Correio braziliense, n. 19528, 12/11/2016. Economia, p. 7

Dólar fecha a R$ 3,392 apesar da atuação do BC

 

Antonio Temóteo

 

Em mais um dia de forte volatilidade no preço do dólar, o Banco Central (BC) foi obrigado a reforçar o ritmo de intervenções para conter a escalada da divisa norte-americana. Além da rolagem de 15 mil contratos de swap cambial tradicional, que equivalem a venda futura de US$ 750 milhões, a autoridade monetária ofertou US$ 952 milhões em novos papéis. Essas operações não eram realizadas desde setembro de 2015. Mas nem essa estratégia foi suficiente para conter o encarecimento da divisa estrangeira, que chegou a ser cotada a R$ 3,500 e terminou o dia valendo R$ 3,392, uma alta de 0,92%.

A venda de novos contratos de swap tradicional ainda podem elevar o estoque desse instrumento, que estava em US$ 24 bilhões antes da eleição de Trump. Se além da venda futura dos papéis, a autoridade monetária rolar integralmente os US$ 6,5 bilhões que vencem em 1º de dezembro, o montante crescerá. Para segunda-feira, está programada a rolagem de 15 mil contratos, que correspondem à venda de US$ 750 milhões. Novos leilões poderão ser realizados ao longo do dia.

Após palestra na autoridade monetária do Chile, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, destacou que os leilões de swap podem continuar e não descartou o uso das reservas internacionais para tentar conter a escalada do dólar.  “Nós nos reservamos o direito de atuar com qualquer instrumento disponível. Estamos hoje (ontem) com volatilidade nos mercados, isso faz parte do choque global”, disse ele.

Ilan ainda destacou que o estoque de US$ 24 bilhões em swap é confortável e há espaço para atuação. “O objetivo é dar liquidez, manter os mercados funcionando de forma adequada neste momento de volatilidade”, acrescentou. Além do aumento no preço do dólar, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) registrou queda pelo terceiro dia consecutivo, com desvalorização de 3,3%, aos 59.183 pontos, pela primeira vez abaixo dos 60 mil pontos desde 4 de outubro.

As ações preferenciais da Petrobras caíram 9,68% e os papéis ordinários tiveram baixa de 6,69%. A queda foi influenciada pela redução dos preços dos contratos de petróleo tipo WTI para dezembro, de 2,80% a US$ 43,41, o barril. A Petrobras também informou ao mercado, na última quinta-feira, que teve prejuízo líquido no terceiro trimestre de R$ 16,5 bilhões, o terceiro maior da história.

Impacto
A repercussão do resultado da eleição presidencial norte-americana e as incertezas derivadas desse processo continuarão a impactar a dinâmica dos preços dos ativos financeiros ao redor do mundo na próxima semana, avaliou o economista-chefe do banco de investimentos Haitong, Jankiel Santos. Ele destacou que no Brasil o quadro não será diferente, mas, para deixar as coisas ainda mais intrigantes, haverá um feriado que reduzirá a capacidade dos agentes de mercado de reagirem prontamente às novidades que surjam nos próximos dias.

Apesar das perspectivas negativas a curto prazo, Santos ressaltou que a próxima semana não deve ser tomada por indicadores econômicos que reforcem o quadro de incertezas. “Felizmente, o calendário de divulgações dos próximos dias contará com um volume de informações mais restrito, o que diminuirá a possibilidade de mais volatilidade ser adicionada a um ambiente já conturbado”, comentou.

Com a inesperada eleição de Donald Trump para a Presidência dos EUA, as incertezas quanto ao movimento do fluxo de capitais a curto prazo ao redor do mundo aumentaram, comentou o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Além disso, ele avaliou que a política fiscal mais expansionista dos Estados Unidos nos próximos anos exigirá como contrapartida uma política monetária mais restritiva no médio prazo por parte do Federal Reserve. “A era do juro nominal excepcionalmente baixo parece estar próxima do fim. Com isso, o dólar tende a se fortalecer frente a outras moedas nos próximos meses”, comentou.

Nas contas dele,  o real deve se desvalorizar em relação ao dólar em ritmo mais acelerado do que estimado anteriormente e a taxa de câmbio média em 2017 deve ficar em R$ 3,40, podendo terminar o próximo ano em R$ 3,60. “O impacto do ‘efeito Trump’ com a elevação das taxas de juros em âmbito global não significa o fim do interregno benigno, mas esse pode ser mais estreito do que o que prevalecia antes da eleição presidencial norte-americana. Para aproveitar o período corretamente, é condição sine qua non que o Executivo continue seu trabalho de ajuste das contas públicas”, completou.

Nota do Brasil permanece negativa
A Fitch manteve o rating do Brasil em BB, com perspectiva negativa. A nota de risco do país está dois níveis abaixo do grau de investimento desde 5 de maio deste ano. Segundo a agência, apesar de o Brasil ter pontos favoráveis, como a economia diversificada e a renda per capita relativamente alta, os desafios fiscais permanecem. Entre as preocupações da Ficth, estão a frágil situação financeira dos estados e uma eventual dificuldade de aprovar o ajuste fiscal, que podem afetar a trajetória da dívida pública.Para a agência, os desequilíbrios macroeconômicos do Brasil estão sendo corrigidos, mas a baixa popularidade do presidente Michel Temer, o desemprego em alta, expectativas de crescimento baixo e a Operação Lava-Jato impõem riscos ao ambiente político e podem desafiar o progresso das reformas esperadas.