Título: Portugal aperta mais os cintos
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Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2011, Economia, p. 17

Lisboa — O parlamento português aprovou ontem em primeira votação o orçamento de 2012 com novas medidas de austeridade, mais rígidas do que as recomendadas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar da oposição popular. O orçamento estabelece medidas como a supressão dos dois pagamentos extraordinários recebidos pelos funcionários públicos e aposentados com renda superior a 1.000 euros e o aumento em meia hora na jornada de trabalho no setor privado. O projeto foi aprovado com folga, já que o governo do primeiro-ministro de centro-direita, Pedro Passos Coelho, possui uma confortável maioria parlamentar, enquanto o Partido Socialista, principal força de oposição, decidiu se abster. A análise definitiva está prevista para 30 de novembro.

A votação do pacote está ocorrendo durante a segunda visita da chamada Troica (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e União Europeia) ao país com o objetivo de avaliar a aplicação das medidas de austeridade para decidir a concessão de uma terceira parcela, no valor de 8 bilhões de euros, do socorro financeiro já aprovado para Portugal. No entanto, "o ajuste orçamentário é muito superior" ao previsto no programa de ajuda, admitiu Passos Coelho.

Terceiro país da Zona Euro depois de Grécia e Irlanda a solicitar ajuda, Portugal recebeu um crédito de 78 bilhões de euros da UE e do FMI em troca da aplicação de um rígido plano de austeridade e de reformas para reduzir o deficit público e a dívida governamental. Um dos principais objetivos é cortar o rombo orçamentário para 5,9% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e para 4,5% em 2012.

As medidas, no entanto, podem acarretar uma forte recessão. Segundo o governo, a economia vai perder no próximo ano 2,8% do PIB, enquanto a Comissão Europeia aposta em uma queda de 3%. O nível de desemprego, atualmente de 12,5%, ficará no próximo ano em 13,4%, o que só aumenta a crise social. Os principais sindicatos convocaram uma greve geral para 24 de novembro, enquanto os funcionários públicos, categoria mais afetada pelas medidas de austeridade, devem realizar um protesto neste sábado, em Lisboa, assim como os militares, algo incomum.