Com Temer em baixa, oposição pede eleição antecipada

Cristiane Jungblut e Jailton de Carvalho

12/12/2016

 

 

Aliados atribuem queda de popularidade a medidas polêmicas; 67% querem renúncia do presidente

 

-BRASÍLIA- A oposição ao presidente Michel Temer, em especial o PT, vai utilizar o resultado negativo da pesquisa Datafolha, divulgada ontem, para reforçar o discurso de que a atual gestão não tem legitimidade e para defender eleições antecipadas. Já a avaliação entre os aliados de Temer é que a pesquisa — com 51% de reprovação ao governo — reflete um momento marcado pela rejeição a medidas como a reforma da Previdência. O Palácio do Planalto ficou apreensivo com os dados, especialmente num momento de fragilidade do governo com as resistências a propostas como a PEC do Teto e com as denúncias reveladas pela cúpula da Odebrecht. Dentro do Planalto, o próprio presidente Temer tem reclamado da dificuldade de o governo conseguir explicar as medidas econômicas.

Segundo a pesquisa, 51% dos brasileiros consideram a gestão do peemedebista ruim ou péssima. Este índice era de 31% em julho. Como agravante, o levantamento também identificou a queda na confiança na economia, que chegou a níveis pré-impeachment. Já aqueles que veem o governo Temer como regular correspondem a 34%. Na pesquisa anterior, eles eram 42%. O levantamento, que ouviu 2.1828 pessoas com 16 anos ou mais, ocorreu entre 7 e 8 de dezembro, antes dos novos detalhes de delação da Odebrecht com menções a Temer serem divulgados.

O que animou o PT foi a informação do Datafolha de que que 63% dos brasileiros defendem a renúncia de Temer ainda este ano para que haja eleições diretas. Por outro lado, 27% se mostraram contra à ideia e 6% se disseram indiferentes ao tema; 3% não souberam responder. Para que realização de novas eleições se concretize, seria preciso que o presidente deixasse o cargo nas semanas restantes de 2016. Se isso ocorrese a partir do ano que vem — início dos dois últimos anos de mandato —, a eleição é indireta, feita pelo Congresso.

 

TETO DE GASTOS: RESPALDO SÓ NO CONGRESSO

Politicamente, a desaprovação em pesquisa do Datafolha não poderia ter sido pior, pois coincidiu com as denúncias da cúpula da Odebrecht contra Temer e a cúpula do PMDB, além políticos de outros partidos.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse ontem que a pesquisa mostra que o governo Temer não tem legitimidade. Já o presidente nacional do PT, Rui Falcão, tem defendido a proposta de eleições gerais. Na semana passada, ele esteve em Brasília conversando com as bancadas da Câmara e do Senado sobre isso.

— Acho que essa pesquisa representa o que se sente no dia a dia. É um governo sem legitimidade, rejeitado pela população. E esse resultado coloca com mais razão o tema das eleições, de eleição presidencial — disse Humberto Costa.

Para o líder do PT no Senado, o governo Temer não tem respaldo na sociedade para aprovar medidas como a PEC do Teto, como quer o Planalto na terça-feira. Porém ele admite que o governo tem maioria para aprovar a proposta em segundo turno.

Como Senado, a bancada do PT na Câmara pediu a renúncia de Temer. “Além de ter assumido o posto de chefe de Estado através de um golpe parlamentar, Michel Temer se mostrou inepto para conduzir os rumos do país, tanto na área político-administrativa quanto na esfera econômica", sustentam os deputados em nota.

Do lado do governo, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), disse que a pesquisa reflete um momento no qual as pessoas ainda não compreenderam os benefícios que trarão a PEC do Teto e a reforma da Previdência.

— A pesquisa reflete o momento, mas o governo está fazendo aquilo que é obrigado a fazer. E as pessoas não estão percebendo o alcance positivo que virá. Como as medidas ainda não produziram os resultados robustos que produzirá, isso não passa para a sociedade — disse Agripino.

O presidente do DEM acredita ainda que o governo erra na comunicação:

— A opinião de que a comunicação é ruim tem sido recorrente na reunião com os vários líderes. Tem que ser mais eficiente.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), disse que a pesquisa reflete os desencontros iniciais da gestão Temer e a dificuldade do país em retomar o crescimento econômico. Ele cita o desgaste com a demissão do ex-secretário de Governo Geddel Vieira Lima.

— É uma pesquisa que reflete todos os desencontros que tomaram conta de todas as instâncias de poder. Isso tudo vem contaminando e junta com a impotência de o país voltar a crescer — disse Rubens Bueno.

— O Temer leva pancada todos os dias, da manhã à noite. Quem resiste? A pesquisa só poderia refletir isso — resumiu o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Pauderney Avelino (AM).

 

“O Temer leva pancada todos os dias, da manhã à noite. Quem resiste? A pesquisa só poderia refletir isso”

Pauderney Avelino (AM)

Líder do DEM na Câmara

 

 

O globo, n. 30443, 12/12/2016. País, p. 04.