Correio braziliense, n. 19521, 17/11/2016. Política, p. 2

Protesto e baderna no plenário da Câmara

Manifestação de grupo a favor da volta do regime militar interrompe a sessão por quase três horas. Durante a confusão, duas pessoas ficaram feridas. Um dos agressores já foi identificado pela Polícia Legislativa e vai responder por lesão corporal

Por: Paulo de Tarso Lyra e Julia Chaib

 

Cerca de 50 manifestantes invadiram ontem o plenário da Câmara, quebraram uma porta de vidro, subiram na Mesa Diretora da Casa, defenderam a intervenção militar, o fechamento do Congresso e paralisaram os trabalhos por quase três horas. A Polícia Legislativa foi chamada para evacuar o plenário, mas depois de uma longa e tensa negociação o grupo cedeu e deixou o recinto. Um assessor parlamentar e um segurança ficaram feridos.

Eles foram fichados na Polícia Legislativa da Câmara e encaminhados à Polícia Federal para responder por invasão por depredação do patrimônio público. Ao menos um dos agressores foi identificado pelos agentes da Câmara. Será indiciado por lesão corporal. Se todos acabarem enquadrados na Lei de Segurança Nacional, poderão pegar de dois a cinco anos de prisão.

A confusão teve início por volta das 15h20. Os manifestantes se concentraram no corredor que dá acesso à Presidência da Câmara, quando resolveram atravessar o Salão Verde correndo. Para evitar que fossem parados, colocaram as mulheres à frente, como escudo. Após destruírem a porta do plenário, derrubaram o iPad de um parlamentar. Quando o assessor do deputado foi pegá-lo, acabou atropelado e chutado pelos invasores. Diante de um atônito vice-presidente Valdir Maranhão (PP-MA), rapidamente ocuparam o espaço onde fica a Mesa Diretora.

“Viva Sérgio Moro. Chamem o general”, gritavam eles, de maneira desconexa. Exaltados, braços levantados, cantaram o Hino Nacional. “Nós somos o povo, e viemos para cá porque este Congresso não nos representa. Ele tem que ser fechado e virar uma grande cadeia”, defendeu Jefferson Vieira Alves, dito empresário da construção civil. Alguns falavam ser contra a PEC dos gastos, outros criticavam o pacote anticorrupção. “A nossa bandeira jamais será vermelha. Abaixo o comunismo”, completavam.

Começou, então, uma longa negociação. Primeiramente, os jornalistas foram retirados do plenário. Depois, afastados da entrada do plenário. Os deputados Beto Mansur (PRB-SP), primeiro-secretário, e Lincoln Portela (PRB-MG) tentaram negociar.  “Eles não protestam contra políticos de esquerda ou de direita. Eles protestam contra a política de forma geral. São contrários à democracia”, prosseguiu o deputado Marcos Rogério (DEM-RO).

“Nós estávamos ontem (terça-feira) na frente do Congresso, protestando contra esses políticos corruptos e decidimos, de maneira espontânea, invadir a Câmara”, prosseguiu Antonio Francisco, que não disse o que fazia da vida. Enquanto eles davam entrevista no Salão Verde, representantes do sindicato dos vigilantes, que aguardavam a votação de um projeto que estabelece um piso mínimo para a categoria, xingavam os invasores. “Fascistas, golpistas. Seu branco racista”, gritou um dos vigilantes. Por pouco, os grupos não entraram em confronto.

“Eu já vivi a ditadura militar. Não posso concordar com retrocessos na democracia”, afirmou o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS). Os invasores abriram uma imensa bandeira de Pernambuco. Tinha manchas de sangue, de uma senhora que estava à frente do grupo quando a porta de vidro foi estilhaçada. A tensão aumentava. “Pelo jeito, não haverá outra saída. Estamos tentando negociar, mas eles não querem. Acho que o uso da força será inevitável”, preocupou-se o deputado Guilherme Mussi (PP-SP).

A autorização para a invasão e a ordem para que todos fossem presos foi dada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “A partir do momento em que pessoas resolveram invadir o parlamento, quebrar dependências, subir na mesa do presidente, eu dei a ordem ao diretor do Depol (Departamento de Polícia Legislativa) para que todos sejam presos. Não negociaremos com baderneiros”, afirmou Maia. “Tem muitos crimes cometidos por eles hoje (ontem)”, completou o presidente da Casa. Por volta das 17h, os primeiros manifestantes começaram a deixar o plenário, escoltados por agentes da polícia legislativa. A desocupação terminou às 18h, sem a necessidade de violência.

O presidente Michel Temer lamentou o ato. “A invasão constitui uma afronta à instituição que representa a soberania popular e um desrespeito às normas de convívio democrático. A Constituição Brasileira garante a todos o livre direito à manifestação de suas opiniões, mas não protege a agressão e o desrespeito institucional”, disse o porta-voz do presidente, Alexandre Parola.