No Brasil, esquema pagou R$ 1,9 bi, e dois ex-ministros são citados

Tiago Dantas

22/12/2016

 

 

Três parlamentares e dois integrantes do Executivo também receberam

 

SÃO PAULO- Nos acordos assinados ontem com a Justiça americana, a Odebrecht e a Braskem assumiram ter pago US$ 599 milhões (R$ 1,9 bilhão) em propinas a autoridades brasileiras. Sem revelar os nomes dos destinatários desses valores ilegais, os documentos citam pelo menos dois ex-ministros brasileiros, três membros do Legislativo e dois altos integrantes do Executivo. Do total de propina paga no Brasil, US$ 349 milhões (R$ 1,1 bilhão) foram desembolsados pela Odebrecht para conseguir contratos de obras de infraestrutura em várias esferas do governo brasileiro.

A Braskem afirmou à Justiça americana ter pagado US$ 250 milhões (R$ 832 milhões) em troca da aprovação de leis que lhe favoreciam, reduções de impostos e contratos vantajosos com a Petrobras.

As autoridades brasileiras receberam cerca de 58% de tudo o que a Odebrecht afirmou ter pagado em 12 países da América Latina e da Ásia. Ao todo, a companhia pagou ilegalmente US$ 788 milhões (R$ 2,6 bilhões, na cotação atual), segundo documentos do Departamento da Justiça (DOJ) dos Estados Unidos, tornados públicos ontem.

Os documentos não citam nomes de envolvidos no esquema de corrupção, nem de políticos que se beneficiaram do recebimento de propina. As pessoas são identificadas apenas por breves descrições.

O texto do acordo com a Braskem, por exemplo, cita duas situações em que ex-ministros foram acionados pela companhia para a defesa de seus interesses. Em 2010, a empresa pagou US$ 50 milhões (R$ 166 milhões) para a campanha de uma autoridade de alto nível executivo do Brasil e US$ 14 milhões (R$ 46 milhões) para um ex-ministro em troca da aprovação de uma lei que reduzia o pagamento de impostos pela companhia.

Em 2008, a empresa pagou propina a um ex-ministro para obter a alteração na taxação de matérias-primas. No mesmo ano, a Braskem pagou US$ 12 milhões (R$ 40 milhões) a um ex-executivo da Petrobras e a um congressista para fechar um contrato com a estatal para fornecimento de nafta.

O esquema de corrupção revelado após os acordos de leniência da Odebrecht e da Braskem, assinados ontem, continuará sendo alvo de investigação nos Estados Unidos.

 

 

O globo, n. 30453, 22/12/2016. País, p. 04.