Valor econômico, v. 16, n. 4154, 16/12/2016. Política, p. A8

PSDB prorroga mandato de Aécio no comando da sigla

Vandson Lima e Raphael Di Cunto

Em uma articulação capitaneada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e amplamente apoiada dentro do partido, Aécio Neves (MG) teve seu mandato no comando do PSDB prorrogado até maio de 2018.

A Executiva nacional da sigla, que também terá sua permanência estendida pelo período, aprovou a mudança por 29 votos a 2. A medida visa evitar a precipitação da disputa interna pela candidatura tucana à Presidência da República, em 2018. Mas o resultado deixou claro se tratar de um revés para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin que, como Aécio, foi pessoalmente avisado da iniciativa pelo ex-presidente. Os únicos dois votantes contrários à mudança são justamente nomes ligados a Alckmin: os deputados federais Silvio Torres, que integra a Executiva e também foi reconduzido, e Eduardo Cury.

"A decisão retira da pauta de 2017, que será um ano complicado e com uma agenda econômica a enfrentar, qualquer tipo de disputa ou desentendimento. Precipitar a disputa em um partido que se fortaleceu tanto nas eleições municipais poderia levar à perda de quadros, em razão da vitória de um determinado grupo político", defendeu Aécio.

Ministro de Relações Exteriores e também cotado para a candidatura presidencial, José Serra apoiou a decisão e ressaltou a necessidade de o partido concentrar esforços no auxílio à gestão do presidente Michel Temer. "Trazer disputas de 2018 para cá seria péssimo para o PSDB, para o governo e para o país. É uma solução que ajuda a manter a unidade do partido e concentrar nossos esforços para que o governo Temer dê certo", observou. Nos bastidores, tucanos apontam que a junção de forças de Aécio e Serra visa frear a ascensão de Alckmin, que saiu muito fortalecido ao bancar a bem-sucedida candidatura de João Doria a prefeito da capital paulista.

Segundo tucanos, FHC procurou previamente tanto Aécio quanto Alckmin para tratar da extensão dos mandatos, que não é uma novidade no partido: José Aníbal (SP) e Sérgio Guerra (PE) e Teotônio Vilela (AL) já tiveram, em oportunidades anteriores, os mandatos prorrogados antes do ano eleitoral com o mesmo argumento: evitar a antecipação da disputa interna.

Na reunião ontem, em Brasília, foi apresentada uma carta de FHC, presidente de honra da sigla e que está em viagem nos EUA, em favor da mudança. Ligados a Alckmin, Torres sustentou uma postura mais dura, defendendo que a prorrogação dos mandatos fosse no máximo até fins de 2017; e Cury disse que não era contra, mas que achava a condução incorreta, pois a mudança sequer constava na pauta da reunião. Mas foram vencidos.

Caso tivesse de disputar a recondução no voto, em eleição que ocorreria em maio de 2017, Aécio teria apoio de 22 dos 27 diretórios estaduais, confirmam tucanos. Em maio de 2018, alegam, o PSDB provavelmente já terá definido seu candidato a presidente, seja por prévias ou acordo de caciques. O comando partidário se tornará apenas um detalhe, e não mais um fator de disputa, como alega o próprio Aécio. "Haverá o que sempre houve no PSDB: vai amadurecer um sentimento sobre quem tem as melhores condições para vencer as eleições. Em torno desse nome, espero que o par- tido esteja absolutamente unido".

Aliados de Aécio rechaçam que o mineiro esteja sendo beneficiado. Lembram que todas as demais representações do PSDB são de paulistas: dois dos três ministros do governo Temer (Serra e Alexandre de Moraes, da Justiça); o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes; o presidente do Instituto Teotônio Vilela, senador José Aníbal; o secretário-geral, deputado Silvio Torres. Além disso, Ricardo Trípoli foi eleito para liderar a bancada na Câmara no próximo ano e o deputado Carlos Sampaio é dado como nome para representar o tucanato na composição da Mesa Diretora da Câmara a partir de 2017.

Em relação aos diretórios municipais, haverá escolha de novos dirigentes entre março e abril, para mandato de um ano. Assim, haverá coincidência entre eleições para todas as instâncias do partido em maio de 2018.

 

Valor econômico, v. 16, n. 4154, 16/12/2016. Política, p. A8