Para delator, Romero Jucá é "Resolvedor da República"

11/12/2016

 

 

Ex-executivo relata ainda influência de Padilha, ‘preposto de Temer’

 

A delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho dá ao atual líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), tratamento de homem que faz. O senador é chamado pelo lobista da empreiteira de o “Resolvedor da República no Congresso”.

No documento, Cláudio Filho lembra que Jucá já foi líder de vários governos e que atuava como “anteparo das manobras que podiam surgir na Câmara dos Deputados”. Jucá, narrou o delator, antecipava a atuação de deputados contrários a interesses da Odebrecht e agia na defesa da empresa. O delator destacou ainda a “desenvoltura no tratamento com o Poder Executivo, especialmente junto ao Ministério da Fazenda e ao Ministério do Planejamento, tendo sempre voz de relevância junto a este Poder”.

A nova denúncia coloca Jucá novamente no centro dos problemas do presidente Michel Temer, que já teve que demiti-lo nos primeiros dias de governo. Agora, ele é o líder governista no Congresso e fiador das negociações das reformas consideradas fundamentais no governo.

Em nota, Jucá disse desconhecer a delação de Cláudio Filho. Ele negou ter recebido recursos para o PMDB. “O senador também esclarece que todos os recursos da empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam no Senado”. O senador reiterou que está “à disposição da Justiça para prestar quaisquer esclarecimentos”.

Além do líder do governo, foram arrastados para a Lava-Jato o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos, Moreira Franco. O delator afirmou que Moreira e Padilha tinham por hábito misturar pedidos de ajuda financeira com questões institucionais. Cláudio Filho relatou que em uma reunião na Secretaria de Aviação Civil, quando Moreira ocupava o cargo de ministro, houve solicitação de dinheiro para a campanha de 2014, que levou à reeleição a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer. Sem especificar ano e mês do encontro, disse que a discussão principal era o contrato do Galeão. A Odebrecht integrou o consórcio que arrematou o aeroporto, e Moreira convocou a reunião para cobrar soluções rápidas, como a reforma de banheiros e escadas rolantes, limpeza e segurança do local.

 

ATUAÇÃO COORDENADA

“Nesta reunião, solicitou que apoiássemos financeiramente o partido dele nas eleições de 2014. Transmiti essa demanda, já que, evidentemente, um pedido de ministro para realizar um pagamento de dinheiro poderia nos trazer prejuízos em caso de não atendimento ou, ainda, vantagens em caso de atendimento. O fato é que pagamentos ocorreram em razão de um pedido feito por um ministro de Estado em ambiente institucional e por ocasião de uma reunião de trabalho”, disse o executivo.

Segundo Cláudio Filho, este é apenas um exemplo de como se dava a relação com os principais assessores de Temer. Quando assumiu o lugar de Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil, Padilha manteve o estilo do antecessor nas cobranças de ajuda financeira.

“Algumas vezes fui cobrado por Eliseu Padilha a respeito do pagamento que havia sido solicitado por Moreira Franco”, disse o delator.

Chamado de “preposto”, Padilha foi descrito como a pessoa mais destacada do grupo de Temer para falar com agentes privados. O gaúcho é o ministro mais próximo do presidente.

“Ele atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos. Esse papel de ‘arrecadador’ cabe primordialmente a Eliseu Padilha e, em menor escala, a Moreira Franco. Tanto Moreira Franco como Eliseu Padilha, contudo, valem-se enormemente da relação de representação/ preposição que possuem de Michel Temer, o que confere peso aos pedidos formulados por eles, pois se sabe que o pleito solicitado em contrapartida será atendido também por Michel Temer”, relatou o executivo.

Moreira Franco rebateu a delação. “É mentira. Reitero que jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Cláudio Melo Filho”, disse via assessoria. Padilha também refutou as afirmações: “Não fui candidato em 2014. Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira. Tenho certeza que no final isto restará comprovado”, afirmou.

 

 

O globo, n. 30442, 11/12/2016. País, p. 04.