Correio braziliense, n. 19539, 22/11/2016. Política, p. 2

Mesmo investigado, Geddel fica no governo

 

Julia Chaib
Paulo de Tarso Lyra

 

As acusações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o pressionou para atender interesses pessoais, gerou mal-estar no governo e culminou em um processo na Comissão de Ética da Presidência da República. O colegiado abriu a investigação por unanimidade, depois de o conselheiro José Saraiva, único dos sete integrantes indicado pelo governo do presidente Michel Temer, rever o pedido de vista que havia feito pela manhã. Apesar das denúncias, Temer assegurou a permanência de Geddel, articulador político do governo. O PT e o PCdoB pediram investigação da Procuradoria-Geral da República contra o ministro, que não comentou a abertura do processo.

Calero entregou o cargo na última sexta-feira, alegando deixar o governo após ser pressionado por Geddel para conseguir autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para liberar a construção de um prédio em Salvador, apesar de parecer técnico contrário do órgão. Baiano, Geddel tem uma unidade no empreendimento La Vue Ladeira da Barra, que seria construído em uma área tombada da capital baiana. Ontem, após a mudança de posição de um conselheiro, a Comissão de Ética abriu o processo investigatório que pode resultar em advertência, com sugestão de demissão do ministro. O presidente da comissão, Mauro Menezes, disse ter recebido uma ligação de Geddel pedindo celeridade no processo.

“O ministro telefonou à comissão durante a reunião e pediu para conversar conosco. Ele se mostrou disposto a apresentar os esclarecimentos que julga pertinentes e eu expliquei ao ministro que ele terá condições de prestar esclarecimentos”, afirmou o presidente do conselho. Saraiva também recebeu uma ligação de Geddel, antes de mudar de voto. Segundo o presidente do colegiado, não há conflito ou suspeição no gesto. Menezes disse confiar na “absoluta autonomia” com que agem os conselheiros e disse ser “absolutamente normal” a ligação de Geddel. Segundo o presidente, a comissão recebe visitas dos ministros investigados e não há conflitos. “Como nós não temos cargo de confiança, não abala nem interfere a nossa convicção”, afirmou.

Baiano como Geddel, Saraiva recebeu em 2012 o título de cidadão de Salvador pela Câmara Municipal, por indicação do então presidente da Casa à época, Pedro Godinho (PMDB). Em 2015, foi a vez de Assembleia Legislativa do Estado da Bahia dar-lhe o título de Cidadão Baiano. Menezes afirma que o conselheiro justificou ter desistido do pedido de vista para não atrasar o andamento do processo. “O conselheiro Saraiva, num gesto de boa vontade, em consonância com a maioria dos conselheiros, alterou seu posicionamento e passou a acatar a abertura imediata do processo”, disse o presidente do colegiado.

 

Próxima reunião

Antes da mudança de voto de Saraiva, cinco dos sete conselheiros já haviam se manifestado pela abertura do processo para investigar Geddel por conflito de interesse. O relator será designado amanhã. Geddel tem 10 dias para prestar esclarecimentos à comissão, que voltará a se reunir em 14 de dezembro e coletará provas até então. Não há certeza de que haverá decisão neste ano.

Em meio à análise sobre abertura de processo e reclamações por parte da oposição, o presidente Michel Temer fez questão de garantir, por meio de pronunciamento do porta-voz, que o ministro não será demitido. “O presidente Michel Temer ressalta, adicionalmente, que todas as decisões sob responsabilidade do Ministério da Cultura são e serão encaminhadas e tratadas estritamente por critérios técnicos, respeitados todos os marcos legais e preservada a autonomia decisória dos órgãos que o integram, tal como ocorreu no episódio de Salvador”, afirmou o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola.

Mais cedo, outros ministros do núcleo duro de Temer se pronunciaram a respeito. Em Paris, o secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Moreira Franco, afirmou que o presidente estava preocupado com a questão e que analisaria a permanência de Geddel. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, por sua vez, recusou-se a comentar o caso e disse que era uma questão da Presidência. A oposição aproveitou as denúncias e foi ao Ministério Público contra Geddel. Mas à noite, o líder do governo, André Moura, garantiu que Geddel recebeu apoio de parlamentares. Integrantes do chamado Centrão, grupo informal de 13 partidos, disseram que não vão atuar para prejudicar o ministro, que trata diretamente com o Congresso Nacional.

Mesmo investigado, Geddel fica no governo

CRISE NA REPÚBLICA » Comissão de Ética da Presidência da República abre processo contra o titular da Secretaria de Governo, acusado de pressionar o ex-ministro da Cultura por interesse pessoal em uma obra em Salvador. Temer decide mantê-lo no cargo

JULIA CHAIB

PAULO DE TARSO LYRA

 

As acusações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o pressionou para atender interesses pessoais, gerou mal-estar no governo e culminou em um processo na Comissão de Ética da Presidência da República. O colegiado abriu a investigação por unanimidade, depois de o conselheiro José Saraiva, único dos sete integrantes indicado pelo governo do presidente Michel Temer, rever o pedido de vista que havia feito pela manhã. Apesar das denúncias, Temer assegurou a permanência de Geddel, articulador político do governo. O PT e o PCdoB pediram investigação da Procuradoria-Geral da República contra o ministro, que não comentou a abertura do processo.

Calero entregou o cargo na última sexta-feira, alegando deixar o governo após ser pressionado por Geddel para conseguir autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para liberar a construção de um prédio em Salvador, apesar de parecer técnico contrário do órgão. Baiano, Geddel tem uma unidade no empreendimento La Vue Ladeira da Barra, que seria construído em uma área tombada da capital baiana. Ontem, após a mudança de posição de um conselheiro, a Comissão de Ética abriu o processo investigatório que pode resultar em advertência, com sugestão de demissão do ministro. O presidente da comissão, Mauro Menezes, disse ter recebido uma ligação de Geddel pedindo celeridade no processo.

“O ministro telefonou à comissão durante a reunião e pediu para conversar conosco. Ele se mostrou disposto a apresentar os esclarecimentos que julga pertinentes e eu expliquei ao ministro que ele terá condições de prestar esclarecimentos”, afirmou o presidente do conselho. Saraiva também recebeu uma ligação de Geddel, antes de mudar de voto. Segundo o presidente do colegiado, não há conflito ou suspeição no gesto. Menezes disse confiar na “absoluta autonomia” com que agem os conselheiros e disse ser “absolutamente normal” a ligação de Geddel. Segundo o presidente, a comissão recebe visitas dos ministros investigados e não há conflitos. “Como nós não temos cargo de confiança, não abala nem interfere a nossa convicção”, afirmou.

Baiano como Geddel, Saraiva recebeu em 2012 o título de cidadão de Salvador pela Câmara Municipal, por indicação do então presidente da Casa à época, Pedro Godinho (PMDB). Em 2015, foi a vez de Assembleia Legislativa do Estado da Bahia dar-lhe o título de Cidadão Baiano. Menezes afirma que o conselheiro justificou ter desistido do pedido de vista para não atrasar o andamento do processo. “O conselheiro Saraiva, num gesto de boa vontade, em consonância com a maioria dos conselheiros, alterou seu posicionamento e passou a acatar a abertura imediata do processo”, disse o presidente do colegiado.

 

Próxima reunião

Antes da mudança de voto de Saraiva, cinco dos sete conselheiros já haviam se manifestado pela abertura do processo para investigar Geddel por conflito de interesse. O relator será designado amanhã. Geddel tem 10 dias para prestar esclarecimentos à comissão, que voltará a se reunir em 14 de dezembro e coletará provas até então. Não há certeza de que haverá decisão neste ano.

Em meio à análise sobre abertura de processo e reclamações por parte da oposição, o presidente Michel Temer fez questão de garantir, por meio de pronunciamento do porta-voz, que o ministro não será demitido. “O presidente Michel Temer ressalta, adicionalmente, que todas as decisões sob responsabilidade do Ministério da Cultura são e serão encaminhadas e tratadas estritamente por critérios técnicos, respeitados todos os marcos legais e preservada a autonomia decisória dos órgãos que o integram, tal como ocorreu no episódio de Salvador”, afirmou o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola.

Mais cedo, outros ministros do núcleo duro de Temer se pronunciaram a respeito. Em Paris, o secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Moreira Franco, afirmou que o presidente estava preocupado com a questão e que analisaria a permanência de Geddel. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, por sua vez, recusou-se a comentar o caso e disse que era uma questão da Presidência. A oposição aproveitou as denúncias e foi ao Ministério Público contra Geddel. Mas à noite, o líder do governo, André Moura, garantiu que Geddel recebeu apoio de parlamentares. Integrantes do chamado Centrão, grupo informal de 13 partidos, disseram que não vão atuar para prejudicar o ministro, que trata diretamente com o Congresso Nacional.