Título: Crise mundial deixou o país menos desigual
Autor: Caprioli, Gabriel: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2011, Economia, p. 14

Em 2009, as regiões Centro-Oeste e Nordeste ampliaram a participação no PIB, graças ao setor de serviços e ao agronegócioNotíciaGráfico

A ascensão de milhões de brasileiros à classe C, fruto da combinação de mais empregos formais com incremento da massa salarial e programas de distribuição de renda do governo, está provocando uma profunda transformação no mapa produtivo do país. Uma análise regional das contas nacionais, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a geração de riquezas, antes concentrada no eixo Sul-Sudeste do Brasil, está se descentralizando.

Entre 2008 e 2009, quando o Produto Interno Bruto (PIB) nacional recuou 0,3%, as regiões Nordeste e Centro-Oeste aumentaram a participação no bolo das riquezas em 0,4 ponto percentual cada uma, enquanto o Sudeste diminuiu a sua fatia em 0,7 ponto e a Região Sul, em 0,1 ponto. No centro do país, o principal responsável pela expansão foi o Distrito Federal, que saltou 0,2 ponto, passando a responder por 4,1% do PIB total do Brasil.

Embora o movimento ainda seja tímido e, em boa parte, tenha sido resultado da crise mundial, que abateu sobretudo os estados mais industrializados, especialistas garantem que a mudança é irreversível e continuará, mesmo que o contexto econômico externo adverso perdure. A virada no jogo, segundo Alessandra Poças, analista do IBGE , vem sendo observada desde 2005. "A perda de participação de regiões tradicionalmente industrializadas, que já vinha ocorrendo, se intensificou. Com a crise, as primeiras empresas afetadas foram as que dependiam das exportações de produtos manufaturados ou, exclusivamente, de commodities (produtos básicos com cotação internacional)", comentou. Em contrapartida, outras localidades do Brasil percorriam o caminho inverso.

À frente da expansão do Nordeste e do Centro-Oeste — que chegaram a 13,5% e 9,6% do PIB, respectivamente — está o setor de serviços e o desenvolvimento do agronegócio, segundo Alessandra. No Nordeste o segmento supermercadista ampliou a sua participação, influenciado pelo crescimento da renda e pela aproximação da indústria de alimentos de um promissor mercado consumidor, além do plantio agrícola em novas fronteiras, como na Bahia, que subiu da 7ª para a 6ª posição em tamanho de PIB estadual.

Ciclo Já no Distrito Federal, as atividades que mais contribuíram para a ascensão da 8ª para a 7ª posição no ranking brasileiro foram administração, saúde e educação públicas e seguridade social. "Além do agronegócio, as regiões Centro-Oeste e Nordeste foram turbinadas pelas políticas sociais (do governo), que ajudaram a aumentar o poder de compra e diminuíram o famigerado êxodo populacional. O ciclo de consumo tende a se prolongar", ressaltou o economista Creomar Souza, do Ibmec.

Apesar da queda na procura por commodities no mercado externo, os consumidores brasileiros garantiram até 2009 um bom desempenho ao setor agropecuário. Alessandra ressaltou que parte do crescimento em importância de regiões menos tradicionais decorreu do avanço das fronteiras agrícolas do país. "As lavouras puxam para essas regiões as indústrias de processamento, que precisam estar próximas da matéria-prima", disse. Nathan Blanche, diretor da Consultoria Tendências, lembrou que, no Centro-Oeste e no Nordeste, as atividades ligadas à produção agrícola estão entre as que mais crescem. "E não são só as plantações, mas também a agroindústria, principalmente no sul da Bahia, no Mato Grosso, no sul de Goiás e em Tocantins", destacou.

Apesar do movimento de descentralização, a produção de riquezas ainda apresenta uma alta taxa de concentração, segundo o IBGE. Em 2009, apenas oito estados detinham 78,1% do PIB. São Paulo, líder do ranking, foi responsável por um terço de tudo o que se produziu no país. "É claro que os estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste (donos de 28,1% do PIB) mudaram de patamar. O grande salto foi dado, mas não vai haver alteração de paradigmas. O Sul e o Sudeste continuarão crescendo menos, mas ainda serão os mais ricos", ponderou Blanche.

Na Região Sudeste, somente São Paulo ampliou entre 2008 e 2009 a sua participação no PIB (incremento de 0,4 ponto percentual), resultado atribuído pelo IBGE à diversificação da economia local. A economia paulista ganhou espaço em função da perda de fôlego dos estados especializados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. A queda de preço do petróleo e do gás natural em 2009 atingiu em cheio a produção dos estados fluminense e capixaba, enquanto o baixo custo do minério abateu a produção de Minas Gerais.

Entre os estados, Rondônia foi o que teve o maior crescimento do PIB em volume (7,3%) em 2009, apesar de manter uma participação baixa na formação do produto nacional, de 0,6%. No mesmo período, o Espírito Santo registrou a maior queda, de 6,7%.