Título: Sai Papandreou, entra Papademos
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Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2011, Economia, p. 18
Primeiro-ministro grego toma posse sob pressão para aprovar medidas de austeridade. Sem elas, não terá pacote de socorro
Atenas — O governo de coalizão da Grécia, tendo à frente o novo primeiro-ministro, Lucas Papademos, tomou posse ontem sob extrema pressão. Além da constante vigilância dos demais 16 países que compõem a Zona do Euro e da desconfiança popular, a equipe econômica precisa aprovar rapidamente duras medidas de austeridade fiscal. Sem a chancela do parlamento ao programa de corte de gastos e de aumento de impostos, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não liberarão uma parcela de 8 bilhões de euros do primeiro plano de socorro. Sem o dinheiro, a administração não terá como pagar despesas básicas, como os salários dos servidores públicos no mês que vem.
"Vamos fazer todo o possível para enfrentar os problemas do país. Com a unidade de todas as pessoas, teremos êxito", disse Papademos ao agora ex-primeiro-ministro, George Papandreou, numa rápida solenidade de transmissão do cargo. O gabinete, que tem ministros de ultradireita pela primeira vez desde o retorno da democracia após o fim da ditadura militar, em 1974, prestou o tradicional juramento diante de autoridades da Igreja Ortodoxa. Vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) entre 2002 e 2010, Papademos, 64 anos, foi escolhido como sinalização aos líderes da Europa de que o país vai se esforçar para cumprir as exigências fiscais e monetárias do bloco. Ele fará um aguardado pronunciamento na segunda-feira.
Compromissos Um dos principais artífices da queda de Papandreou, de quem é desafeto, Evangelos Venizelos, 54 anos, seguirá à frente do Ministério das Finanças, além de acumular o cargo de vice-primeiro-ministro. Sua principal missão será negociar os termos da redução da dívida pública com os bancos, que aceitaram arcar com um calote de metade do valor dos títulos que teriam a receber. Ontem, ele disse que a nova administração vai reafirmar os compromissos aos credores internacionais. Segundo o ministro, nenhuma medida adicional será necessária além do impopular programa apresentado por Papandreou, que inclui o corte de salários e de aposentadorias e a privatização de estatais. Na semana que vem, inspetores do FMI, da UE e do BCE visitarão o país.
Incógnita Formada por três partidos, a coalizão de Papademos já nasce com uma maioria de 254 deputados, num total de 300 no parlamento unicameral. Os líderes gregos não definiram quanto tempo o gabinete durará. A princípio, ele seria dissolvido em fevereiro do ano que vem, quando eleições gerais escolheriam um novo Congresso. Mas, perguntados sobre o acordo ontem, autoridades foram evasivas. Outra incógnita é a coesão de uma equipe que aumentou em 47 membros, entre eles nove ministros adjuntos e 21 secretários de Estado. Quatro ministros serão do partido Laos, de extrema-direita.
Pontos de interrogação O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, disse ontem que a crise europeia gerou dúvidas sobre o futuro da moeda compartilhada por 17 nações do continente. "É um momento muito difícil para Zona do Euro. Existe uma turbulência real nos mercados, pontos de interrogação sobre se os países podem lidar com suas dívidas e sobre o futuro da Zona do Euro", disse em entrevista à Radio 2 da BBC. "Minha responsabilidade é, obviamente, tentar ajudar com uma solução para esses problemas."