Título: Greve encareceu o crédito
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2011, Economia, p. 18

Paralisação dos bancários empurrou consumidores em direção aos empréstimos automáticos de custo mais alto, como o cheque especial

A greve dos bancários entre 27 de setembro e 17 de outubro prejudicou os consumidores mais do que eles se deram conta. Além de sofrerem para sacar dinheiro, pagar contas e obter talão de cheque, muitos ficaram sem acesso às linhas de crédito mais baratas, oferecidas nas agências. Por falta de opção, acabaram pegando as linhas mais caras, aquelas pré-aprovadas pelos bancos ou disponibilizadas nos terminais automáticos.

Foi essa a explicação do Banco Central para a alta das taxas de juros em outubro. Segundo a instituição, no mês em que o Comitê de Política Monetária (Copom) derrubou a taxa básica da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual, os encargos cobrados das pessoas físicas subiram 1,3 ponto percentual, atingindo, na média, 47% ao ano. É o patamar mais elevado desde maio de 2009, quando estavam em 47,3%. Já os juros para as empresas caíram 0,2 ponto, de 30% para 29,8% anuais.

Quem precisou pegar um crédito pessoal no mês passado pagou, em média 2,5 pontos percentuais a mais do que em setembro. A taxa saltou de 49,7% para 52,2% ao ano. O aumento da taxa para a aquisição bens, como eletrodomésticos, a variação foi de três pontos percentuais no mês, alcançando 53,6% ao ano. Aqueles que se dispuseram a financiar a compra de um veículo viram as taxas estáveis: 28,5% ao ano. No cheque especial, os juros cravaram inacreditáveis 183,8% anuais.

Auxílio Se, por um lado, a greve dos bancários prejudicou os consumidores, por outro auxiliou o Banco Central a conter a expansão do crédito. O chefe do Departamento Econômico da instituição (Depec), Túlio Maciel, reconheceu que, com as agências fechadas, parte importante do crédito ao consumidor foi contido no mês. "Os empréstimos que são tomados nas agências ficaram mais restritos, enquanto as operações automáticas e pré-aprovadas cresceram no período", disse.

As concessões de crédito consignado (com desconto em folha), por exemplo, caíram 13,4%, com as novas operações contratadas baixando de R$ 7,5 bilhões em setembro para R$ 6,5 bilhões em outubro. A mesma coisa aconteceu com os contratos para a aquisição de veículos e de crédito pessoal: caíram cerca de 9% no mesmo período. O contrário aconteceu com o cheque especial. Como o limite fica sempre disponível para o cliente, o volume utilizado saltou 4,3%, passando de R$ 25,4 bilhões em setembro para R$ 26,5 bilhões. No total, o estoque de crédito nas mãos de pessoas físicas e empresas cresceu apenas 0,8% no mês passado, para R$ 1,946 trilhão.

Calote avança A greve de 20 dias dos bancários, que avançou até 17 de outubro, também impediu que as pessoas endividadas renegociassem seus débitos. Esse foi o argumento usado pelo Banco Central para justificar a elevação da inadimplência no mês, que alcançou 5,5%, o patamar mais alto desde dezembro de 2009. "Temos que observar esse número com uma certa cautela e ver se ele permanecerá em novembro, quando não estará mais presente o episódio da greve", disse o chefe do Departamento Econômico da instituição, Túlio Maciel. Pelos dados do BC, a alta da inadimplência em outubro ocorreu especialmente nas operações às empresas, cujo índice subiu de 3,8% para 4% de setembro para outubro. Nos contratos de pessoas físicas, a taxa subiu de 7,0% para 7,1%. Esse índice inclui apenas as operações com atraso superior a 90 dias.