Título: Derrotados pelo crime
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2011, Brasil, p. 8

O programa de fim de semana para a família de José*, de 50 anos, passa longe das diversões comuns aos brasilienses, desde que o filho, de 18 anos, foi internado. Todos os domingos, ele e a mulher saem de casa com um destino certo. Aproveitam o dia de folga para visitar o filho no Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (Ciap). O jovem cumpre medida socioeducativa, que pode variar de seis meses a três anos, por ter fugido do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) e por porte ilegal de arma. "Nossa família sempre foi muito unida e somos muito abertos ao diálogo. Mas, aos 14 anos, ele começou a arrumar umas amizades estranhas, acredito que começou a usar drogas também. Quando vimos ele já estava envolvido no crime", contou José.

O rapaz foi internado no Caje anteriormente acusado de atirar contra uma pessoa, supostamente para vingar a morte do primo. Ele fugiu da instituição, mas foi pego durante a festa no Morro da Capelinha, em Planaltina, em abril deste ano. O jovem também conseguiu escapar com mais quatro rapazes do Ciap em 14 de novembro deste ano, mas se entregou a pedido da família. "Procuro ser bem realista e aceitar essa situação, mas os meus filhos são boas pessoas boas, nos respeitam bastante. O que o levou a fazer essas coisas foram os amigos e acredito que uso de drogas também", lamentou.

José pensa agora no futuro. Ele disse que o filho se arrepende do que fez e pretende arrumar um emprego para o jovem assim que sair do Ciap. Para ele, a falta de investimento do governo nos jovens do Distrito Federal contribui para o aumento de meninos e meninas cada vez mais novos no crime. "Acredito que o pior problema para a mocidade de Brasília é a falta de ocupação. O crime é bastante envolvente e eles se tornam alvos muito fáceis. Vejo que, não só o meu filho, mas outros que acabaram por seguir o caminho da violência são vítimas do descaso do governo", argumentou. O motorista tem mais quatro filhos, dois homens e duas mulheres. Um deles, de 20 anos, também se envolveu com o crime no passado, levou um tiro e ficou paraplégico.

* Nome fictício a pedido do entrevistado