Mulher de Cabral é presa pela Calicute

Chico Otavio, Daniel Biasetto, Juliana Castro e Ruben Berta

07/12/2016

 

 

Adriana Ancelmo também vira ré, junto com marido e mais 11 pessoas, por esquema de corrupção no Rio

 

Dezenove dias após a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, acusado de chefiar esquema de corrupção que desviou pelo menos R$ 224 milhões dos cofres do Rio, a Justiça Federal determinou a prisão preventiva de sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo. Ainda ontem, a Justiça Federal aceitou denúncia do Ministério Público Federal contra Cabral, Adriana e mais 11 pessoas ligadas ao peemedebista, por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Adriana foi transferida na noite de ontem para a ala feminina do presídio Joaquim Ferreira, no Complexo Penitenciário de Bangu 8, onde o marido divide cela com outros cinco presos.

A ex-primeira-dama não foi encontrada pelos agentes federais em seu escritório, nem em seu apartamento no Leblon. Ela se apresentou à tarde, por volta das 17h, no prédio da 7ª Vara Federal, com quatro advogados em seu próprio carro, uma Land Rover Discovery preta.

Entre os principais motivos para que a Justiça Federal aceitasse um novo pedido de prisão contra a advogada — o primeiro havia sido negado pela Justiça — estão contratos do escritório Ancelmo Advogados com empresas que receberam durante a gestão Cabral benefícios fiscais do governo fluminense; e a suspeita de que ela estaria dando prosseguimento às práticas de corrupção e lavagem de dinheiro, uma vez que não teria entregado todas as joias compradas pelo casal aos investigadores.

 

SUSPEITA DE VAZAMENTO

No pedido de prisão, o MPF sustenta que mais do que apenas se beneficiar com a vida de luxo proporcionada pelos ganhos oriundos dos crimes contra a administração pública, praticados por seu marido, ela atuou ativamente na lavagem direta da propina por meio de seu escritório na “aquisição de verdadeira fortuna em joias” ocultadas.

De acordo com a denúncia, Cabral e Adriana, com auxílio de Carlos Emanuel Miranda de Carvalho, apontado como operador do ex-governador, ocultaram e dissimularam a origem, natureza, localização, movimentação e disposição sobre valores de pelo menos R$ 6, 5 milhões com a aquisição de joias nas joalherias Antonio Bernardo e H.Stern.

Ainda segundo o documento do MPF, o operador Luiz Carlos Bezerra, Cabral e Adriana também ocultaram pouco mais de R$ 1,5 milhão em ao menos 45 repasses de dinheiro recebido a título de propina a Bezerra, Cabral e diversos familiares dele, incluindo Adriana.

A princípio, o mandado de prisão de Adriana Ancelmo seria cumprido nas primeiras horas da manhã de hoje, como já é praxe nas operações da Polícia Federal, mas informações de que a ordem teria vazado e chegado ao conhecimento da exprimeira-dama levaram a Justiça Federal a antecipá-la. Pela previsão inicial, a prisão ocorreria no mesmo dia em que a denúncia oferecida pelo MPF contra os 13 envolvidos na Calicute, incluindo Adriana, seria apreciada. Mas essa decisão também acabou antecipada.

Sem saber da informação de que a ex-primeira-dama tinha se entregado à Justiça, curiosos se aglomeravam na Rua Aristides Espíndola com os celulares nas mãos para registrar a prisão de Adriana. Palavras de ordem eram entoadas, como “eiro, eiro, eiro, eu quero meu dinheiro", “ladra” e “Bangu”.

Os dois carros da PF saíram do prédio de Cabral e da exprimeira-dama às 17h50m, levando alguns malotes.

 

CABRAL NEGA ACUSAÇÕES

Cabral nega as acusações. Já a defesa de Adriana vai alegar que ela tem como provar que os serviços foram prestados e que as joias foram presentes do marido.

Durante todo o tempo que permaneceu na Superintendência da PF, acompanhada de advogados e do enteado e secretário estadual de Esportes, Marco Antonio Cabral, Adriana se manteve calada. Antes de seguir para Bangu 8, fez exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).

Nos malotes levados pelos policiais federais, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, ontem, estavam laptops, R$ 50 mil em dinheiro e algumas joias que ainda serão analisadas pela perícia.

 

OUTROS DENUNCIADOS

SÉRGIO CABRAL . Denunciado por corrupção passiva (49 vezes); lavagem de dinheiro (164 vezes); quadrilha e organização criminosa (1)

WILSON CARLOS. Ex-secretário de Governo. Denunciado por corrupção passiva (49 vezes), lavagem de dinheiro (2 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1).

HUDSON BRAGA. Ex-secretário de Obras, considerado o homem forte de Cabral. Denunciado por corrupção passiva ( 25 vezes), lavagem de dinheiro (5 vezes) e quadrilha e organização criminosa.

CARLOS EMANUEL MIRANDA. Operador. Forjava contratos para justificar patrimônio. Denunciado por corrupção passiva (24 vezes), lavagem de dinheiro (152 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1).

LUIZ CARLOS BEZERRA. Operador de Cabral. Denunciado por lavagem de dinheiro (110 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1)

WAGNER JORDÃO GARCIA SOUZA. Ligado a Hudson Braga. Denunciado por corrupção passiva (25 vezes), lavagem de dinheiro (1) e quadrilha e organização criminosa (1)

PEDRO RAMOS DE MIRANDA. Denunciado por lavagem de dinheiro (64 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1).

PAULO FERNANDO MAGALHÃES PINTO. Denunciado por lavagem de dinheiro (49 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1)

JOSÉ ORLANDO RABELO. Denunciado por lavagem de dinheiro (3 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1)

CARLOS JARDIM BORGES. Denunciado por lavagem de dinheiro (5 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1)

LUIZ ALEXANDRE IGAYARA. Denunciado por lavagem de dinheiro (3 vezes) e quadrilha e organização criminosa (1)

LUIZ PAULO REIS. Denunciado por lavagem de dinheiro (5 vezes) e organização criminosa

 

 

O globo, n. 30438, 07/12/2016. País, p. 07.