Correio braziliense, n. 19529, 13/11/2016. Economia, p.8

 

Barreiras crescentes exigem maior preparo

Paulo Silva Pinto e Alessandra Azevedo

 

 

ENTREVISTA – ROBERTO JAGUARIBE

Presidente da Apex-Brasil destaca onda protecionista crescente. Além da resposta do governo, empresários precisam incrementar qualidade. 

O discurso protecionista que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, usou durante a campanha foi bem mais do que uma escolha pessoal. Para o embaixador Roberto Jaguaribe, isso reflete uma tendência mundial, em resposta ao temor das pessoas com a globalização. Embora Hillary Clinton, derrotada por Trump, estivesse mais alinhada com o livre comércio, ela também fez algumas declarações contrárias a essa ideia, na tentativa de ganhar votos, destaca o diplomata.

Nesse contexto de dificuldades, o Brasil busca no comércio internacional uma fonte de crescimento econômico. Não é tarefa impossível, explica Jaguaribe, mas exigirá um grande esforço dos empresários e do governo. A ele cabe uma das principais missões: preparar os exportadores brasileiros e promover seus produtos.

Depois de comandar as embaixadas em Londres e Pequim, Jaguaribe foi chamado pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, para presidir a Apex-Brasil. Nesta entrevista ao Correio, ele traça o caminho para a economia brasileira em busca de maior inserção no mundo. 

O que muda no comércio exterior brasileiro com o resultado das eleições nos Estados Unidos?

Nós não temos como fazer essa avaliação neste momento. Eu acho que ainda está muito em aberto o que podemos esperar. As eleições americanas mostram a relevância crescente da imagem em detrimento da realidade dos fatos. A capacidade de gerar percepções é muito mais relevante do que transmitir ideias concretas com base em fatos. Há, do ponto de vista global, um discurso geral de tendência mais protecionista. O mundo como um todo, não apenas os Estados Unidos, dá indícios de que caminha para isso, me parece uma coisa muito clara. 

Qual a chance de Trump causar estragos?

Sempre se diz que o presidente americano é o mais poderoso do mundo. Eu não tenho dúvida de que ele preside o país mais poderoso do mundo. Mas eu tenho dúvida se, de fato, ele é o homem mais poderoso do mundo, porque o sistema americano cria constrangimentos muito relevantes para a atuação do presidente. Trump pode ter todos os defeitos que se apregoa, mas ele é um homem de negócios, e não há a menor dúvida de que ele tem o lado pragmático elevado. E esse lado pragmático vai operar, como já operou. Ele tem atuado com muito exagero, com muitas colocações altamente questionáveis, mas isso pode ser parte de um projeto midiático que o permitiu chegar onde ele chegou. 

Mas o protecionismo é um risco real, certo?

De acordo com as tendências globais que a gente vê, haverá de fato uma tendência protecionista também nos Estados Unidos. Não podemos esquecer que a própria Hillary voltou atrás nas suas declarações de apoio ao Trans-Pacific Partnership (TTP) e a outros acordos comerciais que estão sendo negociados. Ambos detectaram avaliação negativa do eleitorado quanto a essas ideias. Mas haverá um lobby muito poderoso de pessoas que possivelmente têm influência e são próximas ideologicamente ao Trump, no sentido de promover esse tipo de entendimento. Não é uma coisa já garantida que não vá haver avanços. 

Trump mudará?

É provável que ele se distancie da persona de campanha e tome atitudes contrárias. Mas há argumentos de que ele não vai poder se afastar totalmente disso. Trump criou uma empatia com o setor conservador que não vai embora tão cedo. Outro dia eu li um comentário que me pareceu muito interessante. Os jornais não levam muito a sério o Trump, mas interpretam literalmente as coisas que ele diz. Já o eleitorado dele não leva de maneira literal nada do que ele diz, mas o leva a sério. Há uma crescente onda de protecionismo no mundo no momento em que o Brasil pretende fazer uma expansão do comércio. Isso se torna mais complicado, mas não quer dizer que seja impossível. 

Por que o Brasil se insere pouco no comércio global?

Nós somos um país de economia muito grande, mas nós não estamos nem entre os 20 maiores comerciantes do mundo. Somos o 25º atualmente. Isso não é tão particular ou peculiar. Somos um país continental e há uma tendência de países assim se voltarem muito para dentro. A China sempre foi assim e fez um esforço deliberado de mudar. A Índia é assim. Os Estados Unidos não têm uma proporção de comércio tão diferente assim do Brasil em relação à sua economia. Mas o Brasil, de todos os grandes, é o que tem menor participação. 

O que é preciso para essa transformação?

É importante ter presente que não se pode olhar o comércio puramente. Tem de enxergá-lo associado a investimentos e à internacionalização da empresa. Esses fatores estão muito interligados entre si. É melhor exportar percentual relevante de algo do que 100% de nada. O engajamento da empresa em outro país cria elementos de interesse local para que aquela empresa frutifique. Gera condições para você trazer produtos que são importantes e uma coisa frequente que a gente vê grandemente no Brasil. 

O Brasil pode ter vantagens se o Trump adotar uma política antichinesa, que poderia implicar retaliações da China na compra de produtos agrícolas. Outra possibilidade é que, sem o TPP, o Brasil venda mais em terceiros mercados. Temos oportunidades no meio dessa crise?

Sempre há. Crise significa oportunidade, em chinês, as duas palavras são muito parecidas. Você ganha dinheiro quando compra, não quando vende. Na crise, você compra barato e depois vende pelo preço normal. Mas eu reluto em pensar que o Trump vá adotar uma postura de certa irracionalidade econômica comercial no seu trato com a China. Não tenho dúvidas de que a falta do TPP vai fazer com que os países que estão de fora deixem de ter os potenciais prejuízos que teriam, caso ele viesse a se concretizar, a exemplo do Brasil. A China é um país extraordinariamente importante do ponto de vista global, e mais ainda, do ponto de vista do Brasil. Trata-se do nosso principal parceiro comercial, o principal investidor nos anos recentes e, ainda, um grande financiador de recursos de bancos públicos chineses para entidades brasileiras. Eles têm uma carteira de exportação no Brasil superior a US$ 24 bilhões. 

O que aproxima o Brasil e a China?

A relevância da relação entre os dois países se dá em função de uma grande complementaridade econômica comercial, e do fato de que a China, apesar de ser uma gigantesca economia, já provavelmente a maior do mundo, é um país que terá sempre algumas deficiências em termos de autossuficiência. E elas se situam em áreas em que o Brasil é particularmente competitivo, com uma capacidade de oferta muito significativa. Portanto, há um interesse muito claro da China no Brasil. Isso aumenta a relevância dessa relação. Mas é preciso lembrar que a China tem uma visão estratégica de tudo, inclusive da sua relação com o Brasil, com Estados Unidos e com outros países. Tem evidente pretensão de relacionamento fluido e positivo com todos, mas sabe perfeitamente quais países têm mais capacidade de gerar impedimentos para o seu progresso. Se houver uma ideologização da relação entre China e Estados Unidos, o Brasil pode se beneficiar. Mas eu acho que prevalecerá o pragmatismo por parte do Trump. 

A nossa pauta de exportações continua sendo predominantemente primária. Isso pode mudar?

Acho que não apenas pode, como deve mudar. A China está mudando sua economia num rumo diferente. Está ciente de que é impossível manter o plano que tinha de se transformar no grande centro manufatureiro do mundo. Por razões tanto econômicas quanto de outras naturezas, esse projeto já não tem viabilidade. Eles sabem perfeitamente disso. Vão ter que acomodar importações também com valor agregado. Acho também que o Brasil tem que fazer mudanças internas. A nossa agricultura aqui, que é extremamente eficaz, é o elemento mais dinâmico da nossa produção e do nosso comércio exterior. Já na área industrial, temos mais questões de produtividade que afetam o comércio. Na área de agricultura, nós mesmos criamos muitas dificuldades. Ou seja, nós, muitas vezes, criamos facilidade para importação do valor agregado e impedimentos para importação da matéria-prima, ao contrário do que faz um país que quer agregar valor. Nós precisamos corrigir essas coisas aqui também. 

Um exemplo disso?

Café é o exemplo mais notório de todos. O Brasil tem uma lei que impede entrada de café verde. No entanto, pode comprar café com valor agregado sem dificuldade. Isso faz parte de uma coisa que claramente é equivocada. O Ministério da Agricultura está querendo dar uma racionalidade a uma questão complexa que tem muitas variáveis e muitos atores relevantes envolvidos. Felizmente, os problemas do Brasil são brasileiros, porque, assim, a gente pode resolver. Se fossem chineses, americanos ou europeus, nós não teríamos como.

Nos últimos anos, a balança comercial brasileira melhorou graças à queda de importação, mas a exportação caiu também. Por quê?

A recessão, a maior da nossa história, é um elemento indutor da redução de importações muito evidente. Por outro lado, as indústrias se sentem pressionadas a buscar alternativas e a levar os seus produtos para outros mercados. A desvalorização da moeda facilita tanto a nossa competitividade externa como a competitividade interna do nosso produto em comparação com o importado. No entanto, estamos em um momento de contração do comércio. Nos últimos anos, o comércio internacional tem crescido a cifras significativamente maiores do que o crescimento geral do PIB. Agora estamos vendo um processo inverso. A tendência protecionista provavelmente vai exacerbar esse contexto. Portanto, esse relativo declínio da exportação do Brasil tem que ser visto no contexto de grande restrição e redução de movimentação de comércio. Não é uma coisa tão negativa assim. 

Além da falta de competitividade, o Brasil também tem um problema de promoção do Brasil, não?

Eu não tenho dúvida. Mas, por outro lado, aqui mesmo, na Apex, nós desenvolvemos muitos programas com café brasileiro, o que já criou uma reversão importante dessa sinalização de perda de espaço. Esse programa começou há 18 anos e deu origem a uma série de iniciativas que colocaram o Brasil no mapa dos cafés de qualidade no mundo. O Brasil tem uma situação privilegiada na área do café. Com nosso território tão amplo, com tantas regiões propícias ao cultivo, temos uma multiplicidade de variedades aqui mesmo no Brasil. O café é um produto com um custo de mão de obra envolvido muito elevado e, portanto, o cultivo familiar tende a ser um elemento muito propiciador. 

A Colômbia gasta muito com promoção. O Brasil deveria fazer a mesma coisa?

O custo dessa campanha é elevado para o produtor. Então, se você for ver, o percentual do preço final do café que vai para a mão de quem planta na Colômbia é muitas vezes menor do que o daqui. Apesar de o Brasil ter custos elevados, o produtor ganha um percentual muito mais elevado do preço final do café do que na Colômbia. E, mesmo com o sucesso da marca colombiana, a produção relativa deles se deteriorou. O Vietnã, que não tem impacto de marca, apenas de preço, ganhou um espaço internacional muito maior. A promoção comercial é um elemento importante para uma multiplicidade de setores. Acoplada a isso, tem também a questão da imagem do país. Estamos trabalhando em muitas frentes para fazer mudanças de impacto nas duas áreas. 

Qual é a principal frente de promoção do Brasil?

A questão da imagem. Adotamos a ideia de que a sustentabilidade tem que ser o carro-chefe da imagem do Brasil, não apenas no agronegócio. Estamos fazendo, com o Ministério da Agricultura, um programa, juntando quase todos os grandes setores. A enorme revolução da agricultura no Brasil é extraordinária nos últimos 30 anos. Possivelmente a coisa mais importante que fizemos nesse período foi a revolução no campo, não só pelo ponto de vista de tecnologia, mas social, e na questão da produtividade e da sustentabilidade. Apesar de isso tudo ser verdade, lá fora se cultiva uma percepção de que o nosso avanço de deve à devastação da nossa cobertura vegetal. Não tem nada a ver. Na verdade, a área plantada no Brasil, nos últimos 30 anos, para grãos e outras coisas, sofreu alterações relativamente pequenas. O que teve alterações absolutamente significativas foi a produtividade. 

Em que isso pode ser usado em outras áreas que não a agricultura?

A questão da sustentabilidade é um dos carros-chefes na questão da imagem. É um conceito moderno de produção, não de conservação apenas. Produzir sustentavelmente tem impacto mais amplo. Isso é um dos carros-chefes da nossa campanha Be Brazil. É algo muito flexível, que incorpora atributos muito associados ao Brasil e à produção brasileira, como criatividade, diversidade, uma série de elementos muito positivos. 

Qual pode ser o impacto?

Estamos aqui trabalhando tanto para a promoção de exportações como, para a atração de investimentos. O Brasil é um país indicado como destino de investimentos muito favorável. Não é à toa que nós somos sempre, ao longo dos últimos anos, um dos destinos prioritários para investimento direto estrangeiro. E olha que 2015 foi muito complicado para nós, com instabilidade política e recessão econômica. A questão da zika teve repercussão internacional, mas, ainda assim, o Brasil foi o sétimo maior destino de investimento estrangeiro no mundo. Queremos ampliar nossa capacidade de atuação nesse segmento. 

Até que ponto a promoção comercial pode trazer ganhos?

É preciso ter em mente o seguinte: não se faz mágica com a promoção comercial. Se não tem produto competitivo, não é a promoção comercial que vai conseguir te dotar disso. Claro que, em certos segmentos, marketing e promoção são essenciais. Água, por exemplo. Como é possível vender água do outro lado do mundo por preços exorbitantes? A promoção comercial ajuda em todos os segmentos, mas não vai superar dificuldades de competitividade da produção. A competitividade é sempre importante, pode ser, em alguns segmentos, totalmente determinante e, em outros, menos prioritária, mas ela sempre é importante. Em última instância, é um dos ingredientes necessários. Mas no setor moveleiro, quando se acrescenta o design ou outras questões de percepção de lifestyle que venham associadas a marketing e propaganda, você gera valores intangíveis importantes. 

É um caminho já trilhado antes no mundo?

Alguns países já têm esse espaço conquistado. O Brasil dispõe de muitos elementos favorecedores para isso, mas precisa de uma campanha, sobretudo que seja consistente e sistemática. Não precisa ser cara, mas sim manter a consistência e a sistematicidade por muito tempo. Hoje, os elementos de penetração de percepção são muito amplos, e a mídia social tem um papel fundamental. Poucas pessoas têm o domínio da evolução nessa área, que ocorre de maneira tão rápida. É uma coisa complexa. Mas acho que, trabalhando com inteligência, se consegue evitar gastos muito significativos. Isso é necessariamente o que temos que fazer, porque não temos recursos para gastos significativos. Temos que trabalhar em muitas dimensões. Estamos concentrando, em um primeiro momento, nessa ideia de sustentabilidade. Ela tem um efeito desdobrado muito positivo, inclusive porque também gera efeitos internos no Brasil, reforçando o que já é uma realidade. Mas sempre se pode se reforçar mais. É necessário se aderir plenamente a esse conceito de sustentabilidade. 

Essa campanha já está na rua?

Sim, de forma modesta. Começou com o uso do maior espaço de imagem possível, os Jogos Olímpicos. Durante 20 dias, querendo ou não, o Brasil foi primeira página de todos os meios de comunicação importantes do mundo. Fizemos uso disso para o lançamento do programa, um pouco no fim, mais concentrado, principalmente por conta dos custos. Fazer esse trabalho nas Olimpíadas é mais caro. Agora, estamos dando continuidade. Concomitantemente, estamos fazendo uma convergência com todos os programas setoriais da agência, que têm que sentir como que o Be Brazil se encaixa neles. Quais os atributos daquele tipo de produção que entram no conceito. Porque o Be Brazil é seja Brasil, seja sustentável, seja criativo, seja bonito, seja diverso. Cada setor terá atributos que são convenientes de se colocar. Estamos fazendo essa convergência de uma plataforma unificada, e vejo grande potencial nessa área. É fundamental, tem impacto grande. Há muitos programas com indústrias criativas aqui. Pequenas indústrias, de publicação, de jogos. 

Essas indústrias podem contribuir de forma significativa para a balança comercial brasileira?

Não, não tenho minimamente essa expectativa. Mas tenho absoluta segurança de que elas têm um impacto de imagem gigantesco. O setor cultural, a indústria criativa trazem muita projeção. O trabalho consiste em ajudar as empresas a ter penetração no exterior. Desde música, até cinema, vídeo, jogos, design, arquitetura, todos esses são setores que não vão dar um diferencial muito significativo em termos de balança comercial, mas ajudam a consolidar a imagem de um país com muita coisa para oferecer e que não é identificada lá fora. O Be Brazil é um conceito em que a campanha visa essencialmente contar casos de sucesso de produtos brasileiros no exterior, com essa ideia de criar um goodwill, uma boa vontade, em torno do Brasil como parceiro de negócios. Claro que a gente vai usar grandes forças do comércio exterior. Esse diferencial dá sustentabilidade ao nosso negócio. Mas também vamos para o design de moda, vamos para a chamada economia criativa, sempre visando vender casos de sucesso, mostrando a riqueza do que temos aqui. 

Além de promover, o que a Apex faz para as empresas exportarem mais?

Promoção tem limite. É uma certa ficção pensar que o Brasil não exporta porque não tem acordos comerciais. A gente não exporta porque não é competitivo. A primeira questão que precisa fazer é ampliar a competitividade. Precisamos também ampliar a noção do comércio exterior. Muitas empresas brasileiras têm produtos com capacidade real de penetração, mas a mentalidade da empresa e dos dirigentes não é focada para fora.

Então, tem todo um programa conduzido com o objetivo de trazer a consciência do potencial exportador. Isso tem um impacto relevante. Vamos fortalecer a capacidade de aumentar a competitividade do produto para mercado específico. Para isso, já temos programas que são voltados para pequenas e médias empresas, que são de capacitação da empresa para exportação. Se nós queremos ampliar a exportação, temos que ter capacidade de contribuir para todas as etapas do processo de exportação que têm relevância. Isso começa na produção. Temos programas para isso e queremos ampliar, como queremos ter uma participação mais ativa para contribuir nas transações comerciais, que agora se aceleram. 

Negociar tratados comerciais ajuda?

A negociação comercial tampouco é mágica. Assim que eu abro, começo a exportar para aquele país? Não. Só se você tiver produção adequada. Mas claro que ela ajuda. E é natural que a gente procure ampliar o leque de possibilidades nesse eixo.

E também é natural que uma agência como a Apex possa dar subsídios para melhor dirigir o encaminhamento das negociações. Há barreiras que a gente tem que superar, que os setores exportadores já nos comunicam. O que eles podem exportar para certos lugares, o que têm de preferência. Tudo isso pode se transformar em insumos importantes para melhor dirigir as exportações e, sobretudo, acho fundamental as parcerias necessárias, porque ninguém faz nada sozinho. 

Quem pode participar disso?

Tem uma multiplicidade de atores relevantes no processo, e a Apex pode funcionar como um gerador de sinergias em um rumo unificado para ajudar nesse processo. Em particular, a integração dos setores do Ministério das Relações Exteriores é o elemento fundamental. Isso ficava em paralelo. Gerar capacidade exponencial de inteligência que é o principal elemento nesse processo. A promoção pura é importante, mas o conhecimento da demanda e da capacidade de oferta do cruzamento e dos ajustes necessários para que esse cruzamento seja eficaz é um dos segredos do negócio. Esse alinhamento com o Itamaraty vai criar oportunidades extraordinárias. 

Faltava integração?

Faltava completamente. Pelo contrário, havia o que parecia um processo de competição e de esconder informações, que, aliás, não é incomum. E é um absurdo. A principal deficiência no Itamaraty e em outros órgãos é a falta de coordenação, é um dos elementos mais importantes que tem que ser superado. Por isso esses modelos novos, inclusive a colocação da Camex no nível presidencial, são muito favoráveis de se criar sinergias reais para melhorar a condição do comércio exterior.

Empresários criticam a falta de acordos comerciais recentes. Isso é um problema?

Discordo. Não quero dizer que não sejam importantes. A China se tornou o maior exportador do mundo sem ter feito nenhum acordo internacional com os grandes destinos. Foi em função de uma política econômica dirigida para gerar competitividade. Esse é claramente o elemento central. Outros países mostram como os acordos são importantes, como o Chile. Tem que olhar os dois lados. Não adianta pensar que o acordo vai fazer mágica, porque não vai. O que vai fazer mágica é aumentar a capacidade produtiva e a competitividade, e também trabalhar com todos os outros elementos.