Valor econômico, v. 17, n. 4159, 23/12/2016. Política, p. A6

Em balanço de gestão, Temer defende ministros e nega reforma

 

Bruno Peres

 

O presidente Michel Temer dedicou a maior parte do café da manhã promovido ontem na residência oficial, para balanço de sua gestão, à defesa do governo e de seus auxiliares, como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, cuja permanência no cargo está "firme e forte", segundo disse o presidente, minimizando acusações envolvendo-o na Operação Lava-Jato, contra a qual Temer assegurou não ter se insurgido. Ainda no campo das incertezas, Temer procurou demonstrar tranquilidade quanto ao risco de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar a chapa que o elegeu juntamente com Dilma Rousseff em 2014, prometendo recorrer em caso de condenação.

Padilha era aguardado ontem no Palácio da Alvorada, mas se ausentou do encontro promovido pelo presidente com jornalistas no mesmo dia em que foram divulgadas na imprensa novas acusações contra o ministro.

O presidente disse não saber "o que vai acontecer lá na frente", mas afirmou não pretender neste momento promover alterações em sua equipe ministerial.

"Não tenho pensado em renunciar", disse Temer ao ser questionado sobre apoiar a convocação de novas eleições antes do término de seu mandato. O presidente afirmou ainda ter questionado a Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto aos vazamentos de delações premiadas, que em sua avaliação, mencionaram-no "indevidamente", em função da instabilidade que eles provocam no país. Temer elogiou o trabalho dos órgãos de fiscalização e controle.

O presidente contestou a avaliação de que há um caráter intervencionista em medidas recentes adotadas pelo governo, como as mudanças propostas para as regras de cobrança do cartão de crédito, por considerar que o governo tem dialogado com os diversos setores antes de apresentar propostas ou decisões. Na avaliação do presidente, as medidas administrativas e legislativas propostas pelo governo são "acordadas". "Não há nenhuma intervenção. É acordado", disse Temer, sendo endossado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também presente ao café da manhã para balanço da gestão do governo atual.

Temer afirmou que a baixa popularidade enfrentada pelo seu governo é o que lhe tem permitido adotar medidas consideradas fundamentais, embora duras, para o ajuste das contas públicas e a retomada da economia.

O presidente disse ainda não sentir uma ameaça de debandada por parte de partidos aliados em função da baixa aprovação popular do governo e minimizou divergências internas entre legendas que integram sua base de apoio no Congresso.

Temer discordou da tese de que tenha sofrido uma derrota com a aprovação pela Câmara da renegociação da dívida de Estados pela Câmara sem exigência de contrapartidas para a União.

O presidente afirmou que, com a abrangência do texto aprovado, o governo poderá inclusive exigir contrapartidas que podem ser superiores às previstas originalmente.

Temer evitou posicionar-se, entretanto, sobre os termos com que a legislação para refinanciar a dívida dos Estados será sancionada. Resposta igualmente evasiva se deu em relação à sanção das mudanças feitas à Lei Geral de Telecomunicações. "Vamos examinar com muita cautela", disse o presidente ao ser questionado sobre o assunto.

Ao ser questionado sobre a denominação, feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de "pinguela" para o programa apresentado pelo PMDB autointitulado "Ponte para o Futuro", Temer disse haver muitas "paixões" e "amarguras" nessa avaliação. "Se é ponte ou pinguela, o importante é atravessar".

O presidente disse ainda considerar que seu governo contabiliza erros e acertos como em qualquer gestão. Em relação ao desgaste político que culminou com a saída de Geddel Vieira Lima do governo, Temer o classificou como "angustiante". Citando o ex-presidente Juscelino Kubitschek, Temer disse não ter compromisso com erros, criticando avaliações de que recuos sejam a marca de seu governo.

O presidente afirmou também que o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), uma das apostas do governo para a economia, não será prejudicado em função de "prazo mais dilatado" para a análise de interessados. Temer também disse crer que a confiança no país tem sido restabelecida com força.

Temer seguiu ontem para São Paulo, onde deve passar as celebrações de Natal acompanhado da família, e retorna a Brasilia no começo da próxima semana. Já a virada do ano deve ser celebrada também com a família na base da Marinha localizada na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro.