Valor econômico, v. 17, n. 4158, 22/12/2016. Política, p. A8

Para manter apoio, Temer prestigia tucanos

 
Estevão Taiar

 

Em um momento em que quadros importantes do PSDB começam a defender maior distanciamento do governo, o presidente Michel Temer tem buscado prestigiar publicamente o partido.

Ontem, o alvo dos elogios do pemedebista foi o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com quem ele dividiu o palco em cerimônia do programa Minha Casa Minha Vida.

"O governador disse que é preciso acabar com essa história do 'nós contra eles', e eu tenho pregado a pacificação do nosso país", disse Temer em Mogi das Cruzes (SP), onde chamou Alckmin de "grande governador e amigo". Ambos participaram da entrega de 420 unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida.

"Com auxílio do governador, ministros, Congresso e da população, meu sonho é colocar o Brasil nos trilhos", afirmou.

Alckmin, pré-candidato do PSDB para disputar a Presidência em 2018, defende nos bastidores que o partido tenha um maior distanciamento do governo federal, para que a atual impopularidade da administração pemedebista não prejudique o desempenho tucano na eleição. Recentemente, os outros dois pré-candidatos tucanos à Presidência, o senador e presidente da sigla Aécio Neves (MG) e o ministro das Relações Exteriores, José Serra, uniram-se para barrar o fortalecimento de Alckmin. A aproximação com Serra, fez Aécio conseguir a prorrogação de seu mandato como presidente do PSDB por um ano, até maio de 2018. Tanto Serra quanto Aécio são aliados mais próximos de Temer do que o governador é.

Pelo menos durante seu discurso, no entanto, Alckmin também fez questão de mostrar apoio a Temer. "Um abraço ao nosso presidente Michel Temer, que está em casa, porque está em São Paulo", disse. O presidente é natural de Tietê, no interior do Estado. "No Brasil de hoje não há espaço para nós contra eles. O Brasil de hoje tem que ser de nós cidadãos, que estamos aprendendo com essa dura crise", afirmou. Depois, dirigiu-se a Temer: "Conte conosco, para a retomada do emprego e do desenvolvimento".

Mais tarde, em entrevista coletiva, o presidente chamou Alckmin de "parceiro" e disse que "era um prazer" estar ao lado dele, além de reafirmar que conta com o apoio dos tucanos para promover as reformas mais importantes "desde a Constituição de 88". Um exemplo citado foi a PEC dos gastos, cuja aprovação contou "evidentemente com o apoio de outros partidos, e particular [com o apoio] do PSDB".

"Nós temos três ministros do PSDB, temos um auxílio extraordinário do PSDB", disse. Um desses ministros, Bruno Araújo, das Cidades, esteve presente e recebeu elogios de Temer. Outro tucano de destaque, o deputado federal Antonio Imbassahy (BA) é cotado para assumir a Secretaria de Governo no ano que vem.

Ao contrário de Alckmin, outros quadros do partido têm defendido abertamente o distanciamento do governo. Uma delas foi o senador licenciado Cássio Cunha Lima (PB), que, em entrevista na terça-feira à rádio Rede Paraibana de Notícias, disse que o presidente terá dificuldade para concluir o mandato, em função da ação que corre contra a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Ele defendeu inclusive que a convocação de novas eleições "seria a melhor saída".

Mesmo assim, o presidente minimizou ontem mais de uma vez o comentário de Cássio Cunha Lima. "Uma ou outra fala é transitória, o que vale é o apoio maciço que estou recebendo no Congresso Nacional", disse.

Em 50 anos, essa foi a primeira participação de um presidente em uma solenidade oficial em Mogi das Cruzes. Temer foi, inclusive, chamado de "mogiano" pelo prefeito Marco Aurélio Bertaiolli (DEM), o mais aplaudido do dia. O apoio deixou Temer "animadíssimo". "Saio com a alma incendiada", disse. "Uma coisa é ficar no gabinete, outra coisa é sair pelo Brasil."

Mesmo assim, aproximadamente 30 manifestantes fizeram um protesto discreto contra o presidente no fundo da tenda onde foi realizado o evento. Um deles, inclusive, carregava um cartaz em que estava escrito "Fora, Temer - Nenhum direito a menos".