Viana diz que não quer ser como Michel Temer

Cristiane Jungblut e Maria Lima

07/12/2016

 

 

Para petista, país não suporta 2 presidentes, um afastado e outro no cargo

 

O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), adotou uma posição cautelosa ao longo do dia. Desde a noite de segunda-feira, Viana estava ao lado de Renan Calheiros e disse a colegas que não aceitaria assumir nessa situação. Ontem, o petista foi inclusive ao Supremo Tribunal Federal (STF) tentar uma saída política.

Ao voltar o Senado, disse que Renan é o presidente eleito do da Casa e que se deve aguardar a decisão do pleno do STF. Ao ser perguntado se era o presidente, Viana disse que não queria ser “Michel Temer ou Waldir Maranhão” — vices de Dilma Rousseff e Eduardo Cunha.

— Não sou e nem quero ser Michel Temer ou Waldir Maranhão. Houve decisão séria do STF. Temos que respeitar a decisão. Renan é senador. Ele é o presidente do Senado. Afastado ou não, ele foi eleito. Eu fui eleito para ser só vice e vou respeitar. O presidente do Senado é o presidente Renan, afastado ou não afastado. Pode ser que outro no meu lugar metesse os pés pelas mãos. Não tenho nenhuma pretensão, sou um ajudador — disse Viana.

O vice disse que sempre assume as funções quando Renan não está na Casa.

— Sempre respondo quando Renan não está aqui. Isso (essa discussão de quem é o presidente) é coisa de advogado. Cancelei a sessão de hoje. Ele é o presidente, e estamos esperando a decisão do Supremo — disse Viana.

O petista esteve no STF, conversando com o ministro Marco Aurélio Mello, que deu a liminar afastando Renan do cargo, após se reunir com o próprio presidente do Senado.

— Em uma hora dessas preciso conversar (com Renan). Conversei com o ministro Marco Aurélio. Vou fazer mais conversas para ver se acalma tudo. O Brasil não aguenta esse negócio de dois presidentes, um afastado e outro, foi terrível o que a gente viveu (no caso de Dilma e Temer) — disse ele.

Viana lembrou que as votações de ontem foram suspensas e sinalizou que não haverá votações até haver condições políticas. A PEC do teto está marcada para a próxima terça-feira.

— Amanhã (hoje), vamos ver o que fazer. Um dia por vez, se não não aguento — disse.

Viana disse que a presidente do STF, Cármen Lúcia, tem uma posição, mas está “sensível” à situação. À noite, o vice-presidente se reuniu com o presidente do PT, Rui Falcão, e lideranças do partido. Falcão foi ao Senado para pressionar Viana a suspender a pauta de interesse do governo Michel Temer, principalmente a PEC do teto, que estabelece um limite para o crescimento dos gastos públicos. Ao sair da reunião, Falcão defendeu a realização de eleições gerais no país como saída para a crise institucional.

— A crise é muito grande e não se resolve na Câmara ou no Senado. A crise só se resolve com eleição geral — defendeu o presidente do PT, que não quis se aprofundar sobre o que deliberou com Jorge Viana.

Petistas estão temerosos de uma gestão conciliadora de Viana. Lembram de sua amizade com Renan e de seu perfil conciliador, e que foi eleito governador do Acre em 1998 com apoio do PSDB do então presidente Fernando Henrique.

 

 

O globo, n. 30438, 07/12/2016. País, p. 04.