada que não dê certo."

* Nomes fictícios a pedido dos entrevistados