Título: Superávit fiscal vira antídoto
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2011, Economia, p. 17

Ministro da Fazenda diz que saldo positivo nas contas públicas é a principal arma para evitar o contágio pelos problemas europeus

A equipe econômica conta com o bom desempenho das contas públicas para enfrentar a crise global, ressaltou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) já fez um superavit primário (economia para o pagamento de parte dos juros da dívida) de R$ 86,6 bilhões, o equivalente a 94% da meta para o ano, que é de R$ 91,8 bilhões. Em outubro, as receitas superaram as despesas em R$ 11,3 bilhões, mais do que o dobro dos R$ 5,4 bilhões registrados no mês anterior. Segundo o ministro, os números divulgados ontem pela Secretaria do Tesouro Nacional deixam o país mais forte para passar pelas turbulências atuais.

"Vamos cumprir com antecedência o compromisso fiscal, que vai continuar nos próximos anos", afirmou Mantega, em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Segundo ele, o agravamento da crise nos Estados Unidos e na Europa, "com recessão no horizonte", preocupa o governo, apesar de o país reunir condições de enfrentar uma queda no comércio internacional. "A principal razão disso está na confiança mundial depositada no Brasil e na pujança do nosso mercado interno, além das medidas adotadas para reduzir a taxa de juros e facilitar o crédito da pessoa física de forma sustentável. Nunca permitimos a formação de bolhas."

Otimismo Ao ressaltar que os juros continuarão caindo, ele lembrou que a política econômica não mudou, mas sim o cenário. "Pela primeira vez, concordo com as projeções do mercado, que prevê juros futuros em queda. Não por acaso, o governo brasileiro consegue vender títulos de 30 anos, com vencimento em 2041, pagando remuneração de 4,69%", disse. Outro reforço ao seu otimismo está no fato de as três maiores agências internacionais de risco terem elevado a nota do Brasil. "Somos um país sério, que cuida de suas contas públicas. Nossos bancos estão sólidos e gozamos de confiança a longo prazo, a mesma que falta hoje aos países desenvolvidos", acrescentou, pedindo aos parlamentares ajuda para evitar o surgimento de novos gastos de custeio, "uma ameaça ao equilíbrio fiscal".

Apesar de o ministro ressaltar que a melhora dos resultados fiscais se deve a uma maior austeridade, o Tesouro mostrou que o superavit só foi possível pelo crescimento das receitas de 7,9% este ano, num ritmo bem maior do que as despesas (1,7%). Parte do resultado é atribuída a uma queda de 3,7% dos investimentos públicos. "O Brasil vai responder à crise externa, não importa que intensidade ela tenha, com aposta no crescimento e geração de empregos", disse. O ministro estimou expansão de 0,3% no terceiro trimestre, contrariando o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, que anteontem projetou o resultado em zero.

IPCA-15 É DE 0,46% Prévia da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA–15) acelerou em novembro, passando de 0,43% para 0,46%. O resultado ficou dentro das projeções do mercado, mas mostrou uma pressão maior na alimentação. Em 2011, o IPCA-15 acumula alta de 5,96% e, em 12 meses, de 6,69%. De outubro para novembro, os alimentos ficaram, em média, 0,77% mais caros. Os vilões foram a batata inglesa (12,43%), o café moído (3,13%), o tomate (3%), as frutas (1,50%), as carnes (1,30%) e as refeição fora de casa (0,75%). A inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC–S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou aceleração. Na terceira prévia do indicador, a carestia subiu 0,43%, após avançar 0,38% nos 30 dias encerrados em 15 de novembro.