Valor econômico, v. 17, n. 4159, 23/12/2016. Política, p. A6

Cresce desaprovação ao presidente

 

Fernando Taquari


A desaprovação ao presidente Michel Temer cresceu em dezembro pelo segundo mês consecutivo e atingiu 77%. É o que revela a pesquisa Pulso Brasil, feita pelo Instituto Ipsos e divulgada ontem ao Valor. De outubro para cá essa taxa cresceu 18 pontos percentuais. O aumento da rejeição ao pemedebista coincide com o citação de seu nome e de alguns aliados na delação premiada de ex-executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato.

O levantamento também captou uma piora na avaliação da gestão do governo federal. O índice dos entrevistados que consideram a administração de Temer ruim ou péssima saltou em um mês de 52% para 62%. Ao mesmo tempo, a aprovação ao presidente oscilou um ponto percentual para baixo ao registrar 15% neste mês, enquanto os que avaliam seu governo como ótimo ou bom passaram de 7% para 8% na variação mensal.

Diretor do Ipsos e responsável pela pesquisa, Danilo Cersosimo afirma que o aumento da desaprovação a Temer é fruto de uma combinação de três fatores. O primeiro, segundo ele, diz respeito a insatisfação da população com as respostas do governo para a crise econômica. "Os brasileiros esperavam que a troca de comando resultasse num choque de gestão e isso não ocorreu na prática", diz Cersosimo ao comentar o impeachment de Dilma Rousseff.

O segundo aspecto tem a ver com a agenda de reformas do pemedebista, vista como impopular pela maioria dos entrevistados. De acordo com o levantamento, 87% acreditam que o país está no rumo errado. "O último fator e o mais relevante está relacionado com as delações da Lava-Jato que comprometem Temer e seus aliados", ressalta Cersosimo, acrescentando que a desaprovação de 77% é muito alta para um político até pouco tempo atrás desconhecido por uma parcela significativa da população.

O Ipsos ainda mediu a aprovação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A desaprovação ao senador pemedebista cresceu de 62% para 79%. Nesse caso, a exemplo de Temer, o índice foi impulsionado pelas delações que citam Renan, mas também pelos desdobramentos do confronto recente entre o parlamentar e o Poder Judiciário.

O pemedebista ganhou holofotes depois negar-se a cumprir a liminar do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinava seu afastamento do cargo com base um pedido do Rede Sustentabilidade que questionava a possibilidade de um réu em uma ação penal, como Renan, permanecer na linha sucessória da Presidência da República.

Outra figura pública avaliada na pesquisa foi o juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara de Curitiba e responsável pela Lava-Jato. Dois em cada três entrevistados apoiam o magistrado. Seu índice de aprovação teve alta de 12 pontos percentuais em relação a novembro ao alcançar 66%. Paralelamente a desaprovação ao juiz recuou de 27% para 22%.

"Esse resultado é natural ao considerarmos o apoio incondicional da população à Lava-Jato, que tem Moro como maior símbolo deste combate à corrupção", explicou Cersosimo. Pesquisa divulgada no início deste mês pelo instituto mostrou que 96% entendem que a operação deve continuar "custe o que custar".

O levantamento foi realizado entre 30 de novembro e 12 de dezembro, com 1,2 mil pessoas em 72 cidades. A margem de erro é de três pontos percentuais.