Valor econômico, v. 17, n. 4159, 23/12/2016. Brasil, p. A3

Temer anuncia pacote de bondades de Natal

Bruno Peres
Raphael Di Cunto
Fabio Murakawa
Rafael Bitencourt
Tainara Machado

 

Depois de uma derrota no Congresso, que retirou as contrapartidas no projeto de renegociação da dívida dos Estados, o governo tentou mostrar que não está parado e apresentou ontem novas medidas para impulsionar a economia e melhorar o ambiente de negócios. Além de uma minirreforma trabalhista, na qual a negociação entre empresas e funcionários fica privilegiada, o presidente Michel Temer liberou o saque de conta inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), no que chamou de "presente de Natal".

O novo pacote natalino foi apresentado logo cedo, em café da manhã com jornalistas, ao lado dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo de Oliveira. Desta vez, em vez de medidas que mexem com a produtividade da economia brasileira no médio e longo prazo, como na semana passada, ou de projetos de reforma estrutural, caso da Previdência e do teto do gasto, já aprovado, o governo decidiu agir em outras áreas, atendendo pleitos tanto de empresários quanto de sindicatos.

Temer assinou a Medida Provisória que prorroga o Programa Nacional de Proteção ao Emprego (PPE) e aumenta a remuneração do FGTS. O presidente anunciou ainda que encaminhará, por projeto de lei, uma "minirreforma" trabalhista. "O governo acaba de ganhar um belíssimo presente de Natal", disse ele, para uma plateia de empresários e sindicalistas, para quem pregou a "união" e a "fraternidade".

Na sequência, coube ao ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, detalhar as medidas, que contam com 12 itens para valorizar as negociações coletivas sobre o legislado. São mudanças como o aumento do prazo para o contrato de trabalho temporário de 90 para 120 dias (renováveis por mais 120 dias) e o fim do limite de jornada de trabalho de 12 horas por dia, além da possibilidade de parcelamento das férias em três vezes.

Diante da avaliação que o nó da economia está no elevado endividamento de famílias e empresas, o governo também deu um "presente de Natal" aos endividados. Os trabalhadores que tiverem saldo em contas inativas (que não recebem mais depósitos) no FGTS depositados até o dia 31 de dezembro de 2015 poderão sacar a totalidade dos recursos, sem nenhuma restrição legal, em um cronograma que ainda será definido pelo governo. A medida foi mais abrangente do que estava em estudo, que limitava os saques a até R$ 1,5 mil, para pagamento de dívida. Até a noite de ontem, porém, ainda não havia detalhamento formal da proposta.

O governo também continuou a sinalizar a intenção de reduzir os juros do cartão de crédito, embora as medidas efetivas ainda não tenham sido divulgadas. Até agora, o que está em fase mais avançada de estudo é o parcelamento automático da fatura após o 30º uso do rotativo do cartão de crédito, que tem taxa de juros que pode superar 400%. O objetivo, segundo o governo, é reduzir à metade os juros cobrados no rotativo do cartão, o que pode contribuir para recuperar a capacidade de consumo das famílias, ao reduzir o endividamento, disse Meirelles.

O debate sobre a antecipação de pagamento aos lojistas, bem mais sensível por exigir capital de giro mais elevado para a operação, ficou para 2017.

Os primeiros efeitos do pacote surtiram o efeito desejado. Analistas econômicos e representantes do setor produtivo avaliaram as medidas como positivas, embora não suficientes para elevar projeções para o PIB do próximo ano.