Correio braziliense, n. 19538, 22/11/2016. Economia, p. 9

Retração da economia será de 3,5% este ano

 
Alessandra Azevedo
Azelma Rodrigues

 

O Ministério da Fazenda revisou ontem a previsão de crescimento econômico do país para este ano e para 2017. A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 1% no ano que vem, não 1,6%, como era esperado na projeção anterior, feita em agosto. Para 2016, o governo espera um recuo de 3,5% na atividade econômica, ante os 3% estimados anteriormente.

A diminuição está de acordo com o que prevê o mercado financeiro, conforme constatou o último boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, que apontou para o mesmo percentual de crescimento, de 1%, no ano que vem. Em 2016, os analistas acreditam que a economia encolherá 3,4%.

Como justificativa para a revisão, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Fabio Kanczuk, citou o aumento dos spreads — diferença entre o que os bancos pagam ao captar recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo. Segundo ele, esse movimento encarece o crédito para as empresas. “O endividamento das empresas está se tornando mais claro, o que reduz um pouco o crescimento do PIB”, explicou. “Continuamos falando de uma recuperação econômica. Conforme a confiança for retomada, isso volta”, garantiu o secretário.

 

Impensável

O ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Eduardo de Freitas explicou que, para financiar um deficit do setor público de 9% do PIB, há duas soluções. A primeira, “impensável”, seria com o aumento da inflação. O BC reduziria a taxa de juros o suficiente para a atividade econômica voltar a girar. “A melhor saída é o BC forçar a poupança para cima e jogar o investimento para baixo”, afirmou. Isso significa manter os juros altos de forma que quem tem dinheiro vai preferir deixar investido, derrubando o consumo e o investimento. “A poupança absorve o deficit porque as aplicações financeiras são direcionadas aos títulos públicos, por meio dos quais o governo se financia”, ressaltou.

Com o crescimento menor, espera-se que o governo arrecade menos impostos. Essa análise, no entanto, não foi confirmada pelo secretário Fábio Kanczuk. Evasivo, ele não avaliou como o rebaixamento das perspectivas afetará os cálculos do governo para as receitas em 2017. Esse número, disse, só deve ser divulgado ao fim do primeiro trimestre do ano que vem. “É prematura a previsão de queda da receita por causa de crescimento menor”, destacou.

Apesar da revisão, Kanczuk garantiu que o governo continua comprometido com a meta fiscal de deficit de R$ 139 bilhões no ano que vem, embora o valor tenha sido calculado quando a previsão era de crescimento de 1,6% no PIB.